domingo, 2 de maio de 2010

Eu não conhecia quem estava comigo, mais era uma pessoa linda, e nós estavamos sentados em um lugar lindo, em um gramado e logo na nossa frente existia um belo lago. Ela se virou pra mim e mesmo sem eu não reconhecer seu rosto, ela disse em um tom suave: “Daniel?”.
Levantei assustado com minha mãe chamando meu nome, nossa, eu ao menos pude conhece-la, em meu próprio sonho. Ok mãe, muito obrigado. Fui para o banheiro, escovei os dentes, arrumei meu cabelo de um jeito meio, é, sem jeito.
Coloquei minha mochila de qualquer jeito nas costas e parti como um flash pro colégio. Porque que eu tinha que estudar mesmo? Ah é, minha mãe me obrigava. Obrigado de novo mãe. Mas tudo bem, era meu último ano e acho que as coisas por lá estavam aturáveis. Tinha meus amigos e eles eram ótimas companhias para as minhas manhãs.
Estranham eu ter deixado meu jeito que modéstia à parte, eu sou simpático ok? Eu estava meio sério aquele dia, porque aquele sonho que eu tivera de noite estava me dominando um pouco a mente. Mas eu pretendia esquecer rápido aquilo. Afinal, era um sonho. Aulas, aulas e mais aulas, meu Deus, aquilo não tinha fim. Mais tinha o intervalo, e ele já me acalmavam um pouco os nervos. Eu sempre ficava com meus amigos, eles são caras bonitões, vou apresentar, o de cabelo preto arrepiado, grandão era o Felipe, o de cabelo castanho um pouco comprido é o Vinicius e o outro loirinho um pouco mais baixo era o Gustavo. E eu era aquele ali, de cabelos castanhos bem claro, com os olhos azuis que quase sempre usava uns bonés de aba reta para trás. Ah claro, já ia me esquecendo, prazer, Daniel. E se surgir interesse nos meus amigos, me liga que eu converso com eles.
As meninas do colégio insistiam em dizer que nós eramos os mais bonitos, mais eu não achava, eu tinha minha teoria de que eramos totalmente normais, tirando o fato da gente fazer algumas coisas de vez em quando que, bem, não era atitude de pessoas normais.
Depois do colégio, eu e os meninos iamos a um café ali por perto mesmo. Cala boca Daniel. Estou falando do Starbucks, é claro que todos conhecem o Starbucks. Era um lugar confortável, com pessoas bonitas e aliviava um pouco do frio que fazia naquela cidade.
Bem, o Gustavo lembra? O loiro baixinho? Então, embora todos nós tivessemos 17 anos, exceto Felipe que já tinha 18 e era repetente, e fossemos super amigos, o Gustavo era algo em especial. Nos conheciamos desde pequenos e rolava uma confiança maior. E sempre depois do café, era ele quem ia embora comigo pra casa.
Eu morava com minha mãe, perdi meu pai faz dois anos em um acidente. Nunca superei totalmente isso, mais eu decidi levar a vida. Mas minha mãe, quase não ficava em casa, eu a via antes de ir pro colégio, e depois só de noite, quase de madrugada. Ela trabalhava em uma agência de segurança que eu sou incapaz de entender. Ok, entramos em casa e ligamos o som no último, Daft Punk, as músicas são fodas. E enquanto escutavamos, ficavamos no computador, orkut, msn, twitter, acho que vocês entendem um vicio né? Gustavo aquele vagabundo ficou jogando meu game, ele sempre vencia de mim nos campeonatos que nós mesmo organizavamos em casa. Ele era totalmente viciado, e acho que vocês entendem um vicio, né?
Quando bateu oito horas da noite no relógio, Gustavo foi embora, o menino tinha compromissos, e ele sempre cumpria com pontualidade. Esse é meu garoto. Levei-o até a porta e logo que ele se foi eu caí no sofá e dormi. Dormi por volta de duas horas e acordei assustado. Eram dez e meia da noite e eu tinha que tomar banho. Subi para o meu quarto (aquelas escadas iam me matar um dia) e tomei um banho bem quente, o frio também iria me matar qualquer dia desses. Depois de longos dez minutos no banho, eu fui pro computador e lá fiquei até minha mãe chegar, às duas horas da manhã. E só pra variar, ela gritou comigo e falou pra eu ir dormir.
Sexta-feira, nada mais me alegrava tanto nos últimos dias do que essa palavra. E na escola, lá estavamos nós de novo. Os anormais do colégio. A tá, espera aí... uma menina do segundo ano me bateu por dizer isso. Ela disse que é melhor eu dizer: os perfeitos do colégio. Meu Deus, o que será que elas comem no café da manhã?
Eu estava na aula de literatura e o professor nos entregou folhetos que falava sobre o significado dos sonhos. Logo me veio a mente, aquele sonho, que minha mãe me acordou antes que eu pudesse ver quem era a menina que estava comigo. E acreditem, aquilo ficou na minha cabeça pelo resto da manhã. Mas mesmo assim, eu preferi guardar o sonho comigo, e não contei para ninguém, ao menos para Gustavo, meu melhor amigo.
No intervalo eu fui ao banheiro e quando eu tinha acabado de lavar as mãos, meu celular vibrou no bolso, e eu atendi. Perguntei várias vezes quem era mais não obtive uma resposta. E depois de uns dois minutos perguntando, eu ouvi uma voz feminina do outro lado da linha. Era um voz bonita, voz de uma moça, jovem. Era engano. Eu não gostava de passar meu celular para qualquer pessoa, principalmente para as menininhas do meu colégio, sabe como é né? Passa pra uma, que passa pra amiga, que passa pra outra e quando eu vou ver o celular não para. Efeito dominó, conhecem? Voltei para o grande refeitório do meu colégio e sentei na mesa com meus amigos. Tinha algumas meninas na mesa que eu não consegui prestar atenção em quem era. Não sei o que e nem o porque, mais alguma coisa estava me deixando confuso.
Voltei para casa, claro, depois do Starbucks né? Mas dessa vez o Gustavo ficou com os meninos, eles iam para um churrasco na casa do Felipe. Era churrasco de familia, e eu não fui porque a minha dor de cabeça não permitiu. Ok, ela não me permitiu naquele momento, porque eu sentei no meu sofá e o Felipe me ligou, insistindo muito para eu ir, e eu não resisti. Eles foram me buscar e partimos para o churrasco.
Chegando lá cumprimentei a familia dele, uns amigos etc. E depois disso ele pegou o violão para tocarmos um pouco. Beatles, Kings Of Leon, McFLY, Lady Gaga, Britney, NxZero, Cine... rolou de tudo. Todos os estilos possíveis foram tocados ali. E confesso, foi muito engraçado. Depois de muita carne, refrigerante, tentamos tomar cerveja, mais no frio é complicado, parece que não desce, todos foram embora. Vinicius estava deitado em um colchão no meio da sala da casa do Felipe e dormindo muito. Felipe, tinha ido pro banho e eu e Gustavo estavamos na sala jogando video-game. Futebol, era tudo que a gente precisava. Não não, nada de futebol com os pés, com as mãos mesmo. NÃO, não é handbol, é futebol de video-game mesmo. Vício maldito né Guh? Felipe voltou do banho e fizemos um mini campeonato nós três ali mesmo.
Eram três horas da manhã e o Vinicius babava no colchão ainda. Isso me deu uma boa idéia. Um olhar malicioso para os meninos bastou. Pasta de dente, caixas de som, a guitarra do Felipe, meu violão e pronto. Um, dois, três e... pobre Vinicius, deu um pulo que confesso que me deu muita dó. Rimos mais que hienas ganhando na loteria. Ele estava com os olhos do tamanho de duas burcas. Ficamos ali com o game, o violão fazendo barulho até os vizinhos ligarem para a policia, sim, isso aconteceu. Mas prometemos abaixar o volume. Somos meninos que cumprem a lei. Claro, cumprimos quando os policiais pedem, quando os outros pedem a gente não se importa muito. Todos dormimos ali na casa do Felipe mesmo. Acho que não estavamos em condição boa o suficiente para voltar para a casa.
Sábado, era cedo e acordamos com a combi da padaria ambulante gritando: PÃO DE QUEIJO QUENTINHO PARA O CAFÉ DA MANHÃ DA SENHORA. Me diz uma coisa? O que uma pessoa tem na cabeça e passar com uma padaria ambulante com um mega fone no capô as oito horas da manhã de um sábado? Merda. Só pode.
Acordamos com os olhos quase nada inchados. Imagina. Como de costume, pegamos os skates e partimos para o Starbucks. O inventor do capuccino do Starbucks merece um prêmio. Ficamos lá conversando sobre o campeonato da noite passada e quando paramos para perceber o clima daquele manhã, nós vimos o sol que fazia, e o calor que fazia também. Nossa, aquilo era raro na cidade, um calor como aquele não fazia a uns três anos. Balada de noite? Com certeza.
Saimos de lá e cada um foi para sua casa. Cheguei na minha e meu celular estava tocando. Novamente aquele história. A voz parecia da menina que tinha me ligado no colégio aquele dia. E novamente, era engano. Estranho, porém não dei muita bola. Tinha um computador lá em cima me esperando.
Fiquei até umas oito horas da noite lá e depois fui para o banho. Os meninos tinham me ligado avisando que iamos para uma balada. Me arrumei no traje de sempre né, calça jeans, camiseta hurley, meu tênis da drop dead e meu boné da new era verde lindo que eu amava. Foi gay isso, eu sei. Mais pare, ele é lindo mesmo.
Fui para a casa do Vinicius para encontrar os meninos e irmos de encontro com a vida boa. A vida de sábado. Primeiro fomos para um barzinho e ficamos lá com mais um galera do colégio conversando e dessa vez sim, bebendo uma cervejinha. Pô, tava calor e eu tava com saudade disso. A madrugada foi chegando e logo pensamos na baladinha que ainda esperava por nós. Sentia que ia ser boa.
A galera toda entrou em um carro de um amigo do colégio e fomos. Chegando lá a fila de entrada estava um pouco grande. A balada ia rolar com um DJ da argentina e o cara era foda. Mas como eu tenho um lindo amigo chamado Felipe que consegue entrar pelos fundos da balada por causa de seus amigos seguranças, lá estavamos nós. Sem fila, sem pressa, só curtindo. Aquele lugar estava lotado, nunca tinha visto daquele jeito. Muita menina, nossa, que saudade disso. Os meninos ficaram juntos na pista curtindo o som maluco que aquele cara fazia. Vinicius logo se enroscou com uma menina e o Gustavo também. Oloco Guh, pensei que você era meu, fiquei com ciúmes. Ta bom gente, as vezes meu lado gay aflora. Brincadeira é claro, ele é um brother pra mim.
Depois de uma hora mais ou menos por ali, eu fui até o bar comprar alguma coisa para beber. Três reais uma garrafa pequena? Isso que é precaução para não surgir bêbados na balada. Ok, não tiro a razão deles, eu sou uma das pessoas que não suporta bêbados. Paguei com dor no coração pelo preço e saí com os braços um pouco levantados para não esbarrar as bebidas em alguém. Ouvi alguém gritar meu nome, o som vinha de trás e eu olhei. Erm, era outro Daniel. Ao voltar o olhar para frente eu me deparei com um belo par de olhos castanhos claros me olhando profundamente. Aquilo me deixou um pouco tonto, mais eu voltei a andar até a pista. Destribui as cervejas aos amigos e caímos na dança de novo. Ta bom, convenci vocês que eu sou gay já? Não? Que bom, porque eu não sou. Mas sei que falo algumas coisas que ficam estranhas. Não acreditam que sou homem? então vem cá. Brincadeira.
Depois de mais ou menos dez minutos eu encontrei o belo par de olhos mais uma vez. Era de uma menina, cujo o rosto não me era estranho, porém, não me recordava, acho que ao menos a conhecia. Confesso que era umas das meninas mais bonitas que eu já havia encontrado na cidade. Deu muita vontade de falar com ela, mais ela parecia um anjo intocável e algo me impediu de fazer isso. Acabou a noite, a balada, casa, cama, dormir até o sol aparecer na janela. Não foi diferente.
Domingo e como todo bom domingo, nada pra fazer. Ir na casa do Gustavo parecia uma boa. Peguei meu skate, meu boné new vermelho (sim eu tenho coleção) e mesmo com o cabelo bagunçado e totalmente desajeitado eu fui. Chegando lá ele ainda estava dormindo, fiquei com a mãe dele vendo tv até o vagabundo se arrumar. A mãe dele me adora e eu adoro ela também. Ele chegou na sala com uma cara de Gustavo quando acorda que só ele mesmo tem. Partimos rumo ao Starbucks. Não era porque estava no fim de semana e no calor que iamos abandonar nosso querido café.
Sentamos na mesa onde segundo o garçom, era nossa. O dono quase dava milk-shake de graça pra gente. Ta bom Daniel, sonha um pouquinho.
Uns cinco metros. Essa foi a distancia que o milk-shake que tava na minha boca voou quando eu olhei pra mesa na minha frente. Era ela. O anjo intocável. Ela olhou para mim também, e de leve, sem querer eu sorri. Gustavo perguntou se eu estava bem e eu fingi que nada tinha acontecido. A cada minuto eu olhava para ela, é como se tivesse um imã nos meus olhos e nos dela. Meu Deus, eu não estava bem. Pagamos o cara do caixa do Starbucks e quando eu olhei para trás, aquela foi nossa ultima troca de olhares.
Fomos para uma praça ali pela redondeza andar de skate, tinha uma pista ali que era muito boa. O Gustavo ligou para os outros meninos e a gente ficou lá quase a tarde inteira.
Quando eu voltei para a casa, eu deitei no sofá e comecei a pensar, em tudo. Era como se um mundo passasse na minha mente, como um filme louco. Não sei. Era diferente. E eu percebi que era a primeira vez que eu tava sentindo aquilo. O porque? Pergunte para a minha cabeça.
Ignorei totalmente o fato da minha mente estar bêbada, e dormi. Nossa, era a melhor coisa do mundo. Mas, dormi por pouco tempo. A campanhia tocou e quando eu vi quem era, me assustei. Era minha mãe. O que ela fazia aquela hora em casa? Eu não sei.
- Olho inchado, roupa larga e seu tênis velho preferido, chegou do skate e caiu na cama filho?
Foi tudo que ela falou até eu dar um beijo na testa dela e falar:
- Sim mãe, boa noite.
Subi para o quarto e liguei a tv. Tava passando Cribs MTV, aquele progama me fazia ver como minha casa era pequena. E olha, eu confesso que acho minha casa perfeita. Assisti até cair no sono. No meio da noite eu acordei e senti falta da minha mãe. Sim, você leu certo o ‘menino de 17 anos’, mais é que a gente tava tão afastado que eu senti saudades.
Dormi rápido. A última coisa que eu lembro de ter escutado foi um “eu te amo filho”, e a última coisa que eu lembro de ter respondido foi “eu também”.
Acordei para ir para o colégio. Como o fim de semana tinha passado tão rápido eu também não sei. Chegando no colégio, lá estava Felipe, Vinicius e Gustavo me esperando. Sim, eu era o atrasado do bando. Vocês não tem noção do tempo que eu perco arrumando meu cabelo para ele ficar simplesmente do jeito que estava quando eu acordei.
Aulas, aulas, aulas, aulas, opa! Intervalo. Aquele era os melhores vinte minutos da minha manhã. E lá estavamos nós, sentados com os meninos do basquete e suas lideres de torcida. Juro que nunca na vida eu iria conseguir mimar tanto uma menina igual aqueles caras faziam com elas. Enfim, continuamos ali conversando e tal.
- São as drogas? - essa foi a pergunta do Gustavo depois de ter me puxado de um jeito bruto do banco do refeitório.
Eu nem o respondi. Mais ok, ok, ok... eu sei que eu andava muito pensativo para um menino cujo os hormonios... ta, vai ficar ridículo eu falar isso. Voltei para a mesa e tentei ser mais social. O que eu não faço pelo meu loiro.
Depois do intervalo, mais aulas. E para minha alegria de para a alegria de mais 98% daquele colégio, o fim da aula.
É, eu já imaginava. Você deve estar ai falando: “lá vai os garotos pro Starbucks”. Ah, te peguei neném. Fomos para um clube. Sol + Calor = Piscina.
QUE SAUDADE DISSO! Até campeonato de mergulho do trampolim eu e os moleques fizemos. Tá, campeonatos, percebeu que a gente tem uma síndrome competitiva né?
Cervejinha na mão, bermuda caindo e boné na cabeça (eu estava com meu new azul dessa vez). Tá, parei de falar dos meus filhos. Clube lotadinho, amigos do lado, pra que mais mesmo? Naquele momento eu não precisava de mais nada, até eu olhar pro lado e ver que aquilo substituia todo o ‘mais’ com um pouco mais, entende? Era ela. Essa mesmo que você está pesando. Vou descreve-la já que pude ve-la tão bem a luz do sol.
Era uma menina linda, branquinha, com olhos castanhos claros e cabelos também castanhos claro bem lisos com as pontas loiras, e um sorriso que eu determinei como o mais bonito que eu já havia visto em 17 anos de vida.
Acordei um pouco e olhei para os lados. Ufa! Ainda bem que nenhum dos meninos tinham visto minha cara de bobo.
- Que cara de idiota é essa Daniel?
Merda. Porque o trouxa do Vinicius tinha que está me olhando? Levei na brincadeira e começamos a zoar. Mais não dava para ‘zoar’ quando meus olhos se voltavam para ela. Meu anjo, que parecia cada vez mais intocável.
Primeiro eu chamo o Gustavo de meu loiro, depois eu não tenho coragem de falar com ela. Ok, não fale o que vocês estão pensando. Vou tomar uma atitude.
Me aproximei dela e milhões de frases se formaram na minha cabeça, e sabe qual delas eu escolhi? “Oi”. Parabéns Daniel.
- Olá - ela me respondeu simpática, e o sorriso que ela abriu só para me cumprimentar foi um dos fenômenos naturais mais lindos já visto.
“Tudo bem, blablabla” e enfim uma pergunta descente.
- E aí, qual o teu nome?
- Carolina.
Esse era o nome da menina. O anjo, a menina que eu sonhei sem ao menos conhecer, a do sorriso e do olhar mais bonito.
Nós ficamos conversando por volta de vinte minutos, até ela me convidar para acompanha-la até o bar do clube para beber algo. Ela era doce, ela não tinha maldade, um anjo? Não é dificil de entender. Ela era meiga e diferente de toda ou qualquer outra menina que eu já havia conhecido. Chegando no bar ela pediu uma água e eu a acompanhei. Nós conversamos bastante. E ela dizia lembrar de mim de algum lugar, mas não se lembrava de onde. Bem, eu também a conhecia, mas eu sabia de onde. Do meu sonho. Aquele sonho lembram? Então. Era ela.
Ela tinha que ir embora. O pai dela era um dos sócios mais conhecidos dali do clube, e sempre promovia umas festas malucas.
- Sexta-feira agora, vai ter uma festa, venha com os seus amigos, vai ser legal.
Isso foi um convite né? FOI MESMO UM CONVITE DAQUELA MENINA? Nossa, é claro que eu ia.
Quando eu voltei para as cadeiras de sol onde meus amigos estavam, eu ouvi um coro de ‘huuuuuuuuuuum’ bem chato, e eu simplesmente ignorei. Ta eu não ignorei totalmente. Não resisti em perguntar ao Gustavo se ele estava com ciúmes. Ele só concordou. Arrumamos nossas coisas e fomos para casa do Felipe pegar os skates e dar mais uns roles por ai. Fizemos isso até anoitecer e cada um partiu para sua casa.
Porque diabos uma semana demora tanto para passar? Só porque era segunda-feira e eu queria muito que sexta-feira chegasse logo? Tenho que me controlar, desse jeito eu vou ter uma parada cardiaca aos vinte anos de idade.
Não aconteceu absolutamente nada na minha semana, a não ser as aulas chatas e a desconcentração total sobre tudo. Sério, eu não pensava em mais nada, que não fosse Carolina. Eu apaixonado? Não estou vendo isso.
Sexta-feira e já acordei empolgado para o colégio. Encarava as aulas chatas da Senhora Antonia numa boa. Eu sorria sozinho e o Gustavo me olhava com cara de ‘para de ser’ toda hora. Não, eu não liguei. Eu estava feliz demais para ligar para os outros. Intervalo foi bom, melhores vinte minutos de todo os outros. Mais aulas e fim.
Cheguei em casa, almocei e fui para o computador. Ah, eu prometi a mim mesmo não mentir sobre nada, então eu não vou aguentar. Eu fui direto para meu guarda-roupa ver qual eu iria por para aquela noite. Pode dizer que é coisa de mulher escolher roupa cinquenta horas antes de sair. Mais se você fosse para uma festa onde Carolina estava, ah brother, você ia escolher a roupa um dia antes.
Depois de escolher a roupa eu fui para o computador, e dessa vez é verdade. Coloquei uma música de uma banda que eu tinha conhecido profundamente a alguns dias, McFLY – POV. Era música boa. Mas como não é só de musicas boas que um menino vive, eu coloquei Djavu depois e fiquei fritando no meu quarto. Menos Daniel, bem menos.
Depois de estar quase queimado de tanto fritar. Estou brincando. Depois de me animar para partir para a festa eu fui para o banho. Fiquei no minimo uns trinta minutos lá. Depois que sai fui para minha cama onde tava estendida a roupa. Era uma calça jeans bem bonita que eu tinha ganhado da minha mãe e nunca tinha usado. Uma camisa branca, um tênis também branco com uns detalhes em verde. Meu cabelo era igual o do Ty Pennington sabem? Da mesma cor e usava do mesmo estilo, meio bagunçado, arrepiado, sei lá. E tomei um segundo banho com CH For Men. Ok, parei de me descrever em detalhes.
Peguei um taxi até a casa do Felipe onde todo mundo ia se encontrar para ir. Chegando lá eu só cumprimentei os pais dele e fomos para a festa. Era bom ter pelo menos um amigo no bando que sabia dirigir.
- Nossa, essa produção toda só para mim gato?
Não Gustavo, não é SÓ para você. A Carolina entra nessa também, mas isso não te deixa de fora. Já falei que não somos gays né? Só brothers, do coração.
Chegamos no clube, estava todo iluminado com uma decoração bem legal. Entramos lá e eu confesso que meu olho não parava em busca de uma coisa. Que eu não digo para vocês o que. Achamos uns outros amigos lá e ficamos com eles numa mesa.
Eu estava bem, confortável, contente. Mas isso passou, do nada, de repente. Sabe porque? É, eu vi ela. Ela estava linda, não não, não tenho palavras para descrever como ela estava. Linda é muito pouco. Ela estava com um vestido branco acima do joelho, era tomara que caia e tinha uma faixa preta contornando a cintura dela. Tava com salto alto, uma sandalia preta. Os cabelos soltos, lisos. Meu, parei... não adianta eu falar, vocês não a viram então nunca vão saber a beleza dela, a beleza especial dela naquela noite.
Fiquei uns cinco minutos olhando para ela, até o Gustavo me chutar por de baixo da mesa. Eu ri sozinho tentando imaginar minha cara de idiota. Não adiantou muito a distração com os amigos, em questão de dois minutos eu já me peguei olhando para ela de novo. E dessa vez ela me correspondeu um olhar. Sorri para ela e ela sorriu para mim e fez um sinal com a mão de ‘espera ai um pouquinho’. Ela queria me matar?
Ela ficou cumprimentando todo mundo da festa, cada passo que ela dava vinha alguém cumprimenta-la. Não quer mais né? Era a filha do dono da festa.
Depois de vinte minutos, que para mim pareceram vinte anos, ela chegou na nossa mesa. Cumprimentou os meninos e tal, e chegou perto de mim. Eu me levantei e beijei o rosto dela, ela tava tão cheirosa que nossa, e para completar ela mandou um ‘que bom que você veio’ e de bonus um sorriso bem bonito. Ok, ela conseguiu me matar. Acabou aqui a história. Tchau gente. To brincando.
Ela ficou ali um tempo na mesa com a gente, conversando sobre alguma coisa que a beleza dela me impedia de prestar atenção. E depois de mais um tempo começou a tocar umas músicas mais animadinhas na festa. Ela pediu licença e saiu dali. Merda.
Pedimos umas bebidas e ficamos na mesa conversando. Clube do bolinha mesmo. O Gustavo vira e mexe ele me olhava. Ciúmes é foda né? Vamos combinar. Passou um tempo e eu tava com saudades da Carolina. Até que minha cabeça de cabelos bagunçados teve um idéia. “Vou ao banheiro”.
Fui caminhando bem devagar até ele, não que ele estivesse longe e eu estava cansado, é que eu queria prestar atenção em minha volta mesmo. Merda, onde ela foi parar? Sabe o que é quase? Quase mesmo? Então. Eu QUASE bati minha testa na parede. Eu estava tão viciado em procura-la que eu cheguei no banheiro sem ao menos perceber. Dei aquela olhada pro lado e ufa, ninguém viu isso. Entrei no banheiro, dei aquela arrumada no cabelo. Ta, vamos falar no popular, fiquei enrolando. Passou uns cinco minutos eu sai do banheiro e nossa, lembram do QUASE? Então, eu QUASE escorreguei quando eu vi o que tinha na minha frente. Era ela. Tinha um ‘hall’ para entrar no banheiro, coisa de rico sabe? Onde tinha uns bancos e tal. E ela estava ali, em uns desses bancos, sozinha. Respirei fundo e sentei do lado dela, e ela só percebeu a minha presença quando eu encostei meu traseiro no banco. Ela tava de cabeça baixa, por isso.
- Aconteceu algo? - eu perguntei meio tremendo, confesso.
- Não, só estou um pouco cansada - ela disse sorrindo e erguendo a cabeça.
- Que eu vi foram cinquenta - eu falei meio que olhando para cima.
- Cinquenta o que? - ela me perguntou com uma cara de bem confusa.
- Pessoas que você cumprimentou na festa.
Ela sorriu e eu também. A gente ficou conversando. Conversa para se conhecer sabe? Idade, onde mora, o que faz da vida etc.
- A gente podia sair daqui e ir para uma mesa, não que não esteja bom, mas conversar na entrada de um banheiro é meio...
Daniel, da onde você tira essas coisas? Conversa como um homem. Mais eu nem terminei de falar, ela me interrompeu e disse:
- Nada a ver, vamos para uma mesa – ela disse completando minha frase.
Ok, ainda bem que você fala coisas de homem Daniel. Sentamos em uma mesa e por mais que a gente conversasse, eu não conseguia tirar os olhos dela. Dos olhos dela. Paracia que o brilho do olhar dela refletia no meu sabe?
- Não sei se estou bem o suficiente para isso, mas... vamos lá dançar com todo mundo? - Carolina perguntou.
- Claro, vamos sim - eu respondi meio que sem jeito.
Porque eu sentia vergonha perto dela, eu não era assim. TRAGA MEU CORPO DE VOLTA SEU MONSTRO.
- E me chama de Carol.
Ela disse isso e se levantou, ela estendeu a mão para mim como se fosse me ajudar a levantar e fomos para o salão onde todo mundo tava dançando ao som de David Guetta. Meus amigos estavam lá também, e para variar, Felipe já estava aos beijos com uma menina.
- Seu amigo está beijando minha amiga - Carol falou apontando para eles e sorrindo.
Eu não pude evitar de rir também. E eu queria muito que daqui um tempo a amiga dela falasse a mesma coisa para o Felipe sobre eu e Carol. Ta, me controlei. Fomos até o meião e começamos a dançar. Ela era linda dançando. E eu tentava não passar vergonha.
Sabe, ao mesmo tempo que eu queria ficar com ela, eu não queria. CALMA GENTE, eu JURO que não sou homosexual. Mais é que eu queria ser delicado com ela. Não queria passar a impressão de que eu me aproximei somente para isso sabe?
Volta e meia a gente trocava olhares, e parecia que tudo tinha sumido a nossa volta, parecia que só existia eu e ela ali.
Era 4 e meia da manhã. Eu particularmente estava acabado. Eu tava sentado em uma mesa enquanto admirava a simpatia e doçura que a Carol se despedia de algumas pessoas que já estavam indo embora. Depois disso, eu vi ela indo em direção ao pai dela e dando um abraço bem bonito no tiozão. Sogrão. Tá.
Depois de mais uns minutos, ela veio na minha direção e se juntou a mim na mesa. Meus amigos já tinham me esquecido, estavam bebados e cada um enroscado com uma menina.
- Gostou da festa? - ela me perguntou enquanto sentava do meu lado.
- Nossa, da parabéns para o seu pai depois.
- Se faltou alguma coisa pode me falar que eu brigo com ele depois também.
Ela dizia com uma voz baixinha e tão meiga que aquilo tava me deixando louco já.
- Na verdade faltou mais eu não vou reclamar de barriga cheia - eu falei meio impulsivo, sem pensar.
- Sério? O que faltou? - ela me perguntou meio preocupada.
Ok, a merda já tava falada. Só faltou eu completar né?
- Eu acho que deveria ter te achado bem no começo da festa e conversado com você o tempo todo, na boa, você é a menina mais simpática daqui.
Ela sorriu e as bochechas dela ficaram totalmente rosas. Ah, que fofa.
- Obrigada, vou pensar em trazer pessoas mais legais da próxima vez.
Carolina falou isso e a gente caiu na risada. Meu coração se sentia bem e confortável ao lado dela.
- Eu fico confortável com você, não tenho medo de conversar, acho que a gente daria ótimos amigos - Carol falou isso e eu ao menos pude acreditar. Ela lê pensamentos?
- Eu acho que podemos, não sei ainda, mais acho que sim - eu respondi meio irônico.
E novamente a gente caiu na risada. Surgiu um silêncio entre a gente mais logo o Vinicius acabou com isso. Ele chegou na mesa onde estavamos e falou que estava da hora de irmos embora. Realmente, estava.
Fui me despedir de umas pessoas, dos meninos que tinhamos encontrado etc. E depois de Carolina.
- Gostei muito que você veio, de coração - ela disse sorridente me dando um abraço.
Antes que eu pudesse ser intoxicado pelo perfume dela eu consegui falar:
- Ah, obrigado pelo convite, e vamos marcar de fazer alguma coisa.
Ela concordou com a cabeça e mandou eu pegar meu celular, e depois de tal feito, ela me passou o telefone dela. Isso aconteceu mesmo ou é fruto da minha imaginação? Ta, aconteceu.
Eu agradeci e guardei o celular no bolso. E antes de ir eu fui dar mais um beijo nela de despedida. Ok, eu não resisti e dei um beijo bem no canto da boca dela. Ela me olhou meio assustada mais depois sorriu e esperou eu e os meninos entrarem no carro. Partimos para casa.
Cada um foi entregue na devida, e quando eu entrei na minha, eu coloquei a mão do coração, sorri e cai de costas no sofá. Fiquei encarando o teto e pensando: ‘como pode existir perfeição tamanha?’. Fiquei ali sonhando alto, até eu olhar para o sofá do lado e ver minha mãe dormindo. Cara, eu realmente estava sonhando. Eu acordei ela devagar e pedi para ela ir até o quarto. Ela foi meio se segurando nas escadas e eu continuei ali em baixo. Estava tudo bem, até eu ouvir um barulho horrível. É, era a minha barriga. Fui para cozinha e fritei umas coxinhas congeladas que minha mãe deixava para mim de tarde, para eu não morrer de fome. Sabe como é né um garoto de 17 anos todo dia sozinho.
Depois de comer, fui meio que dançando para meu quarto. Brincadeira ok? Fui normal. Hunf. Fui pro meu banheiro, tomei uma bela de uma chuveirada e escovei os dentes. Fui um pouquinho para meu computador mais logo sai e fui dormir. Foi uma noite legal, dormi super bem, ainda mais sabendo que ainda tinha sábado e domingo para aproveitar.
“A gente vai na casa do Carlão, fica pronto em dez minutos gayzão”. Essa foi a mensagem do Felipe que me acordou a uma hora da tarde. Ok. Levantei, me troquei e fiquei esperando. Confesso que até a buzina do carro gritar eu não parei de pensar na noite anterior. Na noite não, na Carol.
Partimos casa do Carlão. Carlão era um dos meninos que a gente encontrou na festa de sexta. Ele era super gente boa e até onde eu entendi, ele estava fazendo um churrasco na casa dele.
Chegando lá a gente cumprimentou mais um moleques que estavam lá e comemos uma carninha com aquela cerveja esperta. Carlão morava numa puta casa. Com piscina. Opa, piscina? É nóis. Mesmo sem ligar para a indigestão que ia causar comer e pular na piscina, lá estavamos nós, curtindo aquele sol maravilhoso. Ficamos lá quase a tarde inteira, mas ao anoitecer a gente resolveu dar um role de skate.
Meu joelho era normal e até bonito. Até aquele dia. Eu caí de skate e ele estava totalmente inchado e machucado. Cadê minha mãe para me mimar e falar que um beijinho vai curar nessas horas? Ok, tive que lidar com isso sozinho. Tomei banho e aquele foi o pior banho da minha vida. Aquele machucado estava me sacrificando cada vez que caía água sobre ele. Normal, estou me acostumando.
Saí do banho e fui assistir meu DVD do Chris Brown, assisti inteiro e depois eu coloquei um do Beatles. Beatles era uma das coisas que me fazia ouvir bandas tipo McFLY. Eu curtia. Mas não, eu preferia ouvir meu CD do Charlie Brown, é. Era o que combinava comigo naquele momento.
Fiquei ali curtindo por volta de uns dez minutos. Até eu olhar meu celular em cima da mesa de centro e ter uma idéia. Porque não mandar uma mensagem pra Carol perguntando se ela tem alguma coisa para fazer amanhã?
Para de ser idiota Daniel. Se você fizer uma pergunta, ela terá que te responder, pra isso ela teria que gastar os créditos dela com você. Ta bom, ta bom, vou ligar.
- Alô?
Meu Deus, que ‘alô’ mais bonito. Ok Daniel, foco.
- Carol? - eu perguntei e minha voz até tremeu de medo.
- Sim, quem está falando?
- Sou eu, o Daniel, tudo bem com você?
E agora? Ela vai desligar na minha cara né? Eu sabia.
- Daniel, tudo bem sim querido e você?
Ela me chamou de querido? Foi isso mesmo ou ela... ah sim. Ela vinha de uma familia descente e ser simpática era uma das melhores qualidades dela.
- Tudo ótimo. Mais hein, liguei para te perguntar se você vai fazer alguma coisa amanhã.
Ah, ta bom, é nessa hora que ela desliga né?
- Amanhã? Olha eu acho que não vou fazer nada. Porque?
Ela estava livre, meu Deus.
- Então, eu ia te chamar pra sei lá, gosta do Starbucks?
- Ta brincando né? Eu vou pra lá todo domingo - ela respondeu tão linda e fofa.
- Pô, então pode ser?
- Claro que pode, se você quiser, vem aqui em casa lá pelas duas horas da tarde?
- As duas horas ta bom pra mim.
- Então, aí de casa a gente vai a pé, porque é bem perto.
Ela me chamou para ir na casa dela e depois irmos caminhando até lá, ta bom, daqui a pouco eu vou acordar.
- Ta bom, está ótimo pra mim!
- Então até amanhã Daniel, beijos.
- Beijos linda.
Fim, e eu estou vivo. Como fui capaz de sobreviver? Ta bom, vou me comportar como um homem agora.
Liguei a tv e fiquei assistindo qualquer coisa que estava passando. Até dormir. Nem ouvi minha mãe chegar. E só acordei no outro dia, dez da manhã. Escovei meus dentes e arrumei meu cabelo. Meu cabelo estava grande, tava tipo Edward Cullen já. Mais ok, coloquei minha roupa normal, porém especial e tomei um banho de perfume.
- Vai sair cheiroso?
Eu ouvi uma voz lá de baixo.
- Mãe, você nunca me chamou assim.
Eu respondi logo que reconheci a voz da minha mãe.
- É que pelo jeito vou ter que fazer estoque de CH for Man né?
Eu ri do meu quarto. Poxa, eu não tinha passado tanto perfume assim. Mais ok, um estoque do meu perfume preferido não seria nada mal.
Desci as escadas e tomei meu café da “manhã”. Minha mãe fazia uma waffle com morango que eu não me via sem aquilo. Era a melhor coisa. Depois disso sentei no sofá com ela e comecei a ver tv, tudo bem que ela assistia uns progamas de culinária nada a ver, mais eu sentia muito a falta de passar um dia com ela.
- Vai sair? - ela me perguntou dando uma olhada de mãe ciumenta.
- Sim mãe, com uma menina bem legal que eu conheci, ela é linda.
- Pelo brilho que surgiu nos seus olhos eu sinto cheiro de nora.
Eu amava minha mãe. Ela me apoiava em quase tudo e tinha uma capacidade inexplicável de ir fundo no meu coração e me entender apenas com um olhar. Eu fiquei ali com ela até dar a hora do almoço. Nós pedimos comida japonesa e comemos igual dois cachorros famintos. E depois disso eu fui pro banheiro escovei os dentes e peguei meu skate. Não tinha outro jeito de ir até a casa da Carolina que não fosse de.
Comecei andando bem devagar, até chegar lá era uma caminho meio longo, mas estava meio cedo então eu fui respirando e tranquilo. Meu coração acelerou quando eu cheguei na quadra da casa dela. Eram umas casas enormes e bonitas pra caramba. Procurei conforme ela tinha me explicado no telefone um pouco antes de desligar. Até que eu achei. Era um sobrado lindo, branco, número 523, era essa. Toquei o interfone até ouvir:
- Quem é?
Era a voz dela. Ainda bem, se fosse os pais ou algo do tipo eu acho que sairia correndo. Brincadeira ok?
- É o Daniel.
- Ah sim, vou abrir o portão, aí você entra.
Abrir o portão não me parecia anormal até eu ver uma muralha branca se erguendo. Mais conhecido como o portão da casa dela. Era muito grande. Eu entrei meio sem jeito até olhar uma porta se abrindo um pouco mais a frente. E lá estava ela. Com um short curto branco, uma blusinha verde com um colar comprido, linda. Ela estava com uma toalha de banho secando os cabelos. E descalça.
- Desculpa, cheguei muito cedo? - eu perguntei ao perceber que ela tinha acabado de sair de banho.
- Não, imagina, é que eu acabei de sair do banho mais tudo bem, entra aqui.
Entrar? Que assustador.
- Não, não se preocupa, vá se arrumar que eu te espero aqui em baixo.
Depois que eu falei isso ela me encarou com uma cara feia e veio na minha direção. Ela me puxou pelos braços rancando um sorriso bobo do meu rosto.
- Para, seus pais vão achar ruim, não vão? - eu perguntei com muito, muito medo do pai dela.
- Meus pais sairam faz cinco minutos, foram no mercado, venha pra cá, só vou terminar de secar meu cabelo e já vamos.
Ufa. Fiquei mais tranquilo. Mas nem por isso quis invadir a casa da menina etc. Segui ela pelas longas e bonitas escadas da casa (só porque ela insistiu muito) e chegamos a um quarto.
- Senta ai na cama que eu to ali no banheiro secando o cabelo.
Me acomodei por ali e comecei a ver o quarto dela. Tenho certeza que muita menina sonha com aquilo. Era lindo e bem menininha mesmo sabe? Ela tava no banheiro do quarto e mesmo com o barulho do secador eu pude ouvi-la cantarolar uma música.
- Lady Gaga? - eu perguntei.
- Sim, gosta? - ela falou gritando para eu consiguir escuta-la.
- Acho as músicas dançantes.
Ouvi ela soltar uma risada lá do banheiro.
Continuei parado ali apenas observando. Até ela sair do banheiro. Os cabelos lindos, naturais e perfeitos. Ela começou a procurar algo em uma espécie de armário, até achar uma sandália de salto um pouco alto.
- Achou bonita?
- A sandália?
Ok Daniel, que tipo de pergunta é essa? É LOGICO que ela ta falando da sandália. Eu mal fiz essa pergunta cretina e já respondi por cima:
- Não sou um expert, mas é muito bonita.
- Então é essa - ela disse calçando o belo par de sandália.
Fiquei vendo ela ali, indo para a penteadeira e passando um lápis nos olhos. Pra que isso? Ela era tão linda. Depois passou um negocio preto do cílios que foi muito torturante ver. E enfim ela falou:
- Vamos?
- Opa, vamos.
Sair da casa dela era quase uma maratona. Eu confesso que cansei até chegar ao portão.
E começamos a caminhada. Eu estava com meu skate em baixo do braço, que idéia de ir com ele também né?
- Você anda de skate? - ela me perguntou encarando o filho que eu carregava em baixo do braço.
Sim, meus skates são meus filhos ok?
- Ando sim, eu tento pelo menos - eu falei e gargalhamos juntos.
- Acho bem interessante, mas acho que eu não levaria jeito algum.
Ela era tão meiga, ela falava com uma voz doce, que acalmava até uma criança birrenta.
- Ah Carol, eu pensava assim também, mas depois que comecei a andar eu viciei, é muito bom, da uma sensação de liberdade, não sei.
Ela apenas sorriu e continuamos caminhando. Eu não iria deixa-la puxar assunto de novo.
- Então você frequenta o Starbucks também? - perguntei passando as mãos no cabelo sem saber o que esperar dela.
- Sim, é meu lugar preferido. Você também gosta é?
- Amo, segundo o garçom, eu e meus amigos temos uma mesa vip.
Ela sorriu e então avistei o meu querido, velho e amado Starbucks. Entramos lá e sentamos em uma mesa que tinha um banco bem confortável. Eu sentei bem ao lado dela e pedimos um milk-shake. Ovo maltine? Com certeza.
Ficamos ali conversando, perguntei escola onde estudava e tudo mais. Não sei se eu já falei, mas ela tinha 17 anos também, mesma idade que eu. Hum, que bom. Depois de uns quarenta minutos ali, eu decidi fazer um convite.
- Você já foi no Folha Branca?
- Não, o que é isso? - ela me perguntou fazendo uma carinha de curiosa muito linda.
- É um parque, aqui por perto. Topa ir lá?
- Claro que topo.
Ah, eu e ela no Folha Branca, que tudo. Levantamos e eu paguei os milk-shakes. Saímos do Starbucks e fomos para o Parque. Chegando perto, ela já ficou com os olhos brilhando. Era realmente um lugar muito bonito.
- Você vem sempre aqui nessa parque? - Carol me perguntou maravilhada.
- Só em ocasiões especiais, ou com pessoas especiais - eu falei com uma pitadinha de malicia e olhando para cima como se não fosse com ela.
Ela apenas sorriu e se empolgou em ir correndo até um gramado que tinha ali. Eu a segui e decidimos sentar por ali. Eu coloquei meu skate para ela se sentar e fiquei no lado dela. Nós ficamos sentados naquele lugar lindo, em um gramado e logo na nossa frente existia um belo lago. Até eu me dar conta que esse dia já havia passado na minha vida. Deja-vú? Não, era o sonho mesmo, lembram? Que eu contei no começo. Então. Era ele.
- Daniel?
Eu ouvi a voz dela dizer e não pude acreditar. Diz, diz que não é minha mãe me acordando para ir pro colégio. Ta bom, não era. Eu olhei pra ela e tudo que eu pude dizer foi:
- Desculpa, eu me destrai.
Ela retornou de uma face meio assustada com minha distração para um olhar suave.
- Tudo bem, da para se distrair fácil em um lugar como esse.
Eu apenas concordei com a cabeça, eu não conseguia falar. Eu olhei para ela, ela estava com os olhos fechados, sentindo o vento bater e com a cabeça voltada para frente. Como se aquele momento estivesse parado, somente eu e ela ali e nada mais. Eu juntei meu corpo perto do dela, a cobri seus ombros com os meus braços. Ela manteve os olhos fechados, e eu apenas falei:
- Está tudo bem?
Desta vez ela abriu os olhos mas continuou olhando para a frente.
- Está perfeito, é um sensação boa.
Com toda delicadeza e respeito eu entrelacei nossos dedos, nossas mãos estavam juntas e firmes, parecia que nada ia nos separar ali. Com a outra mão, eu encostei no queixo dela e virei seu rosto de frente com o meu. Ficamos nos olhando de perto por alguns segundos. Paz. Era tudo que tinha dentro de mim naquele momento. Aos poucos fui chegando mais perto dela, até selar nossos lábios. Ela aprofundou sua mão no meu cabelo e ficamos ali. Sentindo a paz que reinava em nossa volta. O beijo dela era doce, meigo, era bem Carolina. Era bom. Era diferente de tudo. Depois de um tempo nós separamos nossos lábios e nos encaramos. Ela disse com um sorriso lindo no rosto:
- É diferente.
Eu fiquei sem entender e não resistir em perguntar.
- O que é diferente?
- Você - ela respondeu voltando os olhos para frente.
- O que é diferente pra você? - eu perguntei ainda sob efeito do beijo.
- Eu não sei, eu normalmente não faria isso, mais com você é diferente, parece que eu te conheço faz tempo e eu me sinto bem ao seu lado.
Eu apenas sorri, abracei ela e encostei meu queixo em seu ombro. Ficamos assim por um bom tempo.
Quando nos demos conta já era meio tarde, e eu queria deixa-la em casa. Levantamos e começamos a caminhar devagar até a casa dela. Depois de alguns passos, eu voltei a unir nossas mãos. Aquilo era realmente bom quando se tratava de Carol.
Chegamos na esquina de sua casa e isso me deixava triste. Eu queria passar cinquentas anos seguidos do lado dela.
- Foi muito bom hoje Daniel, obrigada mesmo.
Obrigada? Essa menina tava louca. Obrigado quem tinha que dizer era eu.
- A gente pode repetir qualquer dia desses - eu falei isso e consegui tirar outro sorriso bonito dela. E ainda ganhei uma resposta.
- Só se você me prometer que não vai me ver descalça e de cabelo molhado de novo.
- Eu prometo.
Nós gargalhamos depois disso, e eu a abracei. Nossos perfumes se embaralharam e eu estava completamente drogado nela. Eu a beijei mais uma vez. Suave e não muito longo, afinal, os pais dela já estavam em casa, e eu não duvido que tenha várias cameras espalhadas por ali. Acompanhei ela entrar em casa para verificar que estava tudo bem. Só então eu subi no meu skate mais feliz que hiena ganhando na megasena e parti para casa.
Cheguei e já vi que tinham cinco ligações perdidas no meu celular. Merda. Porque eu esqueci dele? Eu não andava sem ele. Adivinha de quem era? Sim, Gustavo. Liguei para meu gato de volta e ele deu um grito bem estranho.
- PORRA MOLEQUE POR ONDE VOCÊ ANDOU? ESTAMOS LOUCOS AQUI ATRÁS DE VOCÊ, DEPOIS ACHA RUIM QUE NÃO CHAMA PRO ROLE.
Ok. Eu nunca tinha visto ele assim.
- Pô cara, calma, eu tinha saído e esqueci o celular! Onde vocês estão?
- A gente tava da casa do Vinicius, mais acho que vamos embora já.
Bem, eu estava a toa. Hum, idéias.
- Então chega aqui brother, minha mãe saiu com uma amiga.
- Ah, firmeza. Já a gente chega aí.
Esse “já a gente chega ai” do Guh, foi realmente bem “já”. Questão de cinco minutos os meninos já estavam lá me chamando.
Pensa em quatro moleques totalmente a toa... eramos nós naquele momento, estava até engraçado. A possibilidade de nós sairmos correndo pelado na rua já estava quase virando prática. Mas não. Acho que seria perigoso demais. Ou não.
Ok, a gente não correu pelado, relaxa. Então o Gustavo teve a linda idéia de dormir em casa. E os outros dois não pensaram duas vezes antes de se convidarem também. Foi uma noite linda. Dormir? Para os fracos, dica.
No outro dia só faltava o Felipe vomitar de tão mal que ele estava. Beber ele quase não tinha bebido sabe? Mas tudo bem, ele era meu amigo e eu ajudei o cara a se encontrar. Aos poucos ele foi melhorando. Eu emprestei uma roupa pra ele tomar um banho porque se não eu não sei mais o que eu faria pra tentar ajuda-lo.
Enquanto ele tomava banho, eu e os meninos estavamos na cozinha preparando alguma coisa para comer. Nada, foi tudo isso que a gente encontrou. Eu decidi pegar o skate e ir no Starbucks comprar um latte de baunilha. Vicio.
Enquanto eu ia voando igual um flash pra não matar meus amigos de fome, ou de alguma coisa do gênero, eu avistei o Starbucks. Ah, como eu amava ele. Ainda mais depois dos ultimos acontecimentos. Ok, comprei o latte e percebi que isso não mataria a fome dos meninos. Passei em uma padaria ali por perto para comprar o melhor pão de queijo da cidade. Insuperável.
Cheguei em casa e quando eu abri a porta os meninos estavam rindo (lê-se jogados no chão e se contorcendo), eu não entendi até perguntar ao Guh o que é que estava acontecendo.
- Hoje é segunda-feira cara, a gente esqueceu da escola.
É nesses horas que eu agradeço pela minha mãe sair bem cedo para ir para o trabalho. Agora como quatro meninos esqueceram de ir pro colégio, vocês que tirem suas próprias conclusões. De sóbrio ali, acho que só eu mesmo, e eu fui capaz de esquecer o colégio.
Não adiantava mais, iriamos chegar no intervalo, não compensava. Ficamos ali mesmo, a fome já era um problema resolvido. Eu tinha comprado muito pão de queijo, vocês não tem noção do que é alimentar três caras marmanjos. Era dificil, dica. Depois disso, aquele campeonato esperto de game, e o filha da mãe do Gustavo ganhou de novo.
“Eu não vou voltar pro almoço, prepara algo pra você aí, e se o Gustavo for para casa com você depois do colégio, diz que mandei um beijo pro meu meninão”.
Essa foi a mensagem que eu recebi da minha mãe. Coitada, mal sabia ela que escola era uma coisa que eu tinha me esquecido naquela segunda-feira. Mas tudo bem. E quanto ao “meninão” vocês ignorem, minha mãe tratava o Gustavo igual um filho.
Depois do campeonato nós fomos dar uma volta pela cidade, ver as árvores. Mentira. Fomos só dar uma volta mesmo. Enquanto caminhava-mos o celular do Felipe tocou. Era uma menina, a amiga de Carol que ele havia ficado na festa. A menina estava pegando no pé dele, e ele fazia cada cara conversando com ela que era inevitável não rir. Felipe era mulherengo, não conseguia, não era a cara dele namorar sério. Depois de desligar, ele contou. Ela queria que ele passasse na casa dela qualquer dia para eles sairem. Felipe sabia fingir muito bem quando queria, e falou para a menina que ia ver um dia legal. Espero de todo coração que ela não se importe em esperar.
Ficamos umas horas andando pela cidade, até a fome apertar de novo. Estava na hora do almoço e era de minha responsabilidade alimentar os três. Fomos para a casa do Vinicius. Era o único que tinha uma mãe em casa no momento. Chegando lá a tia Sônia recebeu todos muito bem, e falou:
- Chegaram na hora certa meninos, acabei de fazer strogonoffe!
Só uma troca de olhares entre eu e os meninos bastou. Era tudo, tudo que a gente precisava. Não preciso dizer que comemos igual uns porcos. Mas tudo bem. Ajudamos nosso amigo Vinicius a arrumar a louça suja. Era o minimo que a gente podia fazer depois de ter devorado a panela da tia Sônia.
Depois do dia não muito normal para uma segunda-feira, eu voltei para casa, e dessa vez sozinho, e fiquei na sala como sempre, pensando na vida somente. Vida? Esse é o novo nome da Carol? Ta, eu estava pensando na Carol. Em como ela podia ser de verdade. Mas eu parei, esses pensamentos ultimamente me andam deixando com medo de mim mesmo.
Havia passado terça, quarta, quinta e sexta. Todos esses dias foram chatos, não tem nem como escrever eles. Foram péssimos, só colégio e nada mais. Provas, esse era o problema. Mas tudo bem, foi só aquela semana de provas, agora eu estava livre para aproveitar meu fim de semana. Nessa semana que tinha passado, eu não tinha falado com Carolina. E isso não me fez bem.
Como de costume, peguei meu skate e fui dar um role. Eram três horas da tarde, e sem perceber, eu juro, eu estava passando na rua de Carolina. Quando eu passei em frente a casa dela, eu vi um carro preto, na verdade era um chrysler preto, que eu invejei do capô até o porta-malas. Ela estava saindo de dentro dele com uma malinha na mão, o cabelo preso bem alto, e um óculos de sol enorme. Estava linda, só pra variar. Os pais dela estavam saindo do carro também. Ela ergueu o óculos na cabeça e me viu, eu estava de skate andando um pouco devagar. Sem perceber ela sorriu e eu sorri pra ela de volta. De repente ela fechou o lindo sorriso e encarou o pai dela, depois disso me encarou de novo e fez um sinal com a mão. Que se eu entendi bem foi um dizendo ‘espere um pouco’ ou ‘volte depois’.
Eu parei com o skate em uma loja que tinha ali por perto. Era uma loja de skatista. Fiquei encarando a vitrine esperando algum sinal de área limpa vindo da casa dela. Eu estava babando em uns shapes ali até sentir uma voz doce atrás de mim:
- Me desculpa Daniel.
Era da Carol. Eu não entendi o “desculpa” mas me virei para ela e perguntei:
- Desculpa do que?
- Eu fui viajar essa semana e não consegui te avisar, meu pai não me deixava em paz e eu não confio muito em contar para ele sobre nós ainda.
“Sobre nós”? foi isso que eu escutei? Awn, que linda.
- Não Carol, imagina, está tudo bem?
- Sim, e você?
- Tirando a dor de ver esses shapes aqui na vitrine me chamando, eu estou bem.
Ela riu e eu não pude evitar e dizer:
- A saudade também não me fez muito bem essa semana.
Ela olhou carinhosa para mim e não disse nada. Mas aquele olhar foi muito lindo. Ah Carol, porque você não me dá um tiro no coração logo eim? Eu não me controlei mais uma vez e disse:
- Podemos matar essa saudade agora?
Ela me matou de novo sorrindo e dando um olhar que... Parei de tentar explicar, era muito lindo para descrever em palavras. Ela apenas concordou com a cabeça.
Andamos um pouco mais para longe da casa dela e enquanto caminhava-mos eu segurei no braço dela, com delicadeza é claro, e a virei para mim. A única coisa que eu consegui dizer antes de beija-la foi:
- Me desculpa, mas eu estou precisando disso.
Acho que poderiamos entrar no Guiness depois daquele beijo, como o mais longo. Brincadeira. Guiness não, mais que a gente ficou um bom tempo se beijando, isso sim. Já disse que ela tem o melhor beijo da face da terra? Se não, me desculpe, eu esqueci de um detalhe bem importante.
Depois disso, ela uniu nossas mãos e continuamos andando. Até achar um praça bem legal ali pela região. Sentamos em um banco e ela começou a encarar umas crianças que brincavam ali no parquinho que havia na nossa frente.
- Gosta de crianças? - eu perguntei.
Ela ficou sem resposta. Ela me encarou e vi que os olhos dela estavam com lágrimas. Meu coração apertou ao ver aquilo, então eu perguntei:
- Está tudo bem?
Ela balançou a cabeça positivamente e meio com vergonha ela me abraçou e afundou o rosto no meu ombro. Eu pousei aos mãos sobre seu cabelo e a abracei bem forte, eu tinha um extinto em querer protege-la pra sempre.
Depois de uns cinco minutos ela voltou a sua posição e me pediu desculpa.
- É que eu tinha uma irmã mais velha, nós eramos bem unidas quando crianças, ela completou 8 anos, eu tinha apenas 6, nós fomos para uma festinha, e no meio do caminho meu pai bateu o carro. Ela morreu na hora do acidente, enquanto eu meu pai e minha mãe saimos ilesos.
Eu senti muito por ela. E disse que a entendia. Ela me olhou com dúvida e eu só consegui dizer a ela:
- Eu também perdi alguém muito especial. Inclusive foi em um acidente de carro também. Meu pai. Mas eu quero que você esqueça agora, eu tenho certeza que eles são nossos anjinhos e estão nos protegendo do mal.
Ela sorriu e me agradeceu. E ainda completou:
- Você me passa segurança sabia?
Eu a respondi em forma de abraço, era tudo que eu conseguia fazer naquele momento. E ficamos ali abraçados por um bom tempo.
- Teu coração está batendo forte! - Carolina disse se afastando de mim e encarando meus olhos.
- Ele tem a péssima mania de fazer isso quando eu estou com você.
Ela sorriu daquele jeito encantador e voltamos a nos abraçar.
- Dan, hoje tem outra festa, mas essa não é meu pai que está promovendo. Acho que a gente podia ir, e ficar mais a vontade né.
A Carol me chamou de Dan? Awn que fofa.
- Ah, vai ser no clube? - eu perguntei.
- Não, e viu, não pense que eu vou esconder, ou que eu escondo sempre esses tipos de coisas para o meu pai ok? Eu só preciso de um tempo pra fazer a cabeça dele.
Ah meu! Ela falava como se a gente estivesse namorando. Namorar com ela era uma coisa que eu queria, mais ela NUNCA iria aceitar. Nunca.
- E ai, vamos? Vai ser lá no flashdance, vai ser legal - ela falou parecendo bem empolgada.
- Claro que vamos.
Ela sorriu pra mim e eu retornei. Puxei-a para mais perto de mim e comecei a acariciar o rosto dela. Logo depois eu a puxei para um beijo. Nossos lábios se encostaram lentamente, eu mordi o lábio inferior dela bem suave e a beijei mais. Eu queria aquilo para sempre.
Depois do beijo, Carolina começou a encarar uma árvore que ficava ali no parque.
- Achou bonita? - eu perguntei.
- Sim, olhe aquelas flores que lindas.
Sem mesmo responde-la eu levantei a caminhei em direção a árvore, ela começou a rir.
- Não saia dai Carol - eu gritei para ela, rindo do que eu mesmo estava prestes a fazer.
Chegando na árvore, eu me apoiei em uns galhos e quando olhei para trás, eu vi Carol com as mãos na boca e rindo, provavelmente de mim. Antes que eu pudesse cair, eu consegui puxar um ramo onde de bonus, veio quatro flores vermelhas.
- Para você - eu disse me segurando para não rir e esticando as flores até ela.
- Você não fez isso - Carolina falava até com uma certa dificuldade diante das gargalhadas que ela havia soltado.
- Ah você não gostou? Tudo bem, eu vou lá devolver, espera aí.
Nós gargalhamos juntos e ela pegou as flores da minha mão, e como agradecimento me deu um selinho. E eu retribui como um ‘de nada’.
Carol falou que estava na hora de ir, eu a entendia, e então fui acompanha-la até em casa.
Antes que entrassemos na rua de sua casa, eu decidi me despedir dela. Mais um beijo como aqueles que eu pouco gostava. Eu segurei o rosto dela com a mão e falei:
- Se cuida, e até de noite.
- Até, e se cuida também Dan.
Depositei um beijo em seu pescoço, e acompanhei-a com o olhar até ter certeza de que havia chegado segura em casa.
Cheguei na minha casa e minha mãe estava lá.
- Não tem mais casa não dona Sandra? - eu falei brincando com ela.
Ficamos ali na sala por um tempo e depois liguei para os meninos para avisar da festa.
- Ela vai estar lá? - Felipe me perguntou no telefone preocupado com a presença da amiga da Carol na festa. Ela estava pegando no pé dele nos ultimos dias.
- Eu não sei cara, provavelmete - eu respondi segurando para não rir.
- Aquela marica do Vinicius vai se vestir de mulher e fingir que é minha namorada.
Eu não pude evitar de rir desse comentário/idéia do Felipe.
- Ta bom irmão, boa sorte.
Desliguei e fui para o banho, e depois do banho, se arrumar. Calça jeans, tênis skatista branco da drop, camisa meio socialzinha sabe? Aquelas que tem uns botões? Então, era branca também. Cabelo no estilo Edward Cullen (assim como tinham apelidado meu cabelo na escola), uma dose de perfume e estava pronto.
BlaBlaBla e estavamos na festa. O lugar, como sempre, estava bem cheio, e Carolina já estava lá na frente com algumas amigas. A do Felipe não estava lá, sorte a dele.
Cumprimentei suas amigas e depois comprimentei ela. Segurei por dois segundos a mão dela, e dei um selinho de um segundo. Medo.
Ficamos ali na frente por mais um tempo, esperando a amiga dela chegar. Ah! Eu não descrevi como ela estava né? Pois bem... estava com uma calça jeans escura bem justa, uma blusinha branca com um babado sei lá, em volta no pescoço, cabelos lisos e uma sandália rosa bem chamativa. Linda! Sem mais.
Enquanto esperávamos, eu segurava a mão dela bem de leve, e conversávamos com todos que estavam ali. A amiga dela chegou em poucos minutos e então entramos na festa. O som estava estourando lá dentro. Bom demais.
Dançamos, nos divertimos, e estava muito legal, por que estava todos os amigos juntos sabe? Ficamos ali, curtindo ao som de um DJ muito fera.
Eu não preciso dizer que Carolina dançava lindamente né? Eu colei meu corpo no dela, não que eu quisesse, mas é porque o local estava realmente muito cheio, e assim ficamos, até cansar e ir pro bar ali na balada mesmo beber alguma coisa. Pedi uma cerveja pra mim e um citrus pra ela. Beijei ela novamente por pura necessidade e voltamos para a pista. Foi lá que ficamos pro resto da noite.
Eram quatro e meia da manhã, e mais uma vez, de sóbrio ali, só eu e Carolina mesmo. Estavamos no centro da cidade sem nada para fazer. Os meninos e suas respectivas garotas (sim, cada um se enroscou com uma, coisa de uma noite somente, relaxem gatinhas) e decidiram ir para um bar butique ali por perto.
Quando eles convidaram eu e Carol, ela lançou um olhar para mim de quem não estava muito a fim, eu agradeci porém recusei o convite. Ter um tempo só nosso na noite ia ser bom também né? Todos foram para o bar, e eu fiquei ali com ela. Como já era de madrugada, fazia frio, e um vento bem gelado estava batendo em nós.
- Argh frio - Carol resmungou se encolhendo toda.
Eu achei aquilo tão fofinho, e então a puxei para perto de mim, e a cobri com meu próprio corpo.
- Posso te levar para um lugar? - eu perguntei já caminhando com ela na minha frente. Eu estava quase tropeçando, mas tudo bem.
- A última vez que você me perguntou isso, eu conheci o lugar mais perfeito da cidade.
- Acho que isso foi um sim.
Ela balançou a cabeça positivamente e então caminhamos até o local desejado por mim.
- Um estacionamento a céu aberto? - ela perguntou meio decepcionada dessa vez.
- Sim, mas calma.
Caminhei até um corredor que ficava atrás do estacionamento, atrás da casa onde pegam os tickets sabe? E lá estava um gramado bem legal, com tipo um morro.
Eu sentei ali e pedi para Carol se sentar ao meu lado.
- Fecha os olhos - eu pedi para ela.
Depois de ve-la fazer tal feito, eu joguei nossos corpos para trás, ficando deitados ali no gramado.
- Agora abre - eu pedi novamente.
- Meu Deus Dan, é lindo!
O céu estava especialmente estrelado aquela noite, como se ela tivesse reservado todas as estrelas para aquele momento.
Eu me apoiei em meu próprio cotovelo e se virei para ela. Carol puxou meu rosto para perto e nos beijamos. O tempo, as estrelas, o momento... tudo estava a nosso favor.
- Se um dia, a gente não puder viver esse momento novamente, ou se alguma coisa impedir de estarmos juntos, eu quero que você olhe para as estrelas, desse jeito que está agora, porque vai existir uma grande possibilidade de estarmos olhando para a mesma, e acho que isso já me faria feliz.
Eu falei sem perceber o quanto estava sendo profundo. Ela sorriu e me deu outro beijo, como se palavras não fossem sair para aquele momento.
Nós ficamos ali por volta de uma hora até irmos embora. A melhor noite da minha vida? Com certeza.
Amanheceu e eu acordei com o celular despertando, o que ele estava fazendo? Não tinha aula. Meu olho tava inchado e eu estava morto. Eu só virei para o outro lado e dormi mais umas três horas.
Quando eu acordei, DE VERDADE, eu fui para cozinha e preparei um café da manhã maluco lá e mandei pro estomago. Sábado, o que fazer?
- Vinicius, qual o role pra hoje meu irmãozinho? - eu perguntei com a certeza de que eu havia acabado de acordar meu amigo com um telefonema.
- Porra Daniel, você não tem o que fazer cara?
Ok, eu realmente acordei ele.
- Então, qual vai ser hoje? - eu voltei a perguntar.
- Ah, os moleques do colégio estão vendo de ir naquela praia, passar o sábado e domingo lá.
- Faz assim Vinicius, se arruma ai e vem aqui pra casa pra gente resolver.
- Demoro, to indo moleque.
Depois de um tempo, o Vinicius, o Guh e o Felipe estavam lá em casa. Eles não sabiam andar separados não? Não.
- Liga pro Rick e vê se vai rolar a praia mesmo, a gente divide o preço do hotel - Felipe falou entusiamado com o fim de semana.
- CAAAAAAAAAAAAAAAAAAARA, o que a gente ta fazendo? - Gustavo soltou um grito desse jeito bem anormal.
- Que foi cara? - eu perguntei meio assustado.
- Vocês não tão ligado cara, segunda, terça e quarta não tem aula - ele respodeu rindo.
- Como assim? Você ta brincando né?
É, era tudo que a gente precisava para curtir a praia mais ainda.
Ligamos para umas duzentas pessoas convidando para passar com a gente o feriado. E quase todas toparam. Isso é bom, fim de semana cheio e com os amigos. E ah, não, eu não esqueci da Carol, eu ia chamar ela, relaxa.
- Alô, Carol?
- Sim, Daniel?
- É eu sim linda, então posso falar com você agora?
- Sim, o que você quer?
- Então, eu e mais uma galera estavamos combinando de ir pra praia nesse feriadão, aí estou te convidando, e convidando suas amigas e amigos também.
- Sério? Nossa, você acabou de salvar meu feriado.
Eu salvei o feriado dela? Awn que lindo isso.
- Porque? - eu perguntei meio que sem jeito, confesso.
- Ah, eu não tinha pra fazer, meus pais vão viajar e eu não queria ir com eles.
- Pô linda, então vamos.
- Será que a gente poderia conversar em algum lugar e tal? - ela falou e eu já a interrompi.
- Quer que eu vá ai te buscar? a gente vai pra algum lugar.
- Eu posso ir na sua casa?
Ela não fez essa pergunta né?
- Claro que pode, se você quiser eu... - ela que me interrompeu desta vez.
- Não se preocupa Dan, só me fala certinho aonde é que já eu estou aí.
Nossa, era hoje que eu morria. Depois de explicar tudo pra ela, eu já comecei a ficar nervoso por esperar ela. Os meninos ainda estavam lá em casa, mas isso não importava. Eu só precisava ve-la.
Ding dong. Ah, ela chegou. E agora? Ir atender ela é uma boa Daniel.
- Oi Dan, tudo bem? - ela falou tão simpática e linda, só pra variar.
- Oi Carol, entra, fica a vontade - eu retribui os cumprimentos dando um selinho nela.
Ela entrou e cumprimentou os meninos que estavam sentados (lê-se: jogados) na minha sala, que estava limpa.
- Você também vai na praia com a galera? - Felipe perguntou pra Carol.
- Então, isso que eu vim ver.
Eu peguei no braço dela e levei-a para a cozinha e puxei uma cadeira para ela se sentar.
- E aí, você vai querer ir mesmo? - eu perguntei com um pouco de medo de ouvir uma resposta que eu pudesse não gostar, tipo um ‘não’.
- Quero sim, e acho que vou! Claro, só se isso não for te encomodar e...
O que ela tava falando? Me encomodar? Jesus.
- Para Carol, nossa, eu quero muito que você vá, mais quero que os seus pais saibam e tal.
- Não, claro, eu vou falar com eles, mas é quase certeza que eles deixam.
- Então ta bom! Obrigado viu? Vai ser bom passar o feriado com você - eu falei e acho que nessas horas minhas bochechas me entregaram na timidez.
- Awn, também acho que vai ser bom Daniel, mesmo mesmo.
Ah, morri, adeus.
Depois que nós conversamos ali por mais um tempo, os meninos foram ali na cozinha e falaram que estavam indo embora. Eu ia ficar ali em casa, sozinho com a Carol. Porque só para não perder o costume, minha mãe não estava em casa. Quando eles foram embora, eu chamei a Carol pra ficar ali na sala.
- O que você gosta de assistir? - eu perguntei enquanto trocava sem destino nenhum o canal da tv.
- Qualquer coisa, gosto de desenhos - Carol falou e logo soltou uma risada bem bonita.
- Te confesso que eu assisto também, só quando ninguém ta olhando.
Nós gargalhamos e ela encostou a cabeça no meu ombro. Com uma de minhas mãos eu abracei o rosto dela, e comecei a acariciar seus cabelos.
Depois de alguns minutos, pra ser exato, depois de uns quarenta minutos ali com ela, eu vejo a menina mais bonita do mundo dormindo no meu ombro. Como alguém conseguia ser tão bonita até dormindo? Só a Carol. Eu a deixei ali, estava muito bom pra mim, e do jeito que ela dormia profundo, estava muito bom pra ela também. Ficamos ali por volta de uns vinte minutos ou mais, até ela acordar e olhar pra mim com a cara um pouco assustada e falar:
- Nossa, que horas são? Eu dormi aqui, desculpa.
- Relaxa, relaxa, ta cedo! E para de se desculpar por tudo - eu falei com um sorriso no rosto e vendo ela me retornar com um outro.
- Não pensei que um dia eu acharia um ombro bem melhor que a minha cama - Carol falou e eu nem pude acreditar naquilo. Ok, eu tenho que me acostumar.
- Falando em cama, acho que eu deveria ir pro quarto arrumar minha mala pro feriado, você me ajuda?
Ela sorriu e logo se levantou pra subirmos até lá e fazer as malas. Chegando no quarto, eu retornei aquela vez que eu fui na casa dela e a vi terminando de se arrumar. Ela se sentou na minha cama enquanto eu pegava uma mochila que ficava na parte de cima do guarda-roupa.
- Ok, vamos lá, o que eu começo? - eu perguntei parando de frente a ela com a mochila em mãos.
- Já que é de praia que estamos falando, acho que bermudas seria uma boa.
- Boa, vou pegar algumas!
Escolhi as melhores que eu tinha, e perguntei a opinião dela para mais da metade. E ela achou todas muito bonitas, ou fingiu. Ela se levantou e começou a me ajudar no assunto.
- Camisetas agora! - ela falou como se estivesse mandando.
- Ok, tenho essas - ela olhou um pouco espantada depois que eu falei isso e abri o guarda-roupa na ala das camisas. Realmente, eram muitas.
- Nossa, você tem mais roupa do que eu - ela falou e nós gargalhamos juntos.
Logo depois de escolher umas camisas, eu abri minha gaveta de bonés. Não foi muito diferente a reação dela, mas nisso eu tenho que concordar, eu era totalmente viciado nos meus new era aba reta. Lindos, meus filhotes.
Eu peguei um dos meus preferidos, e coloquei na cabeça dela, ela fez uma pose brincando com a situação e eu a puxei pra perto de mim. Dei um beijo nela e continuamos arrumando as coisas para a aventura do feriadão.
A mochila estava quase estourando de tão cheia, e ainda faltava aquelas paradinhas pra dormir, ou toalhas por exemplo. Mas tudo bem, isso eu resolvia depois.
- Dan, eu vou pra casa falar com meus pais certinho, e se tudo der certo eu já arrumo minhas coisas também.
- Ta bom amor, qualquer coisa me liga.
O QUEEEEEEEEEEEEEE? Daniel... você acabou de chamar ela de amor. Porque você não estava olhando na cara dela pra ver qual foi a reação dela com isso? Meu Deus, eu estou possuído.
Levei ela até lá em baixo e fiquei um pouco aliviado. Acho que ela não percebeu o que eu tinha acabado de falar. Ufa!
- Não quer que eu te leve até em casa mesmo? Eu perguntei mais uma vez.
- Não precisa se preocupar não... AMOR!
Ênfase desgraçada. Eu não pude evitar de sorrir, e ela fez o mesmo. Ela tinha escutado mas ela não ligou, até brincou com isso, olhe só.
- Pô...
Foi tudo o que eu disse, puxando meu cabelo pra trás com a mão. Um gesto típico do Daniel tímido? Com certeza!
- Tudo bem, foi bonitinho - ela disse me abrançando.
Awn, vou agradecer eternamente por ter ela. Eu a beijei e logo depois eu abri a boca para falar algo, mas eu não sei, eu não consegui. Deixei por isso mesmo.
Entrei em casa e fui pro quarto, deitei na cama um pouco pra me esticar as costas, porque tudo indicava que iamos viajar em várias pessoas, em um carro não muito grande. Minhas costas, pernas etc, tinham que estar preparadas. Entende né.
Piririm piririm piririm alguém ligou pra mim. Ta bom, já parei.
- Alô?
- Dan?
- Oi, e aí?
- Então, meus pais deixaram!
- Sério? Ah, vou ai dar um beijo neles, posso?
- Besta! Vou arrumar minhas coisas agora!
- Ok, se precisar me liga, eu te ajudo.
- Claro, claro. Beijos.
- Beijos.
Faltava algumas horas. Pra que? Pro melhor feriado da minha vida. É.
- Cara, põe minha mala na frente, nem da nada.
- Deixa no porta-mala velho.
Era um clima tenso. Todo mundo gritando pouco ansiosos para o feriado. Mas isso a gente teve que controlar, então estavamos só esperando a galera toda que ia chegar em frente de casa. Eu, Felipe, Vinicius, Gustavo e Carol iamos no nosso carro, juntos. O resto que se virava. As amigas de Carol não puderam ir, e eu sinto que Felipe agradeceu mentalmente por isso. Eu falo sério quando digo que ele é um arrasa corações.
Felipe foi dirigindo, era o único que tinha autorização para isso. O Vinicius foi no carona, e eu o Gustavo e a Carol foi atrás. Não preciso nem dizer o por que do Gustavo ter ido com a gente no banco traseiro né? Que bom.
- Meninos, eu vou dormir a viajem inteira - Carol disse já se acomodando no meu ombro.
- Se você não roncar a gente não liga - disse o Vinicius rancando uma gargalhada de todo mundo que estava no carro, inclusive dela.
- Vou tentar Vinicius - ela ainda retrucou nos fazendo rir novamente.
Eram três horas até a praia. Duas horas e meia se a gente não enrolasse parando para comer e essas coisas todas.
- Sinto fome - Felipe resmungou.
- AAAAAAAAAAAAAAAh Felipe, quero chegar logo cara - o resto do carro gritou.
- Pô velho, só uma paradinha vai.
Ok, quando o Felipe quer alguma coisa, é bom não contrariar. Paramos logo em um restaurante ali na estrada. Saímos todos do carro e nos dirigimos até a entrada do lugar. Querendo ou não, todo mundo olhava para o grupo de adolecentes ali, parecendo vagabundos, com roupas largas e cabelos engraçados. Calma gente, estamos em busca de um feriado perfeito na praia.
- O que você vai querer Carol? - eu perguntei abraçando-a carinhosamente.
- Ai Dan, pode comer aí, eu não vou pedir nada porque depois eu passo mal na viajem - ela disse com uma carinha bem cansada e enjoativa.
Eu não insisti muito e pedi meu prato junto com os meninos. Cachorros de rua, era o que a gente parecia comendo aquilo que eu nem sabia o que era.
Ficamos ali depois de comer esperando a comida descer um pouco. Creio que com o movimento do carro, a gente colocaria toda aquela comida para fora em menos de um segundo. As vezes acho que devo seguir os exemplos de Carolina. É.
- Todos a bordo? - Felipe gritou confirmando se todos já estavam no carro.
- Acho que sim - eu respondi.
- Então vamos nessa galerinha do mal.
Partimos viajem e dessa vez, sem paradas por favor.
Os meninos ouviam música e conversavam um com o outro, mas eu só conseguia admirar a beleza da Carol. Ela tava encostada no meu ombro, com um coque no cabelo, um moletom cinza largo e meias e juro, ela continuava linda. Enquanto eu olhava para ela, ela abriu os olhos bem lentamente e começou a me encarar. Sem perceber a gente começou uma brincadeira de se encarar sem poder rir ou sorrir. Ficamos se olhando por um minuto mais ou menos, até eu não conseguir segurar um sorriso bem idiota. Ela começou a rir e eu não pude evitar de dar um selinho nela.
- Você está bem? Enjoada alguma coisa assim? - eu perguntei meio preocupado com ela.
- Estamos viajando eu não estou grávida - ela disse logo soltando uma gargalhada e passando a mão no meu cabelo em um gesto de desculpas.
- Engraçadinha - disse beliscando seu nariz com meus dedos.
Ela voltou a encostar em mim e dormir mais uma vez. E eu também encostei no carro e tirei um chochilo.
- Acorda gente, chegamos.
Eu abri os olhos com esse grito do Gustavo e só então percebi o quanto eu tinha dormido.
- Olha quem resolveu acordar - reconheci a voz de Carol dizer mesmo um pouco tonto ainda, mas depois de um selinho dela eu me recuperei.
- O que vocês fizeram com Carol enquanto dormia? - eu perguntei para os meninos em tom de brincadeira, é claro.
- Nada, a gente tinha medo que você acordasse - ouvi Vinicius dizer com uma certa voz de decepção, por brincadeira, é claro.
Até eu acordar totalmente eu percebi que estavamos no hall de um hotel. Acho que era onde iamos ficar. Acho.
Andamos até o elevador com as mochilas e bolsas nas mãos e subimos para o andar onde iamos dormir. Era todos no mesmo quarto. Econômia adolecente, já ouviu falar? Pois então. Chegamos na porta e avistamos um belo quarto, tinha bastante espaço até. Cada um foi se acomodando nas camas de solteiro, jogando as mochilas em cima e poucos ansiosos para ir para praia. E foi isso que nós fizemos depois do momento (des)organização. Fomos até a praia.
Quando a gente pisou na areia, sentimos até uma brisa melhor, uma sensação muito boa. Fazia tempo até que eu não ia para a praia, e quando eu ia, não era com meus amigos.
- Cara, olha essa água que linda, que saudade - disse o Gustavo com um certo brilho nos olhos.
- Ta bom Guh, isso foi bem gay - Vinicius reclamou rancando uma gargalhada de todo mundo, e vendo a cara de não sei o que do Gustavo.
Meus amigos correram para mais perto do mar, e eu fiquei ali com Carol. O vento estava bem forte, e eu segurei a mão dela enquanto o cabelo voava e chegava a dar um certo frio e arrepio. Ela pegou a minha mão e colocou no bolso do moletom junto com a dela. E eu a abracei com a outra mão. Era tudo que eu queria, ficar ali com ela naquele momento tão bom.
Depois de um tempo ali com ela, nós fomos em direção ao mar também, onde os meninos estavam parecendo criança, chutando água um no outro, parecia que era a primeira vez que eles estavam vendo o mar, e confesso que senti vergonha quando eu percebi que metade da praia olhava para aquele momento infantil. Mereço esses amigos, gays.
Esquece sobre o que eu falei. Menos de um minuto e eu e Carolina já estavamos praticamente encharcados. Ah cara, era muito bom a praia ok?
A gente ficou ali quase a tarde inteira, mais pro fim da tarde que nós fomos até uma lanchonete ali por perto mesmo comer alguma coisa.
- Nossa, eu nem nadei e já estava com essa fome toda, imagina amanhã quando eu me jogar naquele mar e ficar nadando feliz igual um golfinho.
- Depois eu que sou gay né Vinicius?
Ok, isso fazia todos rirem igual idiota, e como sempre, todo mundo olhava para nós. Nem ligo, estou curtindo meu feriado e estou com a Carol, não importa o que você pensa.
- Galera, vamos pra casa dormir, amanhã a gente acorda bem cedo e já monta a barraca na praia e fica a tarde inteira fritando no sol maravilhoso - disse Felipe todo animado.
Eu olhei para Carol e ela estava com uma cara meio assustada depois dessa fala do Felipe. Mas antes que eu pudesse dizer alguma coisa, o Gustavo já falou por mim:
- Calma Carol, ‘montar a barraca’ é só um jeito de falar, a gente não vai fazer aquela farofada toda ok?
- Tudo bem, faça o que quiserem, eu não ligo pra essas coisas não.
Awn, é por esses motivos que eu sou apaixonado por ela.
Nós fomos caminhando até o hotel, e como era umas nove horas da noite já fazia aquele friozinho. Eu coloquei Carol na minha frente numa tentativa de proteje-la contra o frio. E assim foi até chegarmos no quarto.
- Ae galera, agora cada um arruma seu canto e vamos tentar ser organizados.
Ta bom Vinicius, conta outra.
- Cala boca seu merda, a única pessoa que vai organizada aqui é a Carol, certeza - falou Felipe um pouco revoltado, e logo ouvindo Carol responder.
- Acho que vou seguir o exemplo de vocês, não sou muito organizada.
E depois disso ele ainda retrucou fazendo todo mundo gargalhar:
- Ah é verdade, ela tem uma empregada que faz tudo pra ela.
Carolina caminhou até Felipe, apertou as bochechas dele e finalizou a conversa.
- Eu não sou dessas ok?
HAHA, perdeu Felipe.
Todo mundo se arrumou no seu canto, claro, nada organizado, mas cada um do seu jeito. Eu olhei para a cama do Gustavo e o menino já estava roncando. Dormir é o método que ele usa pra não ficar ansioso. Eu fui até Carolina e disse:
- Ei, não se preocupa de dormir aqui com a gente né? Fica tranquila.
- Relaxa Dan, eu vou dormir naquele cama ali - ela respondeu apontando para uma cama que tinha uma certa divisão. Ela era menina, precisava de mais privacidade, ainda mais no meio de três moleques.
Ficou assim então, depois da fila para escovar os dentes, todo mundo estava em seus devidos postos e bem fofos dormindo.
- ACORDA AMIGUINHOS - Vinicius gritou acordando todo mundo! Acho que até as pessoas do andar de baixo acordou. Obrigado, você é um amor.
Ele abriu a janela e uns raios de sol (bem fortes para seis da manhã) entraram no quarto deixando todo mundo praticamente cego.
- Bom dia Carolzinha - eu fui até a cama dela dar bom dia.
- Ah, bom dia meu anjo - ela respondeu bocejando morrendo de sono, tadinha.
ESPERA, ‘meu anjo’? Awn meu Deus, que linda. Então, fila para escovar os dentes? Com certeza.
Depois que todos escovaram os dentes, começamos a arrumar uma bolsa com todas aquelas coisas necessárias para o mar. Protetor, bronzeador (calma, esse era pra Carol), toalhas, bermuda e blablabla. Partiu praia.
- Faz um favor Daniel? - Gustavo perguntou para mim.
- O que?
- Segura a mochila aqui.
Eu segurei e adivinha o que aquele idiota fez? Sim, saiu correndo pro mar. Quando a gente parou de rir da atitude ele, ele já estava lá, jogando água pra cima. Bestão mesmo.
Nós, normais, fomos a procura de um lugar bom ali na areia para deixar nossas coisas e tal. Estava cheia a praia até. Era feriado de sol, as pessoas normalmente vão para a praia.
Enquanto eu arrumava as coisas, Felipe e Vinicius me deixaram ali com Carol e foram correndo pro mar também.
- Você não vai entrar? - ela perguntou.
- Vou, você não vai?
- Depois eu vou, quero tomar um pouco de sol.
- Ta bom, você está com medo sua feia.
- Eu? A tá Daniel - ela falou com uma cara de ‘me engana que eu gosto’.
Eu me entreti olhando os meninos lá e eu só ouvi a voz de Carol dizer:
- Vai lá com eles bocó, vou ficar aqui tomando um sol.
Ela é tão fofa. Ok, vou me controlar pra parar de falar isso. Então eu sai correndo pro mar também. De bermuda e feliz da vida. Até eu ouvi Carol gritar meu nome, e quando eu olhei pra trás, preocupado, ela disse:
- Tira o boné.
Eu sou muito idiota, se eu perdesse um dos meus new era para o oceano, eu iria me matar. Brincadeira. Parti para o mar com meus amigos e foi uma sensação muito boa, fazia tempo que eu não passava um feriado ou férias na praia, tinha me esquecido de como é bom. Não estava totalmente calor, mais o sol era suficiente para queimar e aquecer. Enquanto eu estava no mar curtindo eu só ficava de olho em Carol. Ela estava tão linda, parecia uma rainha tomando sol com um óculos de sol enorme no rosto, o que só conseguia deixar ela mais perfeita ainda. Quando você perde totalmente a noção, uma onda gigante te acerta de costas e quase te afoga. É, ou Carol me matava de um jeito, ou de outro.
Enquanto eu nadava lá de boa, meus amigos começaram a me olhar com uma cara bem maliciosa. Eu não entendia muito bem, até o Gustavo apontar pra Carolina. Sério, eu não iria fazer isso com ela. Ou iria.
Nós fomos caminhando até ela em um silêncio profundo. Até ela soltar um grito que até quem estava no outro lado do oceano ouviu. Coitada, até eu assustei. Mas já era tarde, eu tava carregando ela no colo e com certeza eu iria joga-la no mar.
- Vocês vão ver seus viadinhos - ela brincava toda “estressada” com a gente.
- Agora já era, esta toda molhada aí - Felipe falava e ainda jogava água na cara dela.
- Pô Carolzinha, primeiro dia de praia, tem que entrar no mar gata - Gustavo ficou enchendo o saco dela também.
- Tudo bem, eu já estava pensando em entrar mesmo, hunf.
Sei Carol, sei.
Ficamos nós cinco ali nadando e curtindo o calor. Tava muito bom, sério. E logo depois chegou mais um galera do colégio e ficamos todos juntos. Eu fiquei um pouco encomodado pela Carol, ela só ficava ali com a gente, e não se juntou muito com as outras meninas. Então eu resolvi aprensentar ela para umas garotas do colégio e deixei ela fazendo um social por lá.
Depois de um tempo que vi que as meninas haviam saído do mar e estavam conversando com Carol, e logo depois vi todas elas saindo e deixando ela sozinha ali na esteira de tomar sol. Eu já estava um pouco enjoado da água e resolvi sair pra fazer companhia para ela.
- Ué, aonde elas foram? - eu perguntei me referindo as meninas do colégio.
- Ah, eu não sei, acho que foram comprar algo para beber - ela respondeu meio gaguejando.
- E por que não foi com elas?
- Eu preferi ficar aqui.
Achei estranho, mas eu não sou o melhor compreendor da mente feminina e resolvi ficar quieto. Apenas abracei ela e ficamos ali, aproveitando o sol.
Depois do almoço, voltamos a praia e lá ficamos a tarde inteira. Até a hora de voltar para o hotel novamente.
E chegando no hotel, todos tomaram banho. E os meninos decidiram sair para uma balada que ia ter no centro da cidade, ali da praia mesmo. Eu não estava com vontade de ir, mas mesmo assim resolvi perguntar pra Carol.
- Você quer ir?
- Dan, você vai achar que eu sou chata, e se você estiver com vontade de ir com eles, por favor, vá, mas eu não estou muito legal e...
Antes que ela pudesse terminar eu a interrompi.
- Eu não quero ir.
- De verdade? Não mente.
- Não, to afim de ficar com você, conversar etc.
Eu percebi que desde que a gente havia voltado da praia para almoçar, ela não estava normal, e nem bem, e eu não resisti em perguntar.
- Você está bem?
Ela segurou minha mão e falou:
- Pra falar a verdade, não.
- O que aconteceu? Você não está gostando, a gente pode voltar se você quiser.
Eu fiquei desesperado, sério, fiz mancada de levar ela? O que eu fiz de errado?
- Não Dan, ta ótimo aqui de verdade. Mas hoje lá na praia, aquelas meninas me falaram umas coisas não muito legais e eu não me senti muito bem.
- O que elas falaram? Pelo amor de Deus Carol, me conta tudo.
- Elas só perguntaram se eu era a sua namoradinha, e falaram para eu aproveitar bem esse feriado porque poderia ser o nosso ultimo momento juntos, elas falaram que ia fazer o que pudessem para nos separar, e ainda disse que você merece coisa muito melhor.
Eu não podia acreditar no que eu estava escutando, aquelas vagabundas iam ver.
- Carol, olha aqui, elas não sabem o que falam, esquece isso, por favor, apaga tudo que elas te falaram, e acredita em mim, nada vai separar a gente agora, muito menos elas ok?
- Eu pareço uma idiota chorando aqui agora, mas me doeu tanto. Dan, você é a melhor coisa que eu tenho agora, e eu tenho medo de perder você.
Argh, que merda. Eu tava quase chorando junto com ela, mas eu tinha que ser forte. Todo ódio que tinha em mim deveria ser transformado em força, eu tinha que ajudar a Carol a pelo menos esquecer tudo que aquelas vadias desocupadas falaram para ela.
- Vem comigo um pouco, quero fazer uma coisa - eu disse esticando meu braço para ela.
Ela me olhou com um certo medo mas acabou aceitando.
- O que você vai fazer? - ela perguntou com medo de alguma atitude que eu poderia tomar naquele momento.
Antes de sair no hotel, eu pedi para ela fechar os olhos, e permanecer com eles fechados até a gente chegar onde eu queria. Na praia.
- Pronto, pode abrir os olhos agora Carol.
Ela ficou espantada ao me ver, e então eu comecei a tocar uma música no violão que se chama Wonderwall do Oasis, conhece? Então, era ela.
Depois que eu cantei eu abracei ela forte e a beijei. Por um tempo parecia que não tinha problemas, não tinha barulho, não tinha vida além da nossa.
- Posso te falar um coisa? - eu perguntei segurando o queixo dela.
- Claro que pode.
Eu respirei fundo, era a primeira vez que eu ia falar isso para ela. Não que ouvesse certeza no que eu iria acabar de dizer, mas era medo da reação dela.
- Eu te amo.
O mundo ao nosso redor conseguiu se calar mais do que já estava. A única coisa que EU ouvia era o som do meu coração batendo. Parecia que ele ia sair para fora do peito. Minha garganta trancou e eu pensei que fosse morrer. Ela me encarava sem expressão nenhuma. Na verdade eu não conseguia enxergar nada. Ela segurou minha mão e só então eu vi um sorriso se formar nos lábios dela. Mais bonito que o sorriso, foram as palavras que ela disse depois dele:
- Eu te amo também Daniel.
Fim. Ta, brincadeira, mas quase foi o meu fim. O fim da história e o fim da minha vida. Eu abrecei ela com tanta força que eu acho que a machuquei. Mas não importava, parecia que haviam tirado dois navios de cruzeiro das minhas costas. Era uma sensação de alivio, na verdade era várias sensações, uma melhor que a outra.
Nós ficamos um bom tempo sentados na areia, já era de noite, e a única coisa que iluminava a praia eram as luzes das lojas da pequena cidade que ficavam abertas. Eu estava com o violão e de vez enquando eu tocava algumas coisas para nós.
- Não me contou que sabia tocar - ela disse.
- Não? Acho que era pra ser uma surpresa de verdade então.
Ela sorriu e logo depois eu a chamei para mais um beijo. Era diferente, parecia que depois da revelação o nosso beijo ficou mais intenso, melhor. Depois que a beijei eu deitei minha cabeça nos ombros dela e beijei o seu pescoço. Eu sentia vontade de ficar sentindo o cheiro dela pelo resto da minha vida.
Quando eu fui chama-la, eu não conseguia me referir a ela como ‘Carol’. Então me surgiu uma pergunta:
- Posso parar de te chamar de Carol?
- Ué, vai me chamar do que?
- Não sei, amor.
Ela sorriu e deu um soquinho de leve no meu ombro. Ela parecia ter que gostado. Ou a minha imaginação está fértil mesmo.
- Claro que pode né, amor.
- Awn, sua linda.
Ta, as vezes acho que me comporto totalmente bobo na frente dela. Será que ela percebia? Espero do fundo do meu coração que não.
- Você já teve muitas emoções por hoje? - eu perguntei totalmente do nada.
- Acho que sim né, olha as coisas que você me faz e fala.
- Posso fazer a ultima pergunta, juro.
Ela me encarou com um pouco de medo, não sei. Mas o que eu iria perguntar eu tenho certeza que ela jamais pensaria.
- Não, não vou perguntar agora - eu falei com medo da reação dela.
- Ah não Daniel, pode me falar agora.
- Calma amor, eu te falo quando você menos esperar.
Eu percebi um certo ódio/raiva no olhar dela, mas nada do que ela me falasse me faria perguntar naquele momento. Eu queria esperar mais uns minutos, e falar para ela de repente. Tipo, de surpresa.
- Estou com frio - ela reclamou guardando as mãos no bolso do moletom.
- Vamos embora dormir? - sugeri.
- Pode ser.
Fomos caminhando abraçados até o hotel. Antes nós passamos em uma lanchonete para tomar café. Quando chegamos no hotel, isso era por volta de uma da manhã, os meninos por incrivel que pareça já estavam dormindo. Entramos em silêncio no quarto e cada um foi para sua cama. A noite não ia ser longa, mas a praia do dia seguinte, com certeza seria.
Eu estava dormindo, eu acho, mas acordei. Era mais ou menos cinco da manhã. Eu levantei, fui no banheiro e depois caminhei até a cama onde Carolina dormia. Ela estava tão linda dormindo que deu vontade de não fazer nada, apenas ficar olhando. Mas eu não aguentei.
- Amor, acorda - eu sussurava cutucando-a de leve.
- Oi, aconteceu alguma coisa? - ela perguntou com os olhos um pouco fechados ainda.
- Namora comigo? - eu perguntei.
Ela deu um pulo da cama que até me assustou. Ela passou a mão sobre os olhos e começou a me encarar. E só então que ela falou sorrindo:
- Eu não sabia que eu o ‘de repente’ seria tão ‘de repente’ ainda mais a essas horas.
- Desculpa, mas eu não resisti.
Ela continuou me encarando. Sorriu e me deu um beijo. Logo depois, segurou meu rosto e disse:
- É claro que sim.
O depertador desse dia foi diferente. Ninguém gritou, e nem abriu a janela para o sol acabar com os nossos olhos. Felipe e Gustavo simplesmente acordaram e decidiram pular em cima de mim. Obrigado amigos.
Depois de me acordarem, nós pulamos em cima do Vinicius, e a cara dele quando acordou foi uma das coisas mais engraçadas que eu já vi na vida. E depois de acordarem ele, nem Carol escapou, os meninos fizeram um montinho nela e, coitada. A que mais sofreu.
- Acorda cunhadinha, o dia está lindo, vamos vamos vamos - gritava Felipe pulando em cima da menina.
- Cara, minhas costas - ela disse TENTANDO se levantar e quase chorando de tanto rir. Ou de tanta dor mesmo, não sei.
- Ah para Carolzinha, a gente é super leve - disse Gustavo querendo ajudar.
- É sim, quatro sacos de músculos masculino em cima de mim logo de manhã, obrigada seus manézão - ela disse ainda gargalhando da própria situação.
Bom, depois da recuperação dela, eu dei um selinho de bom dia e então começamos a nos preparar para o último dia de praia. Já? Sim, infelizmente ainda não explodiram todas as escolas do mundo. E depois de hoje, viagem na manhã seguinte.
Quando chegamos na praia, eu fui até Carol e decidi perguntar:
- Por um acaso, você lembra de alguma coisa que eu te falei de madrugada?
- Acho que sim, namorado.
Eu sorri tão abobado, tão feliz. Ufa! Ela estava realmente acordada.
Felipe gatão pegou o violão e começou a fazer um som para nós ali mesmo. Foi muito bom, eu sentia vontade de da um tiro na testa de saber que era o último dia. Mas tudo bem, pelo menos aconteceu várias coisas legais e tal.
O dia de mar e sol não foi diferente dos outros. Até o fim do dia.
- Acorda galera, dia de voltarmos para a casa - despertou-nos Gustavo dessa vez com a voz bem baixa e tranquila. Era a tristeza de ter mesmo que ir embora.
- Como assim, cade minha cerveja? - Felipe disse com os olhos fechados. Isso fez todo mundo rir, e só então ele acordou.
- Opa, bom dia Felipe - eu gritei para ele jogando uma camisa suja que ele havia deixado na minha cama.
Colocamos as mochilas e bolsas no porta-malas e fomos embora. Mentira, antes nós passamos para ver o mar pela última vez.
A viajem foi cansativa para o Felipe que ia dirigindo, para os outros não foi nada. Dormimos da hora que saimos da praia até quando chegamos na minha casa.
- Cara, to quebrado - disse Felipe se esticando no meu sofá.
Eu subi para o quarto de minha mãe que eu estava morrendo de saudade.
- Mãe, cheguei.
- O meu filho que saudade.
- Eu também estava com saudade minha velha.
Isso era um apelido carinhoso, só pra constar.
- Mãe, eu estou com uma menina, aquela que eu estava saindo.
- Pode chamar ela pra jantar aqui.
- Ah mãe, eu te amo.
É, era por esses e outros motivos que eu amo a minha mãe.
Eu desci para falar com meus amigos. E Carol logo veio me perguntar:
- Ela está acordada? Deixa eu ir falar oi pelo menos.
- Não não não, ela está dormindo.
Eu não queria que ela conhecesse a minha mãe. Não naquele momento.
Felipe já estava babando no meu sofá, aquele bebê gigante. Mas logo essa farra acabou quando os meninos decidiram ir embora.
- Você quer que eles te deixem em casa amor? - eu perguntei pra Carol.
- Não, deixa, eu vou a pé.
Eu ofereci isso por dó, mas eu queria que ela ficasse para eu fazer o convite. Os meninos sairam e eu fui para sala com ela. E então eu já mandei.
- Carol, você não aceita vir aqui em casa jantar qualquer dia?
- Sério? - ela perguntou espantada com o convite.
- Sim, pra você conhecer a dona Sandra.
- Claro que eu aceito, mas fala com ela certinho, tenho certeza que sua mãe é super gente boa.
- É sim, ela é uma fofa, vocês vão se dar bem.
Pronto, o convite estava feito, agora era só esperar um dia legal para apresentar minha namorada para a minha mãe. E eu tinha certeza que as duas iam se dar bem. Minha mãe não aprova com tanta rapidez as minhas namoradas, mas Carol era totalmente diferente de qualquer uma. Era única, digamos assim.
Carol ficou mais um pouco assistindo tv comigo e depois decidiu ir embora. Eu fui com ela até a sua casa. Não era muito perto, mas a gente não perdia tempo pra ficar junto, e eu, quase não gostava né?
Quando cheguei em casa eu subi para o meu quarto e tomei um belo de um banho e caí na cama. Eu estava cansado da viajem, e tinha uma escola me esperando no outro dia de manhã. Ah, merda.
Depois de muito tempo, eu acordei de um jeito diferente. Minha mãe tinha ido até meu quarto e me acordou com um beijo bem gostoso na bochecha.
- Ta carente mãe?
- Ai besta, só quero te agradar, posso?
- Pô minha gata, quero esse agrado todo dia, pode ser?
- Claro que pode meu gordinho, mas só se você começar a se arrumar para o colégio e não acordar mais atrasado.
Eu olhei para o lado e o relógio já marcava sete e cinquenta da manhã. As aulas começavam as sete e vinte. Eu dei um beijo na minha mãe, escovei os dentes, coloquei minha bermuda e minha camisa do uniforme e sai correndo pro colégio.
Chegando lá a frente da escola já estava totalmente vazia. Fui para o corredor onde havia um entrada para a biblioteca. Lá eu tinha que ficar até o sinal para a próxima aula.
Antes de chegar no corredor, eu ouvi uma voz feminina e conhecida atrás de mim. Eu olhei e vi que era a Giovana, uma ex-amiga, depois que ela falou um monte de merda para Carolina na praia meu olhar para ela mudou totalmente. Eu nunca havia ficado com ela ou algo do tipo, eu não tinha nada contra ela, eramos amigos. E-R-A-M-O-S.
- Oi Daniel - ela disse num tom malicioso.
- Oi Giovana.
- Onde estava que chegou atrasado? - ela perguntou passando a mão sobre meus ombros.
- Na minha cama - eu disse se afastando dela - Olha Giovana, eu tenho que entrar, depois a gente se fala.
- Não. Espera - ela praticamente gritou me puxando para perto.
- O que você quer, eu não to muito afim de conversar hoje não, me desculpa.
- Ah, melhor pra mim, a gente não precisa conversar.
Ela disse isso e me abraçou tão forte, nunca imaginei que uma garota podia possuir tanta força, e me dei um beijo no canto da boca. Eu fiquei pasmo, de verdade.
- O que você está tentando fazer? - perguntei empurrando-a para trás e vendo-a cambalear para os lados.
- Nossa, calma, foi só um beijo.
Um sentimento de raiva cresceu em mim e eu gritei, bem perto do rosto dela, já que era isso que ela queria.
- Olha aqui, eu estou muito feliz com uma pessoa, e eu sei o que você falou para ela lá na praia. Me esquece Giovana, sai da minha vida.
- Ah, ela te contou? Que fofa, aposto que foi chorando para você.
- Eu fui capaz de perceber tristeza no olhar dela, eu tenho sentimento diferente de você que não se ama, e faz de tudo para ser a atenção de todo o colégio. Eu odeio isso Giovana, eu odeio você.
- Quando eramos ficantes você disse que me amava.
- Nós nunca ficamos e você sabe muito bem disso. Quando eramos amigos eu disse mesmo que amava você, mas todo mundo comete erros né? Todo mundo se arrepente. Agora me da licença que eu preciso estudar.
Eu dei as costas para ela e não sabia o que pensar. Era tanto ódio. Meus passos faziam barulho alto de tanta raiva que eu sentia. Como alguém era capaz de ser assim? Eu odiava isso.
Entrei na sala logo após o sinal e eu não imaginava a cara que eu entrei na sala. Eu não ouvi ninguém me cumprimentar. Eu só ouvia um ódio tremendo dentro do peito.
- Nossa cara, você ta bem?- perguntou Gustavo depois que eu sentei na carteira ao lado dele.
- To sim irmão, relaxa - eu respondi dando um tapinha no ombro dele.
Eu não prestei atenção em nenhuma palavra dos professores aquele dia. Eu não iria suportar olhar para a cara daquele vadia de novo. E o pior, eu não suportaria esconder tal fato para Carol. Eu iria contar para ela.
Depois do sinal do fim da aula, eu me encontrei com os meninos na saída. Quando eu olhei para o lado eu vi Giovana, ela acenou para mim e eu a ignorei totalmente. Fingi estar bem e como é de lei, nós fomos ao Starbucks. Não contei nada para os meninos, eles não tinham nada a ver e no momento estavam me fazendo rir. Só aqueles gays mesmo. Terminamos por ali e fui para casa.
Abri a porta e minha mãe estava na cozinha.
- O que vamos ter de almoço mãe? - eu perguntei abraçando-a.
- Nossa, que abraço gostoso filho, ta carente?
- Ai besta.
Eu amava a minha mãe, sério.
- Filho, o teu almoço está no forno, eu estou é adiantando o jantar.
- Ah é? E o que vamos ter de bom?
- ‘Fricasse’ de frango e a companhia de sua namorada.
- O que? - eu perguntei com os olhos arregalados.
- Sim, estou preparando um jantar para você chama-la aqui e me aprensentar a moça.
- Mãe, eu te amo.
Eu fui correndo para o meu quarto para ligar para Carol.
- Oi amor - eu disse ouvindo a voz dela do outro lado da linha.
- Oi amor - ela respondeu.
- Tenho um convite para fazer.
- Sério? O que é? - ela perguntou em tom de curiosidade.
- Janta aqui em casa hoje?
- Você ta falando sério? E sua mãe?
- Ah, eu cheguei da escola e ela pediu para eu fazer isso.
- Que fofa, claro que eu vou.
Ah, finalmente eu iria ver as duas mulheres da minha vida lado a lado. Isso com certeza vai para o meu livro de melhores acontecimentos. Ta, eu não tenho um livro desses, mas se tivesse esse acontecimento estaria em primeiro. É.
Bom, depois de falar com ela no telefone, eu lembrei que ainda tinha um almoço me esperando, e desci para comer. Amo a comida da minha mãe. Sério ok? Não estou puxando o saco só porque ela estava adiantando o jantar para Carolina. Hunf.
Depois que almocei fui para meu quarto dormir um pouco, e lá fiquei até as sete da noite. Sim, foi isso mesmo que você leu.
- Filho, acorda, daqui a pouco a sua namorada vai chegar não vai?
- Vai mãe, tenho que ligar pra ela ainda - eu disse BEM sonolento.
Eu levantei totalmente contra a minha vontade, até eu analisar a situação. Porra! A Carol já podia ir para casa.
Saí como um tiro pro chuveiro e fiz todo aquele ritual de limpeza. Depois de tudo, de banho e se arrumar eu liguei para ela.
- Hey, pode vir - eu disse e ela respondeu:
- Ok, estou indo.
Eu fui para a sala espera-la e quando vi minha mãe, ela tava muito gata. De verdade.
- Tudo isso só para a nora?
- Tenho que passar boa impressão né meu bebezão?
- Ta certo mãe, isso mesmo.
Ficamos ali vendo tv e a campanhia tocou, eu fui atender. Carolina tinha ido com a mãe dela, mas tinha dito que era apenas na casa de um amigo.
Ela estava linda, com um salto alto, short social e uma blusa verde, sempre linda, incrível.
- Oi linda - eu disse dando um beijo nos lábios dela.
- Oi gatão - ela respondeu correspondendo o beijo.
Eu a segurei pela mão e a guiei para dentro de casa. De repente o perfume dela entrou nos meus pulmões e eu fiquei um pouco nervoso. Quando encontrei minha mãe, eu falei:
- Mãe, essa é Carolina.
- Oi, prazer em te conhecer, meu nome é Sandra.
- Oi, imagina, o prazer é todo meu, e pode me chamar de Carol ta bom?
- Ah é verdade, ela prefere o Carol - eu disse corringindo a mim próprio.
- Senta Carol, fique a vontade, só vou ver como está a janta - disse minha mãe guiando-nos para o sofá.
- Obrigada.
Bem, apresentação? Confere.
- Nossa Dan, sua mãe é linda.
- Eu falei que eu tinha para quem puxar.
- Ai, convencido.
Depois de alguns minutos conversando, minha mãe nos chamou lá da cozinha. Eu segurei na mão de Carol e fui com ela para lá.
- Bem, eu fiz um ‘Fricasse’, espero que você goste - minha mãe disse dando um lugar na mesa para Carol.
- Nossa, não precisava se encomodar com isso, mas com certeza eu vou engordar uns cinco quilos só nessa janta - ela disse sendo bem simpática e tirando gargalhadas da minha mãe.
- Eu então não quero nem ver a cor do prato, já estou devorando essa janta - eu disse me sentando ao lado de Carol e nos servindo.
Começamos a comer e a conversar ao mesmo tempo. Minha mãe e Carol se deram muito bem, confesso que eu até fiquei isolado da conversa. Mulheres.
- Olha dona Sandra, a senhora está de parabéns - Carol disse para minha mãe.
- Por ter me feito amor? - eu perguntei de brincadeira.
- Mas que filho convencido a senhora tem viu? - ela disse sorrindo para nós.
- Eu sei o filho que tenho - minha mãe disse tirando risos da mesa.
- Eu quis parabenizar pela comida, está muito boa.
- Ah obrigada linda.
Tudo nos conformes. Nada melhor. Terminamos de comer mas continuamos ali na mesa, conversando por um bom tempo. Depois de um tempo minha mãe levantou e começou a juntar a louça na pia. E logo depois começou a lavar.
- Vamos sentar ali na sala? - eu perguntei para Carol.
- Não, espera aí, vou ajudar sua mãe aqui.
Carolina tinha quarenta empregadas em sua casa que faziam isso por ela, mas mesmo assim ela insistiu muito para ajudar com a louça. Fofura.
Depois de fazeram isso, nós fomos até a sala e lá ficamos conversando mais um pouco. Dessa vez eu já participei um pouco do papo, bem pouco.
- Quando e onde vocês se conheceram? - minha mãe perguntou para Carol e meu coração parou. Ela não iria se lembrar, nossa, ela ia ficar sem graça pra caralho.
- Uma vez numa balada a gente só se olhou e um dia depois nos encontramos em um clube, ai sim nós começamos a conversar e tal - ela respondeu segura e confiante.
E não é que era isso mesmo. Cara, eu jurava que ela nem lembrava do meu nome e da minha idade. Ta bom, eu sofro de uma paranóia muito maluca.
- Bom mãe, posso ir lá em cima mostrar umas coisas para ela? - eu perguntei me levantando e segurando na mão de Carol.
- Claro, vão lá.
Nós subimos para o meu quarto e ela começou a analisa-lo. Ela já tinha visto uma vez, mas segundo ela nem havia reparado no quanto ele era bonito. Ela começou a ver tipo de um mural que eu tinha na parede e me perguntou:
- É o seu pai?
- Sim - eu respondi sem conseguir falar muito, era um assunto que mexia comigo ainda.
- Vocês eram parecidos.
- Todo mundo fala isso.
Ela olhou para mim e sorriu. Discretamente eu passei a mão nos olhos para enxugar duas lágrimas malditas que não se conteram com o assunto ‘pai’.
- Aposto que ele te amava muito - ela disse me abraçando.
- E com certeza iria adora você. E iria zoar muito com a sua cara também, era o cara mais engraçado que eu conhecia.
Nós rimos e depois ela me deu um beijo. Era uma atmosfera cheia de sentimentos, e eu juro que não dava para saber qual era e o que ele causava em mim.
- Seus olhos ficam mais azuis quando tem lágrimas - ela disse me encarando bem de perto.
- Merda, achei que você não tinha visto eu chorando - eu disse e nós gargalhamos.
Depois de um pequeno tour pelo meu quarto não muito grande e nem muito organizado, nós descemos e fomos lá para fora. Sentamos em um banco que ficava no quintal e começamos a ver como a noite estava bonita. Ficamos conversando e vez ou outra nós olhavamos para as estrelas, era uma noite realmente linda.
- Lembro quando você me levou para ver as estrelas, naquele gramado - Carol disse encarando o céu.
- Sério? Você se lembra de coisas que eu jurava que você não tinha mais nem noção que já havia vivido.
- Nunca esqueci nada do que você me disse e fez.
Eu me perdi nos olhos e na fala dela por alguns instantes. Era tão bom saber isso. Mas eu precisava de foco, eu precisava contar a merda do acontecimento do colégio hoje para Carol. Ok, vamos lá.
- Linda, preciso te contar uma coisa.
Ela me olhou assustada e fez gesto para prosseguir a fala.
- Sabe a Giovana? Aquela menina que te falou o caralho à quatro lá na praia?
- Sei, o que tem ela?
- Hoje eu cheguei atrasado no colégio, e quando fui entrar na biblioteca ela me parou e começou a falar mais merda ainda. Eu perdi a cabeça com ela e quis ir embora, mas...
- Mas o que Daniel?
- Calma, não fica brava comigo! - eu pedi segurando as mãos dela.
- Tudo bem, pode falar.
- Ela me puxou para perto dela e totalmente bruta ela me deu um beijo, foi perto da boca, mas relaxa meu, e sério, não me leva a mal, ninguém viu, ninguém vai falar merda para você a não ser a própria, pode me xingar, me bater mas eu juro que foi culpa dela e espontaneo, eu falei muito para ela depois disso, xinguei ela e disse que odiava ela, porra, que ódio.
- Ai, como eu vou ficar brava se você está todo sincero me contando tudo?
- Jura que você não vai ficar brava?
- Relaxa, esquece essa menina, eu já percebi o tipo dela e não vou ligar para alguém como ela.
- Eu te amo, e obrigado pela confiança.
Ela apenas me deu um selinho e eu me senti seguro, ela não cansava mesmo de ser perfeita.
Ali ficamos por um bom e longo tempo. Eu queria ficar daquele jeito pelo resto da vida, de verdade. Era mais ou menos meia noite e ela disse:
- Tenho que ir.
Eu a abracei super forte com as mãos e com as pernas, fiz bico e resmunguei.
- Não sua feia, você vai ficar aqui comigo.
Ela sorriu e me abraçou bem forte também e falou com uma voz super de neném.
- Bem que eu queria bebê, mas eu tenho pai e mãe ainda.
- É verdade, é melhor você ir mesmo, se não eu já perco pontos com o sogro e com a sogra - eu disse soltando-a do abraço.
- Isso mesmo, e daqui uns dias é você quem vai jantar em casa para conhece-los.
- Nossa, não me lembra disso.
É, essa parte me assustava muito, mas eu tentava não pensar tanto. Levei Carol para se despedir da minha mãe.
- Foi um prazer conhecer a senhora - ela disse dando um abraço na minha mãe.
- O prazer foi todo mundo moça - minha mãe retribuiu.
Fui até o portão com Carol esperar a mãe dela, mas nós tinhamos que nos despedir antes para ela pensar que eramos amigos. Somente amigos. Namoro iria ser outra coisa, que a Carol teria que fazer a cabeça dos pais.
- Então boa noite meu amor amor - eu disse segurando no rosto dela.
- Boa noite e obrigada pelo jantar, pela noite, foi tudo ótimo.
Eu encostei nossos lábios e a beijei como não a beijava a alguns dias. Eu sentia saudade dela mesmo que fizesse apenas dois minutos que não nos viamos. Mordi o lábio dela de leve ouvindo-a suspirar, e logo depois a abracei bem forte. Ela afundou as mãos nos meus cabelos e deu um beijo no meu pescoço, eu retribui o beijo vendo um levo arrepio em sua nuca.
- Não esquece que eu te amo ok? - eu disse separando nosso corpo, mas ainda segurando nossas mãos.
- Eu também te amo.
Ficamos ali no portão apenas de mãos dadas, até avistar o carro de sua mãe chegando mais perto. Soltamos as mãos e quando o carro parou em frente de casa, eu apenas dei um beijo rápido em sua buchecha e acompanhei o carro até sumir no fim da rua. Que noite.
Entrei em casa e tranquei a porta. Minha mãe ainda estava no sofá. Cheguei perto dela e fiz a pergunta.
- E aí coroa, gostou da nora?
- Parabéns Daniel, que menina bonita, educada, super simpática, adorei.
- Awn mãe, por isso que eu te amo.
- É bem diferente daquelas outras que só tinha beleza e nenhum conteúdo né filho? - ela disse tirando um sorriso besta de mim.
- Pois é, acho que já amadureci muito com a Carol sabe? E vou amadurecer muito mais, ela é bem diferente e qualquer menina normal.
- Com esse brilho nos olhos eu já vi o que você sente por essa menina, e dessa vez eu apoio.
Abracei minha mãe e fui para o meu quarto dormir, era tarde e ainda era quarta-feira. Confesso que Carol me tirou um pouco do sono, então peguei o celular e comecei a escutar o CD do Luan Santana, o cara era bom até. Acho que na última música eu peguei no sono. Vou lembrar de escutar coisas mais calmas tipo Secondhand Serenade na próxima vez.
O dia estava ensolarado, mas fazia muito frio. A gente estava no inverno ok? Era por isso que era frio na maioria dos dias. Mas a cidade seguia muito as estações. No verão é algo quase insuportável. Eu amava frio e pretendia amar para sempre, é a melhor coisa do mundo, ainda mais quando se tem alguém.
Levantei na maior contra-vontade e no maior esforço da cama quentinha e fui para o banheiro escovar os dentes. Que sofrimento da porra, de verdade. Coloquei a camisa do uniforme, um moletom e fui para o colégio.
Chegando lá meus amigos já estavam me esperando, como sempre. Logo depois o sinal bateu e fomos para a sala. Confesso que entrei na sala, puxei as mangas no moletom até cobrir minhas mãos, deitei o corpo na mochila em cima da carteira e dormi. Ah cara, tava frio e não existe nada melhor do que dormir nessa estação. E assim eu fiquei, até o intervalo.
- Olha, resolveu acordar? - Gustavo disse me olhando e rindo.
- Pô cara, esse frio acaba com a vida.
Saimos para o pátio e logo na porta da minha sala eu vi Giovana. Ela me encarava com um olhar sem arrependimento ou algo do gênero pelo o que ela havia feito comigo no dia anterior. Eu passei reto por ela e não quis conversa. Meu ombro chegou a bater com força no dela. Eu nem ligava.
- Nossa, não cumprimenta mais as amigas? - ela disse meio que gritando depois que eu havia passado.
Eu me virei para ela e disse.
- Amiga?
E logo em seguida já retornei o corpo e o olhar para frente e continuei andando até o pátio. Gustavo estava o tempo todo do meu lado, não entendeu muito bem, mas pelo meu olhar, ele preferiu não perguntar o que tinha acabado de acontecer, não agora.
Fomos para uma mesa ali no pátio e ficamos juntos ali conversando. Não sei quem era pior, eu ou o Vinicius. Os dois com um moletom gigante, capuz na cabeça e deitados na mesa.
- Vou no banheiro - eu disse me levantando e indo em direção aos sanitários do colégio.
Chegando lá, eu fiz o que deveria fazer, e quando estava saindo, o meu celular tocou. Ótimo. Voltei um pouco para dentro do banheiro e atendi. Não sei se vocês lembrar de quando eu disse aqui que uma menina me ligava, era sempre engano, mas era uma voz conhecida? Então, era ela de novo.
- Engano novamente? - eu perguntei.
- Cala a boca e me escuta - a voz disse do outro lado da linha.
- Ah, é você então Giovana?
- Sim, escuta, vai lá para trás da sala do terceiro ano e me encontra lá, quero ter uma conversa com você - ela disse me ordenando.
- Eu não quero e não vou fazer o que você me pede.
- Daniel, é bom você fazer isso que eu estou pedindo.
- Não Giovana, as verdades que eu te falei ontem não bastaram? - eu falei com a voz um pouco alterada dessa vez.
- Eu só quero conversar, dá pra você fazer isso por mim.
- Conversar né? Igual ontem? E não, não da para eu fazer nada para você.
- Ah você não quer? Então vai sofrer as consequências por isso - ela disse em um tom muito irritante.
- Para com isso sua criança, sua vida não vai mudar.
- Então você quer que a sua namoradinha sofra as consequências disso?
Ok, aquilo tinha sido o limite. Então eu gritei para ela no telefone.
- Se você quer me prejudicar, faça o que quiser, mas não coloca a Carol no meio disso.
E desliguei.
Sai andando normalmente, talvez com um pouco de raiva nos olhos, e fui ao encontro da mesa onde meus amigos estavam novamente. Gustavo me encarou com dúvida mas eu preferi não falar nada. Coloquei o celular no bolso frontal do moletom e fiquei segurando ele lá dentro, não sei como não quebrei a tela. Mesmo sem olhar, eu apertei no botão de desligar, antes que ele me causasse algo mais. Dobrei os braços em cima da mesa e deitei novamente, fechei os olhos e esperei o sinal bater. Depois de tal feito, entrei na sala e fiquei exatamente como eu estava no intervalo.
- Olá professora, quero conversar com Daniel.
Ouvi uma voz dizendo isso lá da porta da sala. Ergui a cabeça mas a pessoa estava lá fora. Então a professora me disse:
- Daniel, a diretora está te chamando.
Levantei da carteira e fui em direção a porta. A zeladora estava ali me esperando para me acompanhar até a sala da diretora. Cara, o que eu tinha feito dessa vez? Entrei na sala dela e ela disse:
- Sente-se, vamos conversar uma coisinha.
Obedeci e sentei na enorme cadeira que me fazia ficar cara-a-cara com o inferno.
- O que eu fiz de errado?
- Tivemos uma denuncia de um aluno, que eu não vou falar o nome, que me disse que o senhor anda namorando na frente do colégio, e como eu sei e como você sabe, isso é proibido aqui no colégio.
Eu não acreditei no que tinha escutado.
- Você ta falando sério? Eu não tenho namorada aqui no colégio.
- Viram você agarrando uma menina aqui na frente e isso é muito sério Daniel. São as normas do colégio, isso não deve acontecer de novo, e se acontecer, vamos ligar para sua mãe.
Eu levantei da cadeira e não consegui dizer nem uma palavra. Eu não tinha dúvidas de que Giovana tinha inventado essa merda. Não iria aguentar ficar quieto, fui até a sala dela e pedi para a professora chama-la.
- Ué, veio atrás de mim agora porquê? - ela perguntou com uma cara BEM ironica.
Eu segurei no pulso dela com muita força e disse:
- Você sabe o que aconteceu e o que você fez.
- Mas não era para eu te prejudicar? Quis defender a namoradinha, é isso que dá meu amor.
- Me deixa em paz e para de inventar essas coisas, eu não me responsabilizo se um dia eu perder a cabeça e fazer alguma merda com você.
Ela me encarou assustada e eu soltei o braço dela empurrando-a para trás, quando olhei seu pulso, estava vermelho e com a marca dos meus dedos. Não fiquei nem um pouco preocupado, dei as costas e fui para a minha sala. É lógico que eu não iria machucar a Giovana, mas eu precisava falar algo para ameaça-la.
Quando entrei na sala, todo mundo me encarava. Eu apenas caminhei para minha carteira com as mãos no bolso e encarando o chão. Sinal da saída, era tudo que eu precisava.
Meus amigos me chamaram para ir no Starbucks, mas eu não conseguiria ser simpático naquele dia. Menti para eles dizendo que não estava muito bem. Preferi ir para a casa e deitar um pouco. Foi o que eu fiz.
Quando abri a porta de casa, apenas dei um beijo na minha mãe e disse para ela que iria me deitar um pouco.
- Você está bem filho?
- Sim mãe, só um pouco de dor de cabeça.
Subi para meu quarto, deitei na cama com tênis e tudo, puxei a coberta de lá até o pescoço e tentei dormir. É, só tentei. Aquele história toda não parava de passar na minha cabeça. Como alguém tinha coragem de fazer isso? E outra, o que eu fiz para Giovana me tratar assim? Que menina ridícula, eu estava perdendo a cabeça com essa história toda. Mas o que mais me assombrava não era os acontecimentos no colégio, e sim Carolina. Era bom que aquela biscate nunca fizesse nada para ela, se não eu poderia fazer alguma coisa muito do mal. Mas ok, eu precisava contar tudo para Carol.
Peguei o celular e liguei para ela. Ela havia acabado de chegar do colégio também, e então eu comecei a contar, tudo. Eu sou homem mas não tenho vergonha de admitir que ódio era tanto, que saía de mim em forma de lágrima.
- Calma Daniel, quer que eu vá ai pra gente conversar melhor?
- Não precisa não amor, eu só estou com raiva, mas vai pessar.
- Fica bem, por favor, não gosto de te ver assim - ela pedia com uma voz impossível se não se acalmar.
- Obrigado por me ouvir, eu precisava de contar.
- Claro, mas não precisa agradecer.
- Vou ver o que eu faço aqui, aí mais tarde a gente faz alguma coisa, pode ser?
- Ta bom, e fica bem Dan, sério, eu gosto muito de você para te ver triste.
- Awn minha linda, eu vou ficar bem, relaxa. Te amo muito.
- Eu também te amo.
Que poder incrível de me fazer bem, meu Deus.
Eu deitei a cabeça no meu travisseiro por mais alguns minutos e dormi por uns dez minutos.
- Filho, acorda - eu ouvi minha mãe dizendo.
- Que foi mãe? - eu perguntei dando um leve pulo da cama.
- Eu to indo trabalhar, você vai ficar bem?
- Claro mãe, vai tranquila.
Ela saiu para trabalhar e eu desci para almoçar. Acordei morrendo de fome e minha dor de cabeça já havia melhorado um pouco, bem pouco pra falar a verdade. Nem comer eu conseguia comer em paz, toda hora o pensamento de Giovana fazer algum mal a mais para mim ou para Carol me deixava totalmente preocupado. Mas eu deveria parar com isso. Menina filha da puta, mal amada.
Quando eu me levantei para por o prato na pia, o telefone de casa tocou.
- Alô.
- Oi Dan, sou eu.
- Oi amor, tudo bom?
- Mais ou menos, como você tá? - Carol me perguntou com a voz preocupada.
- Eu estou melhor, acabei de almoçar e tal.
- Ai, que bom.
- Hein, não ta afim de ir lá no parque um pouco? To querendo esfriar a cabeça, se der pra você é claro.
- Não, da sim, vamos lá.
- Ta bom, posso passar aí com o skate e a gente vai a pé?
- Lá no folha branca? Com certeza.
- Awn minha fofa, então ta bom, só vou me trocar e já estou ai.
- Ok, amo você.
- Eu também, beijinhos.
Fui para o banheiro escovar os dentes e trocar de roupa. Estava fazendo mais frio do que de manhã. Quase não gosto. Coloquei uma bermuda e um moletom, peguei meu skate e fui para a casa de Carol.
O vento que batia no meu rosto e corpo era torturante. Mas tudo bem. Cheguei em frente a casa dela e ela já estava me esperando. Como uma menina de calça daquelas apertadas normal, moletom preto gigante e tênis fica tão bonita? Ela me mata.
- Bermuda? - ela perguntou quando eu parei no skate em sua frente.
- Pois é, porque eu fiz isso? - eu perguntei tirando uma gargalhada dela.
- Vai passar frio seu gordo - ela disse vindo em minha direção para me abraçar.
- Ah, você me esquenta então - eu disse cobrindo seus ombros e seu tronco com meu corpo.
Dei um beijo nela e mais um abraço bem apertado. Foi quando eu parei pra pensar. Porra, a gente ainda estava na frente da casa dela.
- Relaxa, meus pais não estão aqui.
- Ufa, mas eles sabem que você vai sair né? - eu perguntei com certa preocupação.
- Sabe sim, relaxa.
- Então vamos minha gata.
Ela fechou o portão gigante, eu coloquei o skate em baixo do braço, e fomos caminhando até o parque. Aquele lindo lembra? Eu tinha boas lembranças de lá.
- Foi lá naquele parque que você me beijou pela primeira vez - ela disse tipo lendo meu pensamento.
- É, eu lembro, mas foi você quem me beijou - eu disse desfarçando o olhar para cima e vendo ela sorrir.
- Cala boca - Carol disse batendo no meu ombro e dando risada.
- É sério cara, você me agarrou, eu não tive reação, tive que deixar você me beijar né.
- Ai Daniel, para - ela dizia ficando cada vez mais vermelha, adoro isso.
- Quando você pegou no meu pescoço então, eu quase fiquei sem ar de tão forte que você me abraçava, beijava.
Ela parou de caminhar e agachou no chão, chorando de rir e de timidez. Awn, deu vontade de parar, mas eu tive que zoar ela mais um pouquinho.
- Vamos, levanta. E eu estou te levando no parque, mas vê se dessa vez se comporta hein, não to afim de voltar machucado pra casa.
- Chega seu besta, to chorando aqui.
Ah, foi muito engraçado essa cena cara, adoro ela tímida. Mas tudo bem, recuperamos o folego e voltamos a andar. Eu a abracei de lado e o vento que batia no nosso rosto estava muito gelado. Mas era bom, ela também amava frio, e acho que isso era vantagem. Chegamos no parque.
- Parece que ele ficou mais bonito hoje - ela disse observando aquele gramado enorme e aquele lago.
- Ele sabia que a gente viria aqui.
- Awn.
Eu peguei nos dedos dela e a puxei para um beijo. Nossos lábios se tocaram e logo aprofundamos o beijo. Aquilo no frio era bom, bom de mais por sinal. Dei uma sequência de selinhos nela e depois mordi sua bochecha.
- É legal suas mordidinhas - ela disse com as bochechas super vermelhas.
- Ah é? Você gosta? Então vem aqui.
Peguei ela pela cintura e comecei a dar mordidas de leve na bochecha e depois nos lábios. Ela contorcia o corpo de tão tímida/nervosa que ela tava.
- Você quer guerra de mordida seu gayzão? - ela perguntou com uma carinha super de mal.
- Você sabe que vai perder.
Eu vi uma cara muito feia para mim e uma menina muita linda voando no meu pescoço. Ela mordia minha bochecha com uma mega delicadeza, era tão fofinha. E eu retribuia. Até a gente cansar e sentar ali no gramado. Antes eu dei mais um beijo nela, e antes de interrompe-lo, eu mordi seu lábio mais uma vez, só para finalizar.
- Acho que você já me fez esquecer o que eu passei hoje no colégio - eu disse olhando-a nos olhos e com certa seriedade dessa vez.
- Então eu já posso dormir feliz - ela disse segurando minha mão.
Sério, era uma onda de coisas boas que acontecia com ela do lado. Impossível não ficar bem, não ama-la, impossível não pensar em estar do lado dela vinte e quatro horas por dia.
Ela esticou suas pernas e encolheu os braços demonstrando frio. Então eu deitei no gramado e apoiei minha cabeça em suas pernas.
- Posso ficar assim? To cansado - eu peguntei depois que já havia deitado.
- Claro que pode.
Ela começou a passar a mão no meu cabelo e eu juro que quase dormi ali mesmo. Depois abracei uma de suas pernas para tentar me proteger o frio.
- Eu tenho sorte - ela disse de repente, encarando o gramado.
- Por que sorte? - eu perguntei brincando com sua mão.
- Imagina quantas meninas não querem ter um namorado igual você?
- Igual eu? - eu perguntei sem entender direito.
- É. Toda menina quer ter um namorado que leve elas ao parque para ficar junto, pra fazer coisas legais, pra falar coisas legais. Hoje em dia todo menino fica com uma garota pensando em segundas intenções já, e isso não é legal, meninas não gostam disso.
- Desde a primeira vez que eu te vi, eu te achei intocável. Lembra, na balala lá? Eu não tive coragem de ir falar com você, eu não queria ficar com você ali, eu não sei, mas era isso. Eu tinha justamente medo de você me ver como um desses meninos, que só iria te beijar e contar para os amigos que pegou MAIS uma. Mas era diferente comigo e com você. Eu não consigo ser assim, acho que toda menina tem seu valor.
- É sério isso? - ela perguntou sorrindo.
- É meu, acredita se você quiser, mas um olhar seu aquele dia já fez minha vida mudar completamente. Foi estranho e eu fiquei com medo confesso, mas hoje aqui eu vejo o quanto você é. Muito mais do que eu imaginava, de coração.
Ela apenas sorriu para mim e se curvou para me dar um beijo. Eu não tinha acreditado no que tinha acabado de falar, mas escapou. Depois de partir o beijo, ela me olhou e disse:
- É dessa sorte que eu to falando.
Foi a minha vez de levantar e dar um beijo nela. Acompanhado de uma mordida leve no pescoço. Era inevitável ok? Ainda mais quando eu descobri que ela gosta.
Ela abraçou as pernas e eu sentei atrás dela, abracei-a junto com suas pernas e encostei minha cabeça em seu ombro. Frio, esse era o problema. Mas como minha mente é super inteligente, eu lembrei que ali no lado tinha o Starbucks. Nada melhor do que perguntar.
- Hey, que tal um capuccino para aliviar o frio?
- Olha, seria uma boa.
- Starbucks?
- Com certeza.
Levantamos e fomos para lá. Sentamos na mesa que eu já era dono e fizemos o pedido. Até lá dentro o frio insistia em ficar. Nem ligo, mas um motivo para eu ficar abraçado na minha namorada, hunf.
- Eu ainda não acredito que você está de bermuda - ela disse encarando minhas pernas.
- Pô Carolzinha, eu coloquei sem perceber, de verdade.
Vi ela sorrindo e virando o olhar para cima tipo: Ai que idiota.
Nosso capuccino chegou e ficamos tomando, mais tranquilos do que vaca na Índia. Ok, essa é péssima.
Eu estava me sentindo muito bem. Tudo o que tinha acontecido na escola, todas as merdas que aquela idiota da Giovana tinha me falado, tudo de ruim que poderia existir, simplesmente haviam sumido. Ela trazia paz, e eu estava disposto a ter aquela paz pro resto da minha vida. É, eu estava total e completamente apaixonado. Como nunca antes, por nenhuma namorada, por nenhuma menina. Por isso que eu digo, ela era muito única.
Depois do capuccino, ficamos sentamos ali por mais um bom tempo.
- Bom, está na hora de ir, meus pais vão chegar daqui meia hora mais ou menos e eu prefiro estar em casa já - Carol disse com um biquinho, awn.
- Ah, que parte triste, mas eu te levo pra casa, fazer o que.
Ela sorriu bonito e levantamos da mesa. Peguei meu skate que tinha deixado em baixo das cadeiras e fomos em direção a sua casa. Eu paguei os capuccinos ok? Relaxa.
Chegar na quadra da rua dela era torturante, eu sabia que teria que esperar mais algumas horas para ve-la novamente. Longas horas.
- Então fica assim amor, obrigado pelo dia, sério, me fez muito bem, da pra aguentar mais amanhã no colégio.
- Eu que tenho que te agradecer meu anjo, de verdade, você é quem me faz bem.
- Awn fofa, eu te amo muito.
- Eu também, muito mesmo.
Eu segurei seu rosto com minhas duas mãos e uni nossos lábios. Suas mãos deram uma volta na minha cintura fazendo nosso corpo se juntar. Aprofundei o beijo e desci uma das minhas mãos para sua cintura. Depois de alguns minutos nós partimos o beijo e eu, é claro, dei uma mordida no lábio inferior dela. Ela sorriu e mordeu minha boca também. Argh, como eu amava ela.
- Boa aula amanhã, e qualquer coisa me liga - ela disse se virando para ir embora.
- Obrigado.
Ela já havia dado dois passos para ir para casa, mas eu a puxei pelo capuz do maletom e dei mais um beijo nela. Ela sorriu assustada e então eu disse:
- Desculpa, é que se não eu fico com saudade.
- Besta.
Peguei meu skate e fui para casa. Eu estava morrendo de frio, nunca mais saio com bermuda no inverno. O dia tinha sido perfeito, eu só precisava descansar.
Entrei em casa e como não tinha ninguém naquele horário ainda, eu tranquei a porta atrás de mim e fui para a cozinha. Coloquei um pouco de água pra ferver e corri para o banheiro tomar um banho quente.
Depois de tal feito, fiquei só de samba-canção e um moletom, dentro de casa o frio não judiava tanto. Cheguei a cozinha e a água já estava fervida. Fiz um chá para mim, peguei umas bolachas no armário e fui para frente da televisão. Não existe nada melhor do que isso no frio cara, não mesmo. Assisti um filme do Harry Potter, que eu não sei qual era, são tantos, me confunde, mas eu até que gosto dos filmes. Assisti um pouco mais da metade, na outra metade eu dormi. Só pra mudar a rotina.
Acordei já era bem tarde e minha mãe já havia chegado em casa. Era realmente tarde. A única coisa que eu consegui fazer foi subir para meu quarto, escovar os dentes e deitar. Dormir mais um pouco, precisaria de energia para encarar a cara daquela filha da puta da Giovana no dia seguinte.
Os raios de sol invadiram meu quarto de manhã. Ainda fazia frio, mas tinha um sol muito bom que ajudava as pessoas a se manterem aquecidas. Me arrumei, e fui tomar café da manhã. Minha mãe estava na mesa e disse:
- Filho, vou passar na saída do colégio para você ir comigo no shopping, a gente almoça por lá, eu preciso fazer umas coisas.
- Dona Sandra vai liberar uma grana pra mim então? - eu perguntei sorrindo para minha mãe.
- Ta filhote, eu libero alguma coisinha, mas não se atrasa ok? Eu vou indo meu gatão, fica com Deus e boa aula.
- Você também mãe, bom trabalho.
Depois de uns cinco minutos que minha mãe saiu, eu peguei minha mochila e fui para o colégio. Rezando para ser uma boa manhã, e para Giovana não me aprontar mais nenhuma.
Chegando lá meus amigos, como sempre, estavam me esperando e junto com eles estava mais uma galera. E no meio dessa galera, Giovana. Eu cumprimentei os meninos e dei um beijo nas meninas que estavam ali. Giovana era a ultima da fila que eles formaram ali na entrada, e eu apenas a cumprimentei com a cabeça. Eu não queria mostrar para os outros os problemas, então eu fingia que nada havia acontecido. Acho que as amiguinhas dela reparam nisso, quando eu sai de perto do grupo de patricinhas eu ouvi um: ‘Nossa, ele não te cumprimenta mais não Gi?’. Deu vontade de virar e falar alguma coisa para elas, mas eu simplesmente ignorei e fui para o lado dos meus amigos. O sinal de entrada tocou e lá fomos todos para a tortura diária. Os meninos que eram do terceiro ano junto comigo, entraram para aula, e eu fui o último, antes de colocar os pés na sala de aula, Giovana, que era do segundo ano, me puxou e disse:
- Aposto que não trouxe o celular hoje.
Eu me virei e disse:
- Por que eu faria isso? Só pra você não me ligar e eu não ouvir essa sua voz nojenta?
Ela apenas sorriu derrotada e foi para sua classe, assim como eu sorri vencedor e entrei na minha.
Aula chata, aula chata, aula chata. Que cu de colégio. Mas de repente, a diretora entrou na sala e começou a conversar com a gente. E então uma novidade legal:
- Nós queremos levar vocês para um lugar, tipo uma fazenda, para vocês fazerem os trabalhos de biologia.
A sala inteira gritou. Qualquer viagem de três quilometros era uma alegria para o colégio. Eu também tinha gostado da idéia, até terminar de ouvir a novidade.
- Vamos reunir, o primeiro, o segundo e o terceiro ano para irmos na segunda-feira, no horário de aula mesmo.
Cara, eu e aquelas meninas, no mesmo lugar. Ok, não iria dar certo.
O sinal para o intervalo tocou e fomos para o pátio sem cobertura, onde batia sol e esquentava os alunos, era bom.
Eu já estava a espera de mais alguma da Giovana, mas na verdade me enganei. De repente no colégio começou uma gritaria. Eu e os meninos já levantamos e fomos para perto da movimentação que se formou ali no pátio mesmo. Adivinha o que tinha acontecido. É, Giovana estava aos beijos com um menino da minha sala. Ela era tão ridicula, ela ouvia a gritaria e sorria ao mesmo tempo que dava uns amassos no cara, era tudo que ela queria, tudo que ela adorava, toda a atenção do colégio voltada para ela. Eu olhei aquilo e senti vontade de vomitar, sai de perto e voltei a me sentar, bem longe dali, sozinho. Meus amigos ficaram lá, admirando aquela grande merda praticamente dar para o menino bem ali no pátio. Bem a cara daquela idiota. Não liguei e fiquei ali, depois de alguns minutos os meninos chegaram e começaram a comentar:
- Cara, você viu a Giovana? Ela colocou a perna em cima do menino.
- Nossa, que delicia, quero uma dessa na minha casa.
Eles gargalhavam falando sobre ela. Ainda bem que não era o Felipe, o Vinicius ou o Gustavo, eles apenas davam risada, mas eu teria vergonha se meus melhores amigos quisessem uma Giovana em casa. Não que ela era feia ou algo do tipo, mas era puta pra caralho.
- Você está bem velho? - Gustavo perguntou vendo que eu não estava achando a graça do momento.
- Estou sim cara, relaxa.
Voltamos para a sala de aula e estudamos mais um pouco. Bem pouco. Toda aquela chatice de sempre e finalmente o sinal da saída.
- Vamo pro Starbucks de lei né Daniel? - perguntou Vinicius dando um tapa no meu ombro.
- Então, hoje eu nem vou, minha mãe vai passar aqui, tenho que ir no shopping com ela e tal.
- Ah beleza então brother, mas tarde a gente se vê.
- Beleza.
Sentei em um muro que tinha na frente do colégio e esperei minha mãe chegar. Não existia problemas já que quase todo mundo do colégio já havia ido embora. A não ser pelo falo de Giovana ser umas das pessoas que ainda estavam ali. Merda.
- Oi Daniel - ela disse se sentando do meu lado.
- Oi - respondi seco e grosso, sem encara-la.
- Acho que você se sentiu mal em me ver com outro cara hoje né?
- Não me faz rir Giovana, eu estou pouco me fodendo para o que você faz ou deixa de fazer com esses idiotas que ainda caem na sua.
- Olha, você fica até bravo, calma.
- Eu estou bem calmo já.
- Não importa com quem eu esteja, sempre vai ter um espaço para você ok? - ela disse colocando as mãos na minha perna.
- Não importa, eu nunca vou dar um espaço pra você voltar pra minha vida - eu respondi empurrando sua mão.
- Voltar? Então quer dizer que eu já tive esse espaço?
- Claro que teve, e você sabe que teve. Você era minha amiga, mas de repente você mostra seu outro lado, que infelizmente eu não conheci antes.
- Que outro lado?
- Cara de pau sua fazer essa pergunta. Biscate.
- Olha aqui, agora você me ofendeu! - ela gritou levantando e apontando o dedo na minha cara.
- Você não aponta esse dedo pra mim, e isso não é ofença, eu só estou falando a verdade. Agora vai pra casa vai, eu não to afim de ficar te olhando por muito tempo.
- Por que? Tem medo de não aguentar e querer me beijar ou algo do tipo?
- Eu tenho amor a mim mesmo, nunca faria isso.
- Grosso - ela disse se virando para rua.
- Vai logo.
Ela foi embora e logo depois minha mãe estacionou o carro. Espero que ela não tenha visto nada, não estava muito a fim de contar esses tipos de coisas para ela.
- Boa tarde filho.
- Oi mãe.
- Quem era aquela garota que estava conversando com você?
Merda, por que ela tinha que ver?
- Ah, é uma garota do segundo ano.
- Uma dessas que faria de tudo para sair com você? - ela perguntou.
- Não é assim, não existe ninguém que faria de tudo para sair comigo.
- Ta filho, acorda.
Confesso que eu sorri meio bobo, mas isso era realmente mentira. Ninguém se mataria para sair comigo, que coisa idiota.
Fomos a caminho do shopping, minha mãe já havia pegado algum dinheiro da carteira e dado para eu gastar em alguma coisa. Acho que seria bom, queria mesmo comprar umas coisinhas, tudo bem que shopping não é muito a minha praia, mas a gente iria almoçar lá, e tinha uma batata recheada que ninguém no mundo iria superar, era muito boa. Estacionamos o carro e entramos, logo fomos para a praça de alimentação almoçar.
- E como foi o colégio hoje? - minha mãe perguntou enquanto eu devorava aquela batata.
- Normal, talvez vamos em uma fazenda segunda fazer trabalho de biologia.
- Hum, que legal.
- É.
Eu não conseguia conversar muito, eu realmente me irritava quando a Giovana falava comigo no colégio. A voz, o jeito, tudo, tudo naquela menina me irritava.
- Então, eu vou fazer minhas coisas, você vai ficar por aqui pra comprar algo? - ela perguntou se levantando da mesa.
- É, obrigano pelo dinheiro mãe, prometo que quando eu começar a trabalhar eu te pago.
- Trabalhar? Ta bom filho, quando você tiver vinte e cinco anos de idade você me paga então.
- Besta - eu disse me levantando também e dando um beijo na coroa.
Andei por algumas lojas e comprei algumas coisinhas. Era mais para passar o tédio mesmo, eu queria era ir para casa dormir. E foi isso que eu fiz. Chegando em casa eu tranquei a porta e fui para o quarto da minha mãe, a cama era mais confortável e tal, e tinha umas cobertas muito boas lá também. Quando eu deitei meu celular tocou, e quando olhei na bina li: Carol.
- Oi amor - ela disse com uma voz super animada.
- Oi amor, tudo bom?
- Tudo e com você?
- Tudo bem também.
- O que está fazendo? - ela perguntou curiosa.
- Deitado na cama da minha mãe, e você?
- Ai que bebê, eu não estou fazendo nada.
- Nossa, que legal amor.
- Sim, mas eu tenho uma novidade.
- Sério, o que é?
- Eu contei para os meus pais.
Nessa hora eu parei um pouco, fiquei sem ar, meu coração parou e eu não sabia o que falar. Então eu fiz o pior, gritei.
- O QUE?
- Calma – ela disse rindo do outro lado da linha.
- Como assim calma? O que eles falaram?
- Então, já querem te conhecer.
Nessa hora eu parei um pouco, fiquei sem ar, meu coração parou e eu não sabia o que falar. Então eu fiz o pior, gritei.
- ME CONHECER?
- É, amor para de gritar - ela disse novamente rindo, praticamente sem ar.
- Quando? Como? Por que?
- Amanhã, na minha casa.
- Espera um pouco.
Eu deixei o celular em cima da cama e levantei um pouco, abri a janela, respirei bem fundo e peguei o celular de novo, criei coragem e disse:
- Ok, amanhã na sua casa.
- Awn, eles são legais, você vai gostar do meu pai.
- E sua mãe? - eu perguntei assustado.
- Você vai gostar dela também.
- Nossa cara, que medo.
- Relaxa.
- Quero você - eu disse com a voz manhosa.
- Amanhã a gente se vê.
- Mas eu quero agora.
- Awn meu nenê, pode voltar a dormir.
- Não, fica falando comigo.
- Ok, vamos conversar.
- Eu te amo muito.
- Eu também, mas Dan, como foi no colégio hoje?
- Ah amor, prefiro nem comentar.
- Por que? - ela perguntou com certa preocupação na voz.
- Aquela nojenta da Giovana estava ficando com um menino no colégio hoje.
- Sério? Que idiota.
- Idiota é pouco.
- Não liga pra ela.
- É. E viu, segunda o colégio vai levar o primeiro, o segundo e o terceiro ano em um fazenda.
- E ela vai?
- Provavelmente.
Um pouco de silêncio prevaleceu na ligação. É claro que Carol tinha todo o direito de ficar irritada ou com medo. Até eu tinha medo, mas então eu decidi quebrar o silêncio.
- Relaxa amor, eu vou ficar o mais longe possível dela.
- Não tudo bem, eu só não quero que ela te traga mais problemas.
- Fica tranquila.
- Então eu tenho que ir, minha mãe está me chamando lá em baixo.
- Ta bom lindona, vai lá.
- Te espero amanhã então?
- Com certeza.
- Te amo muito Daniel.
- Também te amo muito Carolina.
Cala boca um pouco, deixa eu me acalmar. Respirei fundo umas três vezes e não foi suficiente. Eu era um homem ou um rato? Que merda, era só os pais dela. Só. Voltei a me deitar normalmente na cama, puxei a coberta até o pescoço e dormi. Estava tão bom, frio é vida.
- Filho, acorda - eu ouvi minha mãe dizer baixinho.
- Que horas são?
- Hora de ir pro colégio.
- O QUE? Mãe, como assim você não me acordou ontem? - eu perguntei levantando igual um tiro da cama.
- Você estava dormindo tão bem, achei que deveria descançar.
- Nossa mãe, tenho que tomar banho, comer.
- Então vai, está cedo ainda.
Cara, como eu fui capaz de dormir tanto? Fui pro banheiro, tomei um banho bem quente e fui para a cozinha comer. Devorei um pacote de bolacha e mais ou menos um litro de suco de laranja. Minha mãe chegou na cozinha e eu falei:
- Mãe.
- O que você quer? - ela perguntou sem me deixar concluir.
- Os pais da Carol querem me conhecer.
- Sério? Que legal filho, quando?
- Hoje.
Ela me olhou assustada mas logo abriu um sorriso.
- Que bom, e você vai não é?
- Sim.
Ela abriu outro sorriso e eu dei uma golada no suco para desfarçar o nervosismo.
- Fazia anos que você não dormia comigo hein filhote.
- Nossa mãe, cheguei quebrado ontem, e suas cobertas são tão quentinhas.
- Você estava sem camisa - ela disse tirando uma gargalhada de nós dois.
- Mãe, ontem tava frio e eu sai com a Carol de bermuda.
- Você é um bobo mesmo.
- Ah mãe, me deixa - eu disse brincando com ela.
Me levantei da mesa e peguei minha mochila. Dei um beijo na mamãe e fui sair de casa para ir pro colégio.
- Não quer uma carona filho?
- Opa, você já ta indo?
- Sim.
- Então eu quero sim, com certeza.
Fazia tempo que minha mãe não me levava para o colégio, era legal, me sentia criança.
- Beijo mãe, obrigado.
- Tchau filho, boa aula.
Gustavo não havia ido para a escola naquele dia. Mais tudo bem, iria sentir saudade do meu loiro, mas teria que superar isso. Logo que eu cheguei o sinal tocou, entramos na sala e rumo aos estudos. Eu estava meio tranquilo com esse assunto de nota, colégio, estavamos no último bimestre e eu já tinha nota o suficiente para passar. Ou não.
O dia no colégio não foi tão diferente. Aquela mesma rotina. Giovana não estava mais com o tal menino que ela agarrou ontem, bem a cara dela essas coisas.
Na saída, antes de ir embora, eu cruzei com ela de novo. E como ela não sabe ficar com a boca calada ela veio para o meu lado encher o saco.
- Viu, não estou mais com o menino de ontem.
- O menino de ontem? Você não sabe o nome dele?
- Claro que sei.
- Hum, agora vai ter tempo para mim então? - eu perguntei querendo iludi-la.
- Você ta falando sério? - ela disse com um sorriso enorme se jogando para o meu lado.
- Claro que estou.
- Eu tenho todo tempo do mundo para você Daniel.
- Que bom, por que eu não tenho, tchau Giovana - eu disse empurrando-a com meu corpo e indo em direção aos meus amigos.
Quando eu me virei para trás, lá estava ela, derrotada.
Starbucks. Estava com saudade disso. No frio, com os amigos, não existia nada melhor. Tomei uns cinco copos de café e mais uns seis de capuccino. Vício. Depois disso, nós saimos lá fora e ficamos observando o nada. Conforme eu e meus amigos conversavamos, surgia uma nuvem de fumaça que saía da nossa boca. Estava realmente frio. Me despedi dos meninos e fui para casa. Eu precisava me preparar pisicológicamente.
Cheguei em casa e fui no guarda-roupa, precisava de algo descente para vestir hoje. Sem parecer marginal, nem muito certinho, nem skatista demais, ou nerd. Normal seria perfeito. Separei um calça jeans (clássico), um moletom marrom e um tênis de skatista meio bege escuro, sei lá que cor era aquela. Eu não iria colocar camiseta, acho tão inútil colocar camiseta por baixo do moletom, se está frio, eu provalvente não vou tirar. Fui no banheiro e quando olhei no espelho eu percebi o quanto meu cabelo estava grande. Mas nem liguei, tava legal até. Dava pra bagunçar ele, ele é liso pra caralho, qualquer coisa daria certo ali. Ou não.
Fui para a cozinha almoçar. Eu tive que fazer meu almoço. Fiz um pouco de arroz e fritei umas carnes malucas que tinha lá. Já posso casar besta. E depois do almoço, hibernar.
Acordei era seis e meia da noite com o telefone de casa tocando. Era Carol, awn.
- Que voz é essa Daniel? - ela perguntou.
- Voz de quem acabou de acordar.
- Você não cansa de dormir não gordo?
- Pra falar a verdade? Não - eu disse fazendo ela rir do outro lado da linha e me fazendo rir também.
- Então, pode vim aqui lá pra umas oito horas?
- Pra mim tudo bem, pedi para minha mãe vir para casa, me levar, e depois voltar a trabalhar.
- Nossa, olha o trabalho que eu dou pra você.
- Psiu menina.
- Besta, mas então é isso.
- Então ta meu anjo, até de noite.
- Até, beijos.
- Beijos e uma mordida, nhac.
- Nhac em você também.
Ok, ela me deixava mais nervoso. Nada impossível de suportar, mas sabe como é. Fui para o banheiro me arrastando para tomar um banho, banho e frio não combina muito, é um sofrimento para entrar, depois que entra não quer sair, difícil.
Depois do banho coloquei a roupa que eu iria usar e achei que tinha ficado bom. A calça não era larga nem nada, acho que passaria uma boa primeira impressão. Tomei aquele outro banho de perfume e deixei o cabelo de qualquer jeito. Passei uma base, um pouco de lápis e aquele negócio na bochecha. Brincadeira tá? Isso era só pra quando eu saia com o Gustavo.
Minha mãe chegou em casa e eu fui abrir a porta para ela.
- Nossa filho, me matou com esse perfume.
- Por estar bom, forte, ruim?
- Calma Daniel, está muito bom, e se acalma menino.
- Ué mãe, eu estou calmo.
Senti que minha mãe tava tirando uma da minha cara. Boba mesmo. Fui na cozinha tomar um copo de água e esperei minha mãe guardar umas coisas dela lá em cima. Depois disso, eu dei um toque no celular de Carol. Ela havia pedido para fazer isso quando eu estivesse indo. Então eu parti.
Minha mãe me deixou em frente a casa dela, e eu descer do carro ela disse:
- Boa sorte com o sogrão.
- Valeu mãe.
Vi ela soltar uma risada depois que eu desci que eu não gostei, mãe besta que eu tenho. Brincadeira, amo ela. Já estava de noite, mas a casa dela era totalmente iluminada por umas luzes que tinha no jardim, e um corredor para o fundo da casa bem bonito, bem iluminado também. Toquei o interfone e um arrepio percorreu por todo o meu corpo.
- Daniel? - ela disse adivinhando que era eu ali.
- Sim.
- Vou abrir, espera aí.
Esperei ali do lado aquela muralha branca se levantar, sério, o portão era muito gigante. Quando ele abriu totalmente, eu pude ver Carol, linda, só pra variar. Estava com uma calça jeans preta, uma blusinha branca com um casaquinho marrom por cima e uma sandália que eu não fui capaz de entender. Ela veio da minha direção e antes mesmo de chegar, seu perfume já havia me drogado totalmente.
- Oi - ela disse dando um beijo em mim.
- Oi - eu respondi.
- Você ta gato amor.
- Você é quem ta linda.
- Awn, obrigada! Vamos entrar.
Eu poderia passar a noite ali na frente, não era necessário entrar. Ok, acabou o medo, tenho que ter coragem, é só o pai e a mãe dela.
Entrei pela porta da frente que era super pesada e grossa. Caminhei por um cômodo sem utilidade nenhuma. Carolina me puxava pelas mãos a procura dos pais dela, até acha-los em uma sala enorme, com uma televisão enorme, um home theater enorme, um sofá enorme, um tapete enorme, um lustre enorme e tudo muito lindo. Parecia casa de revista sabe? Carol me levou em direção a sua mãe, ela era bem bonita, usava jóias e tinha um cabelo chique, ela levantou do sofá e me encarou, eu sorri e ela também, então Carol nos apresentou.
- Mãe, este é o Daniel, e Daniel está é minha mãe Verônica.
- Boa noite, tudo bem? - eu disse segurando na mão dela.
- Olá, prazer - ela respondeu simpática.
Ela não me pareceu tão assustadora. Minhas mãos estavam geladas demais, e agora vinha o pior né, o pai. Logo ela me levou para um outro canto da sala onde seu pai estava me esperando de pé.
- Pai, este é o Daniel, e Daniel este é meu pai Antônio.
- Oi, tudo certo? – eu perguntei meio assustado com a altura que ele tinha, mas tentando ser simpático.
- Opa, beleza irmão - ele respondeu me dando um tapa no ombro e sorrindo.
Nossa, o pior já havia passado, e eles nem eram tão ruins quanto eu pensava. Ruim no bom sentido, entende? Eu estava tremendo por dentro. Carol ainda segurava minhas mãos. Ela me levou até o sofá onde seus pais estavam e sentou ali comigo. Achei que haveria um silêncio, mas ao contrário disso, sua mãe começou a conversar comigo.
- Então, quantos anos você tem?
- Eu tenho 17, vou fazer 18 daqui dois meses.
- Nossa, você é garotão ainda.
- Pois é - eu disse sorrindo morrendo de medo/vergonha.
Quis fazer uma moral com o pai dela e então puxei um assunto com o coroa.
- Pô, queria te dar parabéns, fui em uma das festas que você promoveu, e foi fera cara.
- Sério irmão? Valeu, vou fazer outras e você está convidado beleza?
- Olha, pode contar comigo.
O pai dela não tinha uma linguagem de pessoas ricas. Ele era todo de boa, falava umas gírias, e acho que isso me fez sentir melhor, menos perdido.
- Onde vocês se conheceram? - a mãe dela me perguntou fazendo me lembrar da mesma pergunta que minha mãe havia feito para Carol naquele dia em casa.
- Então, a gente se viu em uma festa primeiro, mas nem conversamos, aí outro dia eu vi ela novamente no clube e fui falar com ela. Aí começamos a conversar melhor e saimos algumas vezes.
- Sairam algumas vezes? Você nem me conta isso né dona Carolina.
Eu fiquei meio tenso com o bola fora, mas acho que não foi nada demais. Carolina e sua mãe logo começaram a rir. Menos mal.
- Bem, vamos jantar? - a mãe dela disse se levantando do sofá.
- Vamos Dan - Carol disse se levantando e segurando minha mão.
Passamos da sala para a cozinha. Era quase uma maratona, sério, a casa era muito grande. A cozinha era a coisa mais linda que eu já tinha visto, era enorme e toda combinando, sem palavras.
Fomos para a mesa pouco pequena também, e Verônica, mãe de Carolina, deu um lugar para eu me sentar. Ficou eu e Carolina de um lado da mesa, e seus pais do outro, na nossa frente. Havia apenas pratos, talheres e copos em cima da mesa. Logo veio uma mulher cujo o traje não negava que ela era a empregada. Ela foi para a cozinha e começou a chegar com o jantar. Era uma comida de rico, com nome francês, eu não entendia nada, ainda bem que não tinha aquela paradinha de um monte de garfo, um monte de faca, eu nunca entendo aquilo.
- Bon Appétit - a mãe dela disse para mim sorrindo.
- Obrigado, pra vocês também - eu respondi retribuindo o sorriso.
Bom, eu confesso que estava com fome, mas primeiro que não sabia direito o que eu realmente estava comendo, e segundo que até onde meus modos vão, comer demais é falta de respeito. Preferi comer apenas um prato e com calma.
- O que está achando o jantar rapaz? - Antônio, pai de Carol perguntou.
- Muito bom, de verdade.
Vi três sorrisos bonitos se abrindo para mim.
- Olha dona Verônica, agora eu sei pra quem sua filha puxou viu, vocês são bem parecidas e são lindas.
- Nossa, que fofo você garoto - sua mãe disse sorrindo para mim.
- E eu? Não sou bonito não? - seu pai perguntou de um jeito muito engraçado, fazendo a mesa toda gargalhar.
- Pô, me desculpa, o senhor também é muito bonito.
Ficamos rindo e eu me sentia um pouco melhor e mais a vontade. A empregada tirou os pratos do jantar e logo depois veio com a sobremesa. Cara, era um doce muito maluco que eu não sabia o nome também, mas estava com uma cara muito boa e não estava a fim de perder tempo olhando para aquilo. Ok, eu esqueço que tenho que ser educado na mesa.
Depois de encher a pança, ou quase, nós levantamos da mesa e eu e Carolina fomos lá para cima, era a vez dela de me mostrar o quarto. Tudo bem que eu também já conhecia o dela mas nem ligo, fui no mesmo jeito.
Da última vez eu não tinha reparado no caminho até o quarto, eu estava nervoso lembra? Eu nem conhecia ela direito e tal, mas dessa vez eu vi o quanto de dinheiro aquele cara ganhava só promovendo festas. Preciso desse emprego, agora. Mas falando sério, não é que reparava em cada detalhe, mas é que não existia detalhe, era tudo extravagante, enorme e chamativo que não tinha como não olhar. Chegamos no quarto dela e ela perguntou:
- Você está bem?
- Foi melhor do que eu imaginava, seus pais são de boa.
- É, eu falei que você iria se dar bem com eles.
- Awn, minha fofa, vem aqui me dar um beijo.
Eu a puxei pela mão e trouxe seus corpo para perto do meu, dei um beijo nela mas não quis ser indelicado, a gente estava no quarto dela e a porta estava aberta, imagina se alguém vê isso. Dei só mais um abraço bem apertado e disse:
- Acho que é isso que eu quero pra sempre.
- Isso o que? - ela perguntou.
- Você do meu lado.
- Awn. Obrigada por vir, eu te amo.
- Eu também te amo Carolzinha.
- Vem aqui Daniel, vou te mostrar meu lugar preferido da casa.
Ela segurou minhas mãos e me guiou até as escadas. Descemos para o primeiro andar e depois saimos para o fundo da casa por uma porta enorme da sala. Eu me deparei com um dos quintais mais lindos do mundo, nada de casa de famosos, nada de revistas, nada de Cribs MTV, era a casa dela. No fundo havia uma piscina com o formato arredondado, gigante, umas luzes que iluminavam apenas a borda da piscina, e deixava todo o resto do ambiente com uma luz suave. Mais pro lado tinha a churrasqueira e essas coisas todas. Ao lado da piscina haviam várias cadeiras para tomar sol, para não perder o costume, eram enormes também.
- Nossa, o que você estava fazendo no clube aquele dia? - eu perguntei com uma cara de bobo, certeza.
- Ai besta, vem aqui vem.
Ela me puxou para uma das cadeiras de sol e fez com que eu me sentasse ali. Ela sentou no meu lado na mesma cadeira e ficou conversando comigo. Paz, tudo que eu sentia.
- Deixa eu ver seu celular? - eu perguntei para Carolina.
- Deixo.
Peguei o celular dela e comecei a fuçar. Confesso que li umas mensagens, mas não tinha nada demais a não ser as amigas dela. Fui para as fotos e tinha umas lindas dela e dos pais em uma praia, não faço a mínima idéia da onde eles estavam, mas que era um lugar lindo, isso era. Fui para as músicas e tinha várias.
- Lady Gaga, All Time Low, Ke$ha, McFly, pô amor, você tem bom gosto musical.
- Eu sei - ela disse convencida.
Continuei a ver as músicas e encontrei outras coisas do tipo: Oasis, David Guetta, Chris Brown, NeverShoutNever etc.
- Nossa amor, você conhece McFly? - ela perguntou me encarando.
- Conheço, acho legal as músicas.
- Teu olho é idêntico ao do vocalista - ela disse segurando meu rosto e olhando meus olhos.
- Aquele Danny Jones lá?
- Sim, que por coincidência se chama Daniel também.
- Ah, nada a ver amor.
- Tudo a ver, seu olho é super azul, igual o dele - ela insistia ainda grudada nos meus olhos.
- Você gosta dele? - eu perguntei.
- Dele e do olho.
- Então pode ser.
Ela sorriu para mim e fez uma cara pensativa. Depois de alguns segundos de silêncio ela disse:
- E seu melhor amigo Gustavo lembra o Dougie, o Guh é baixinho e loiro também.
- Então você quer que eu e meus amigos se transformem no McFly?
- Não, prefiro você.
Fiz uma cara sapeca e resolvi perguntar a ela.
- Se você pudesse escolher, eu ou o Danny, quem você escolheria?
- O Danny claro.
Eu segurei no braço dela, de leve é claro, e comecei a implicar.
- A senhora pode fazer o favor de pensar direito nessa resposta.
- Ué, eu estou falando a verdade.
Eu apertei mais um pouquinho o braço dela e voltei a falar.
- Como que é dona Carolina?
- Ta bom, me solta!
Ela pegou meu braço e mordeu, levantou e saiu correndo. Eu fui atrás dela mas logo ela se entregou.
- Ta bom, ta bom, você ganhou, seu feio - ela disse vindo em direção aos meus braços.
Eu a abracei por trás e grudei minha boca em seu ouvido, comecei a apertar a barriga dela e disse:
- Diz quem você prefere agora, diz.
- Ai para, eu prefiro você, pronto - ela dizia tentando escapar do meu abraço.
- Ah é?
- É, me solta agora amor.
Ela gargalhava com vontade, ela odiava quando eu fazia cócegas em sua barriga. Voltamos a nos sentar juntos na cadeira, eu coloquei os pés para cima e Carol se encaixou nos meus braços. Eu abaixei um pouco a cabeça e dei um beijo no canto da sua boca. Ela olhou para cima e me deu um sequência de selinhos, logo eu uni nossos lábios e aprofundei o beijo, eu inclinei meu corpo mais para cima do dela e a beijei com força, não sei se era saudade, necessidade, mas eu precisava dela. Ela segurou meu cabelo e eu coloquei minhas mãos em seu rosto, nosso beijo fazia passar o frio que ainda ficava naquela noite.
- Está faltando uma coisa - ela disse depois que separei nossos lábios.
- O que?
- Isso - ela disse subindo o corpo para perto da minha boca e dando uma mordida no meu lábio inferior.
- Ah sua chata, eu também quero - eu disse fazendo bico.
- Awn, tadinho dele.
Eu segurei suas bochechas com as duas mãos e mordi o lábio dela também, lentamente eu fui puxando e depois que eu soltei, voltei a beija-la. Nossa noite foi assim, ficamos juntos e de vez em quando nós iamos conversar com seus pais. Não foi nada assustador, nada de ruim aconteceu, eram pessoas normais e simpáticas, eu tinha adorado os dois, e pelo que deu para perceber, eu até que consegui passar uma boa impressão para eles também. Dei boa noite para eles, e logo depois me despedi de Carolina, do melhor jeito, claro.
Cheguei em casa e caí na cama, eu estava cansado, e havia combinado de dar uma volta com Carol no sábado. Muitas pessoas dizem que namorados que se veem todos os dias, enjoam. Juro que não me consigo ver enjoado dela, era como se ela fosse minha vida, nós podemos viver até uns cento e cinquenta anos de idade, nós não vamos ficar com tédio da própria vida, nós não vamos enjoar de viver, a cada dia que passar, nós vamos querer mais e mais, e era isso que eu queria de nós dois.
Mas uma vez o sol atravessou a janela e fez com que meus olhos abrissem lentamente, e sem vontade nenhuma de acordar. Não tinha outro jeito, eu só queria dormir para sempre, mas quando eu acordasse minha mãe me mataria, então eu prefiro levantar e tomar um banho. Depois do banho eu fui lá para baixo comer alguma coisa, me deparei com uma caixa de bis muito linda. Sim, comi quase tudo. Depois do momento gula eu fui para sala e liguei para Carolina.
- Bom dia amor - eu disse super empolgado.
- Bom dia meu gato.
- Então amor, eu descobri uma coisa ontem a noite.
- Sério, o que? - ela perguntou curiosa.
- Que eu te amo mais do que eu pensava.
- Awn meu fofo, que vontade de morder sua bochecha.
- Eu deixo você fazer isso quando a gente se ver. Mas diz aí, quais foram os comentários depois que eu fui embora da sua casa?
- Ah amor, eles amaram você, de verdade. Minha mãe até falou que eu tenho bom gosto, e disse que você é super simpático e que seus olhos azuis são lindos.
- Sério? Que alivio, isso ficou na minha cabeça a noite inteira.
- Pois então não se preocupe, e deixe eu te falar uma coisa, hoje a gente ia sair e tal, mas não vai dar, desculpa, mas eu tenho que fazer uns negócios com meu pai, ele quer que eu ajude ele a planejar algumas coisas para a festa de sábado.
- Ah, eu não poderia também, vai ter um rolê de skate hoje e iria todos os amigos, não que eu iria te trocar por eles, mas já que você não pode, eu posso ir?
- Claro que pode.
- Awn, e ajuda o coroa pra fazer uma festa bem legal pra sábado ta bom?
- Pode deixar, minhas idéias são boas, e vou lembrar de convidar pessoas simpáticas dessa vez ta bom seu feioso? - ela disse me fazendo lembrar daquela última festa que a gente nem namorava ainda.
- Nossa, você ainda lembra que eu te falei isso? Que vergonha.
- Claro que lembro, e relaxa, foi super fofo da sua parte falar que eu era a a garota mais simpática da festa.
- Awn, então fica assim minha miss simpatia.
- Então ta amor, beijos.
- Beijos, te amo pequena.
- Também te amo pequeno.
- Pequeno? Eu pergutei assustado.
- Ué, só por que você tem músculos e um e oitenta e cinco de altura você não pode ser o meu pequeno?
- Claro que posso.
- Então, tchau.
- Tchau, chata.
Depois de desligar o telefone, eu fui para cima me trocar. Eu, meus amigos e mais uns caras da escola iria para uma pista de skate que tinha no centro da cidade para brincar um pouco. Eu estava com saudade de levar o skate um pouco mais a sério, ultimamente ele só tinha me ajudado para ir na casa da Carol. Não vejo a hora de ter meu carro.
Peguei meu skate e fui, minha casa não era tão longe do centro, então foi de boa ir de skate até lá. Chegando em tal lugar, os meninos já estavam lá aquecendo.
- Fala moleque - Felipe veio me cumprimentar.
- Opa.
- E aí brother, largou um pouco a mulher pra andar com seus amigos? - Rick, um dos amigos do colégio me perguntou tirando umas gargalhada de todo mundo que estava ali.
- É verdade, esse gay nunca mais saiu comigo - Gustavo completou fazendo até bico.
- Pô Gustavo, você sempre será minha única mulher - eu disse tirando outra gargalhada do pessoal.
Era muito bom sair com os amigos mesmo, mas com a namorada era melhor. Começamos a andar e nossa, eu já estava até perdendo o jeito de andar. Ficamos ali e depois de uns dez minutos, tinha um galera em volta de pista assistindo a gente, foi bem legal. Um homem chegou para mim e falou:
- Nossa cara, fazia tempo que não via um pessoal andando de skate por aqui, foi legal ver vocês e até conseguiram juntar uma platéia aqui.
- Pois é, a gente resolveu vim aqui hoje e achei bem legal também - eu respondi sorrindo ao ver o tanto de gente que tinha em volta.
- Eu que construi essa pista, e to pensando em reformar e tal.
- Opa, aí seria bom cara.
- É, eu vou ver certinho, quem sabe você e a rapaziada não ganha uma pista nova aí.
- Seria muito bom velho.
Isso realmente seria legal, acho que fizemos sucesso lá. Continuei andando com os moleques, e de repende, senti quatro olhares maliciosos em mim, eram elas, Giovana e sua trupe. Cara, ela colocou GPS em mim? Ela me persegue? O que ela sente por mim afinal, ódio, amor? Que ódio, que menina filha da puta. Mas continuando, acho que elas jogaram uma macumba em mim, eu caí do skate de muito, muito mal jeito.
Eu abri os olhos e haviam várias pessoas em volta de mim. Inclusive elas. Eu tentei levantar mas o Vinicius pediu para eu permanecer deitado. Eu olhei para ele sem entender e então ele disse:
- Espera aí cara, acho que você quebrou o braço.
- O QUE? - gritei revoltado.
- Calma, não levanta e nem se mexe, já ligamos para a ambulâcia.
Eu comecei a me xingar mentalmente, como eu poderia quebrar o braço? Tudo bem, continuei deitado e todo mundo me olhando com aquela cara de velório, cara, eu só tinha possivelmente quebrado um braço, eu ainda estava vivo. Giovana se sentou do meu lado e disse:
- Desculpa se eu te desconcentrei, não era minha intenção.
- Cala boca Giovana, pode agradecer que sua macumba deu certo - eu gritei estressado com a coragem que ela tinha de me falar uma coisa daquela.
Todo mundo olhou para nós e não tinha mais como esconder que nós dois não eramos mais amigos. Ela olhou para mim assustada e falou:
- Macumba Daniel? Eu nunca faria isso com você, você sabe o quanto eu te amo.
- Vai se foder menina, não me enxe o saco.
Gustavo me olhou com uma cara assustada, e logo tirou Giovana dali, ela começou a gritar:
- Não Gustavo, eu quero ir com ele pro hospital.
- Você não vai, eu vou - ele disse.
Logo depois ele que se sentou ao meu lado e perguntou meio que gritando.
- Cara, o que é isso? Isso é jeito de falar com a Giovana? Ela é sua amiga.
- Gustavo, ela não é minha amiga, faz dias que está rolando umas coisas que eu nem te contei, achei melhor, e eu não suporto ela, e não quero ela do meu lado.
- Nossa brother, não sabia disso, foi mal.
- Relaxa.
Uma dor de cabeça imensa tomou conta de mim, eu só fechei os olhos e senti Gustavo dando um tapinha no meu ombro não machucado. Logo depois ouvi a sirene do carro da ambulância ali do lado. Os médicos passaram por todas as pessoas que ainda estavam ali em minha volta e me colocaram em uma maca, depois dentro do carro e fui para o hospital, Gustavo foi comigo lá trás.
- O que aconteceu? - eu ouvi a médica perguntar para o Gustavo.
- Nós estavamos andando de skate, mas ninguém viu o momento exato que ele caiu, acho que foi em cima do braço.
- Eu quebrei? - perguntei interrompendo a conversa.
- Provavelmente - a médica respondeu tirando um suspiro de ódio do meu pulmão.
- Como é seu nome, idade e o nome da sua mãe? - um outro médico perguntou.
- Daniel, 17 anos e o nome da minha mãe é Sandra.
Pediram o telefone e ligaram para a minha mãe. Coitada, eu até imagino o desespero que ela ficou quando recebeu a notícia, eu preferia nem contar naquela hora, mas era necessário para os médicos. Depois disso, Gustavo se abaixou até mim e perguntou:
- Quer que eu ligue para a Carol?
- Ah cara, depois eu ligo, é melhor.
- Também acho, ela vai ficar preocupada.
Chegamos no hospital e eu fui para um quarto para ser examinado. E sim, eu realmente tinha quebrado meu braço. Não era nada grave, era simples, mas mesmo assim, aqueles dois mesês de gesso. Merda.
Minha mãe cheou no hospital com uma cara super preocupada, deu até vontade de rir, mas eu fiquei com dó dela, tadinha. Ela me levou uma caixa de chocolate cara, minha mãe é muito engraçada.
- Filho, você está bem? O que aconteceu?
- Mãe, eu estou bem, só caí andando de skate, não precisava sair do trabalho.
- Você quebrou?
- Sim, mas relaxa, ta de boa.
Ela se sentou do meu lado e disse:
- Já contou pra Carolina?
- Não, acho que vou ligar para ela agora.
- Liga sim filho.
Peguei meu celular do jeito que eu conseguia e liguei para Carolina.
- Olá amoreco - ela disse me fazendo rir com o ‘amoreco’.
- Oi minha linda.
- Tudo bem?
- Não muito, mas dá pra superar.
- O que aconteceu Daniel, pelo amor de Deus - ela disse com a voz preocupada.
- Não, calma, eu só caí de skate.
- Como assim, você está bem?
- Sim, só quebrei um braço.
- Daniel do céu, aonde você está? Eu estou indo aí.
- Não Carol, para, não precisa.
- Não precisa o caralho, me fala logo.
Nossa, ela falou palavrão, era melhor eu falar. Falei o hospital que eu estava e ela nem me deu tchau no telefone, desligou na minha cara praticamente.
- Ela vem pra cá? - minha mãe perguntou.
- Não sei, ela desligou na minha cara.
- Então ela vem, eu vou indo filho, tenho que voltar pro trabalho.
- Vai lá mãe, não deveria nem ter saído.
Ela me deu um beijo na testa e foi embora. Depois de cinco minutos minha namorada entrou no quarto do hospital em que eu estava igual um tiro.
- Amor, você está bem?
- Carol, sua teimosa, eu falei que não precisava vir aqui.
- Ah não Daniel, eu quis, posso?
- Pode.
Ela sorriu com uma preocupação bem visível no olhar. Me deu um beijo dão bem dado que eu já poderia sair dali curado.
- Acho que vou quebrar o braço sempre.
- Cala boca, não fala isso.
- A senhora anda muito mal educada, primeiro fala ‘caralho’ para mim no telefone, agora manda eu calar a boca, o que está acontecendo com você?
Ela finalmente sorriu com vontade e de verdade, me deu outro beijo e eu realmente estava estranhando, ela me beijava com tanta vontade, que nossa, de boa, eu estava perdendo o ar. O médico entrou na sala e disse:
- Desculpa atrapalhar o casal, mas vamos aos fatos.
Eu e Carol sorriu com um pouco de vergonha pelo flagra, mas eu queria prestar atenção no que ele iria falar.
- Então Daniel, acho que você terá que passar essa noite aqui, você já quebrou o braço uma vez, e mesmo que agora não seja nada grave, é bom que você fique aqui essa noite.
- Ah, sério? - eu disse desanimado.
- Infelizmente.
- Eu posso dormir aqui? - Carol perguntou.
- Não amor, para com isso, vai pra casa - eu disse segurando a mão dela.
- Pode sim moça - o médico respondeu e saiu do quarto.
Ela se virou para mim e eu comecei a brigar com ela.
- Se eu soubesse que você iria fazer tudo isso, eu nem teria te avisado.
- Eu quero dormir aqui e não é meu namorado teimoso que vai impedir isso.
- Para Carol, de verdade, vai para casa, seus pais não vão querer também.
- Para você amor, eu quero meu, deixa.
- Eu estou falando que você está mal educada.
- Besta, você que me deixa mal educada então.
- Então me dá um beijo.
- Não, eu estou devendo uma coisa.
- O que? - eu perguntei sem entender.
Ela veio na minha direção e me deu um beijo, logo depois me mordeu. Tinha me esquecido disso, lembra da conversa no telefone? Então.
- Espera aí, eu já volto - Carol disse me dando um beijo no rosto.
- Aonde você vai?
- Espera.
Ela saiu do quarto e eu encostei a cabeça no travesseiro. Uma sensação de alívio e leveza tomou conta de mim. Sono, era isso que eu tinha.
Eu abri os olhos, com muito esforço, e quando olhei para o lado, Carolina estava dormindo em uma poltrona. Olhei para o relógio ao lado da cama e ele marcava uma hora da manhã. Tomei cuidados para não fazer nenhum tipo de barulho. Totalmente em vão. Carolina acordou e me olhou com os olhos inchados.
- Amor, você ta bem? - ela perguntou com a voz sonolenta.
- Estou minha linda, volta a dormir.
- Eu comprei isso daqui para você - ela disse me entregando um pacote.
Quando abri, eu me deparei com o que eu realmente precisava naquele momento. Um copo de café do Starbucks e um lanche bem bonito. Comi aquilo como se fosse o último alimento do universo.
- Você já comeu Carol? - eu perguntei preocupado por ela estar ali.
- Comi sim, relaxa.
- Você é a melhor namorada do mundo.
- Nunca fiz nada de tão bom para merecer esse título.
- Não? O que é isso então?
- Ah, besta.
- Volta a dormir amor - eu pedi para ela.
- Volta a dormir também.
- Ta bom.
- Boa noite Dan.
- Como assim, cade meu beijo de boa noite?
Ela se levantou e veio para mais perto, apoiou um de seus cotovelos na cama onde eu estava deitado e me deu um beijo perto do pescoço. Eu disse:
- Eu te amo Carolina.
- Eu te amo também.
Ela voltou a me beijar, só que dessa vez na bochecha. Eu virei o meu rosto, achando seus lábios, cada movimento me fazia ter certeza de que era disso que eu precisava para o resto da vida. Ela aprofundou o beijo, e segurava meu cabelo com um pouco de força, depois de partimos nossos lábios, eu dei um selinho demorado nela, e logo depois vi um sorriso se formar em seu rosto pela leve mordida que dei em seu lábio inferior.
Eu já aguardava minha mãe na frente do hospital, de mãos dadas com Carolina, e infelizmente, com o braço engessado. Era domingo, e eu só queria ficar em casa curtindo o frio.
- Vai pra casa comigo? - eu perguntei para Carol.
- Não sei, sua mãe vai estar lá?
- Não sei também.
- Se ela ficar em casa eu fico lá com você um pouco.
- Ta bom fofa, e obrigado mais uma vez pela companhia.
- Não tem que agradecer gato.
Minha mãe chegou e eu e Carolina entramos no carro. Conversei com minha mãe, expliquei que tinha ocorrido tudo bem e essas coisas todas, e então perguntei.
- Mãe, você vai ficar em casa hoje?
- Não filho, eu tenho que sair atrás de umas coisas, porquê?
- A Carol não pode ficar lá em casa? - eu perguntei vendo Carol me bater na perna.
- Claro que pode, acho até melhor.
Dei um sorriso para Carolina, vendo-a fazer uma cara como se estivesse falando: você é terrível.
Entramos em casa e eu tranquei a porta. Carolina me abraçou forte e disse que tava com saudade de me abraçar, que fofa. Fui para a cozinha com ela e pergutei:
- O que a senhorita quer de almoço?
- Não se preocupa comigo, você não está em boas condições para cozinhar.
- Eu cozinho até de olho fechado, acha que um braço quebrado irá me atrapalhar?
Vi ela sorrir e então peguei um daqueles lanches congelados, que em um minuto e meio no microondas fica pronto, sabe? E fiz para comermos.
- É isso tudo que você faz na cozinha amor? - ela perguntou rindo.
- Sinto que você está brincando com a minha cara.
- Awn, claro que não, está uma delicia seu lanche.
- Bom mesmo, hunf.
Depois de almoçar meu belo lanche congelado, nós ficamos sentados na mesa olhando um para a cara do outro.
- Vamos dormir? - sugeri.
- Estou precisando.
Peguei na mão dela e subi para o meu quarto.
- Espera aí, pode deitar se quiser, eu vou tomar um banho, tirar essa roupa de hospital.
- Ta bom, vai lá.
Fui para um banho rápido, e depois que saí, me vesti ali no banheiro, claro, com um moletom bem quentinho. Fui para o meu quarto e Carol estava sentada na minha cama assistindo tv.
- Pronto gata.
- Está passando Cribs MTV - ela disse totalmente vidrada com os olhos na tela.
- Você gosta também?
- Sim, só que essas casas me fazem ver o quanto a minha é pequena.
Espera, essa fala é minha, enfim.
- Sua casa pequena? Nossa amor, ta bom.
- Não estou falando que ela é pequena, mas perto dessas ela é um cômodo praticamente.
Eu a encarei sentadinha ali na cama, e fui ali também. Peguei edredom e umas cobertas de lã, e joguei em cima da cama. Me deitei do lado da onde ela estava sentada, dei um beijo nela e disse:
- Boa noite amor.
- Mas é folgado mesmo, vai me deixar aqui, sozinha vendo televisão, assistindo ao seu sono profundo?
- Awn, vem cá então, ta quentinho aqui.
Puxei ela pela cintura fazendo-a deitar do meu lado. Abracei ela e nos cobri com as cobertas. Ficamos assim por um tempo, até dormimos. Se eu dormi profundamente, eu não sei, eu não conseguia pensar, eu estava com a garota da minha vida do meu lado, e do jeito que eu precisava, me transportanto felicidade, amor, carinho, eu realmente não tinha o que pensar. Era tudo muito demais para a minha cabeça, com apenas 17 anos. Sim, eu dormi, por um milagre ou por algum motivo maior, eu consegui tal coisa.
Depois de uma hora e meia, eu acordei. Eu estava jogado em um canto da cama. Virei meu corpo para cima e encarei o teto, meus olhos ainda se fechavam involuntariamente. Depois de uns cinco minutos que eu me lembrei de Carol. Olhei para o lado e ela estava ali, dormindo, toda linda. Sorri sozinho e me deitei mais perto dela. Beijei seu braço coberto pelo moletom e a vi virar o corpo para mim.
- Bom dia - eu disse sorrindo vendo-a abrir os olhos lentamente.
- Oi - ela me respondeu com a voz manhosa.
- Você fica bonita dormindo.
- A quanto tempo você está me olhando?
- Dois minutos.
- Sei.
Eu sorri e abaixei meu rosto para beija-la. Minha mão, sem gesso, percorreu sua cintura e ela envolveu seus braços no meu pescoço. Depositei selinhos em seu rosto e depois me afastei dela.
- Alguém já beijou seu olho? - Carol perguntou.
- Não.
- Como não, é a melhor coisa do mundo, vem aqui.
Voltei para o lado dela e ela segurou meu rosto com as mãos, e ordenou:
- Feche os olhos.
Eu obedeci e logo depois ela beijou meus olhos, bem leve e lentamente, e realmente, era uma sensação boa.
- Seus olhos são meus - ela disse.
- É? Quando você os comprou? - eu perguntei brincando com ela.
- Aquele dia, a primeira vez que eu te vi.
- Sério?
- Sim.
- Então seu coração é meu - eu falei olhando-a nos olhos.
- É? Quando você comprou? - ela perguntou repetindo meu gesto.
- Quando eu passei a te amar.
- E quando você passou a me amar? - ela insistiu pergutando.
- Aquele dia, a primeira vez que eu te vi - eu disse dessa vez, repetindo a fala dela.
Ela sorriu e me deu um beijo. Sabe aquela paz que só ela me dá? Então, era o que eu sentia, de novo.
Ouvimos a porta lá em baixo fazer barulho, era a minha mãe, certeza. Levantei e fui lá abrir para ela. Ela SEMPRE esquecia das chaves. Dei um beijo nela e ela me perguntou:
- Carol ainda está aqui?
- Sim - eu respondi vendo-a fazer uma cara culposa.
- Desculpa estragar a paz de vocês.
- Para com isso mãe.
Minha mãe era uma fofa. Voltei lá para cima e Carol estava de pé ao lado da cama.
- Você está bem amor? - eu perguntei vendo que ela encarava o chão.
- To sim Dan.
- Vamos lá pra baixo, minha mãe chegou.
- Vamos, mas daqui a pouco eu tenho que ir embora.
- Ok gata.
Saimos do quarto e descemos a escada. Eu estava de meias e quase escorreguei, foi tão engraçado. Carol e minha mãe se cumprimentaram e tudo mais, e depois ficamos ali conversado sobre nada, pra variar.
Depois de algum tempo, Carol disse que tinha que ir embora, e foi o que ela fez. Minha mãe insistiu para leva-la em casa, mas ela preferiu ligar para sua mãe. Ela tinha ficado estranha, mas acho que era coisa da minha cabeça, assim espero.
Os dias passaram, a festa que o pai de Carolina ia fazer não acabou rolando. Ainda bem, eu não pretendia sair de casa com aquele gesso no braço. Eu estava mofando no domingo em casa. Até Carolina linda me ligar:
- O que você ta fazendo amor? Ela perguntou no telefone.
- Nada, porque?
- Vem fazer nada comigo, to criando raizes aqui em casa.
Eu ri e disse para ela que estaria lá em dois minutos. Mentira, porque eu cheguei lá depois de vinte e cinco minutos. Sou o grande mentiroso mesmo. Ta, parei.
- Entra - ela disse abrindo a porta da frente e me dando passagem.
- Como você tá? - eu perguntei dando um beijo em seu ombro enquanto fechava a porta.
- Estou bem, e você?
- Estou bem também.
Ela estava tão a vontade com um moletom enorme, short e meia.
- Você está me seduzindo amor - eu disse tirando uma gargalhada dela.
- Não liga, eu estava dormindo.
- Tudo bem, você está realmente me seduzindo.
- Besta, vem aqui comigo.
Fomos até a sala, onde tinha um colchão no chão com vários cobertores jogados em cima. Sentamos ali e ela começou a fazer suas unhas.
- Pra que mulher faz isso? - eu perguntei encarando-a concentrada nas unhas.
- Pra ficar legal e bonito.
- Para mim não muda.
- Para a mulher, sim.
Sorri ainda sem entender o motivo pelo qual as mulheres fazem essas coisas, mas ok, confesso que acho legal.
Carolina ficou ali pintando as unhas por uns dez minutos, enquanto isso, conversavamos sobre qualquer coisa. Depois que ela terminou, ela ficou esperando as unhas secarem.
- Viu, agora você não pode nem me abraçar por causa das unhas - eu disse fazendo bico.
- Awn meu nenê, é rapidinho para secar.
- Não quero conversa com você.
Ela sorriu e ficamos conversando mais um pouco. Ela estava sozinha em casa, na verdade tinham os empregados que estavam por toda a parte, era um empregado para cada cômodo praticamente, eu hein.
Carolina veio ao meu lado e me abraçou, e para tirar uma da minha cara falou:
- Está bom assim?
- Quero um abraço mais forte.
Ela me apertou com seus braços e eu fiz o mesmo com ela, logo depois dei um beijo em sua bochecha. Ela colocou as mãos por de baixo do meu moletom, eu levei um pequeno susto quando senti suas mãos geladas tocarem minha barriga, ela me encarou assustada e perguntou:
- Daniel, porque você está sem camisa por baixo do moletom?
- Ah amor, não é necessário no frio.
- Claro que é, você é bobo? - ela perguntou tirando uma gargalhada de nós dois.
Ok, era realmente estranho, mas como eu já disse, era totalmente inútil usar camisa sendo que você não iria tirar o meletom.
- Da pra tirar as suas mãozinhas geladas da minha barriga moça?
- Não - ela respondeu apertando mais ainda a minha barriga.
Tudo bem, mais alguns minutos e eu me acostumaria.
- Espera aí amor, eu já volto - ela disse se levantando e subindo as escadas.
Enquanto ela não voltava, eu fiquei observando a estante que ficava na sala, era cheia de fotos de familia, e umas de Carol quando era pequena, eu comecei a rir sozinho com as carinhas que ela fazia para as fotos, as poses então eu não vou nem comentar. Carol chegou na sala com uma máquina digital na mão.
- O que é isso? - eu perguntei mesmo sabendo que era uma máquina.
- É pra gente tirar fotos juntos.
Ela me abraçou e logo bateu uma foto, sim, eu devo ter ficado péssimo, mas tudo bem. Depois ela apenas juntou-se a mim e tirou outra foto.
- Amor, e essas fotos suas de quando era bebê? - eu perguntei.
- Ah, você viu como eu era lindinha?
- Sim, pena que cresceu.
Ela me olhou com maldade e logo veio na minha direção, me encheu de porrada no peito e eu não conseguia parar de rir da cara que ela tinha feito.
- Eu estou brincando minha linda, você cresceu e só conseguiu ficar mais bonita.
- Não adianta Daniel, você já falou.
- Ta bom então feia.
Eu fui até ela e dei um beijo em seus lábios, ela ao menos se mexeu, fingindo estar brava. Eu sai de perto dela e voltei a me sentar no colchão que estava ali no chão na frente de um sofá enorme. Fiquei vendo tv até eu sentir Carolina atrás de mim, quando eu olhei para trás, já era tarde. A menina me deu um ataque aéreo muito do mal. Eu joguei meu corpo para frente, mas ela ainda estava em cima de mim, tentando lutar comigo, puta injustiça. Quando eu achei que nada poderia piorar, eu vi um flash vindo do meu lado esquerdo. Quando olhamos, era a empregada de Carol tirando uma foto daquele momento lindo.
- Alice, essa foto deve ter ficado linda - Carol disse indo na direção dela.
- Ficou linda sim, vocês são um casal muito bonito - a empregada disse tirando um sorriso de mim.
Carol riu vendo a foto e logo veio me mostrar, fiquei com medo, mas tudo bem.
- Calma Alice, volta aqui - Carol gritando fazendo a moça voltar para a sala.
- O que você quer? - ela perguntou.
- Tira outra foto nossa.
Carolina me puxou e me deu um beijo nos lábios, e então eu vi outro flash. Ok, que momento lindo para uma foto.
- Obrigada Alice.
Começamos a ver as fotos e estavam engraçadas, bem engraçadas, e fofas. Sentamos no colchão novamente e começamos a ver tv. Abraçados e no frio, nada melhor. Ficamos por um bom tempo ali, até eu ter uma idéia perfeita, então eu disse:
- Amor, vamos lá fora, quero te ensinar uma coisa.
- O que? - ela perguntou curiosa.
- Vamos lá ué.
Levantamos e Carol apenas colocou um chinelo, que pelo tamanho era de seu pai, e fomos lá para fora. Fui até a porta onde tinha deixado meu skate e o peguei. Levei ela até um calçada lisa e enorme que tinha em frente a sua casa.
- Vamos, você vai andar de skate.
- Como assim Daniel? Eu não tenho a mínina noção de como faz isso.
- Eu te ajudo, vai.
Eu coloquei o skate no chão, e segurei ele com a ponta do meu pé, peguei Carol nas mãos e cuidadosamente pedi para ela subir no skate.
- Eu vou cair daqui - ela disse segurando firme na minha mão.
- Também acho, é melhor você tirar esse chinelo.
Ela desceu do skate e tirou o chinelo, ela estava de meia, então eu achei melhor ela colocar um tênis. Tirei o meu e falei:
- Coloca o meu, dá esse chinelo aqui.
Ela calçou meu tênis, que claro, ficou enorme, mas era bem melhor que um chinelo gigante. Voltei a colocar ela em cima do skate e comecei a empurra-la. Ela segurava no meu ombro, e mesmo com um braço quebrado, eu tentava ajuda-la. No começo foi um fracasso, mas com alguns minutos de treino, ela já estava pegando o jeito.
- Vai, quero ver sem minha ajuda agora - eu disse vendo o olhar de espanto que ela me retornou.
- Só se você me prometer que não vai rir caso eu cair.
- Eu não vou rir.
Ela pegou o skate e foi até o começo da calçada, e confesso que foi uma aula muito rápida, ela tinha o jeito e não caiu nem nada, foi uma maravilha para quem tinha subido em um skate pela primeira vez na vida.
- Muito bem senhora Carolina, nota dez.
- Eu tenho um ótimo professor.
- Eu sei - eu disse convencido.
Fui até ela que ainda estava em cima do skate e a abracei. Eu realmente estava irritado em querer abraça-la direito, mas ter um gesso impedindo tal coisa. Tudo bem, eu superava aquilo.
- Amor, eu tenho que ir embora - eu disse vendo uma carinha triste se formar no rosto dela.
- Ah não, fica mais um pouco.
- Eu tenho que ir, mas quero um favor primeiro.
- Diga.
- Quero as nossas fotos para eu colocar no meu quarto.
- Ah sim, claro, você não quer levar a máquina? aí quando você tiver elas, você me devolve.
- Ok, pode ser.
Carolina foi para dentro de casa pera pegar a máquina para mim. Eu queria ter uma foto nossa para ver toda noite antes de dormir, seria legal. Ela voltou e me entregou a máquina.
- Então ta bom amor, nos vemos em breve - eu disse dando um abraço nela.
- É, boa aula amanhã.
- Pra você também fofa.
Segurei sua cintura com uma mão e puxei seu corpo para mais perto do meu, encostei nossos lábios e aprofundamos o beijo. Depois de uns cinco minutos grudados ali, nós desunimos nossa boca, e eu mordi seu lábio dando uma leve puxadinha. Ela sorriu e me deu um beijo no canto da boca, logo depois voltei a abraça-la. Ela aprofundou seu rosto em meu ombro e depositou um beijo no meu pescoço.
- Te amo - eu disse.
- Te amo também - ela respondeu dando-me um último beijo.
- Será que eu posso pegar meu tênis de volta? - eu perguntei vendo Carol encarar os pés rindo.
- Claro, são todos seus - ela disse ainda rindo e tirando o meu tênis do pé.
- Agora eu vou.
- Tchauzinho.
Fui para casa, de skate e com cuidado para não cair e quebrar o outro braço. Que horror. Chegando em casa minha mãe estava lá fazendo uma janta caprichada para nós dois. Antes que ela terminasse, eu fui para o computador passar as fotos minha e da Carol. Depois disso, desci para a cozinha e jantei, tomei um banho e caí na cama. Aula no dia seguinte, amo.
Cheguei no colégio e a primeira pessoa a me abordar, adivinha? Sim, Giovana. Ela fez uma cara fingida de dó e veio me falar:
- Nossa Daniel, você está bem?
- Sim.
- E o braço? Vai ficar tudo legal?
- Sim.
Eu respondi seco, sem sorriso e sem parar para conversar com ela. Não tinha mais que esconder o ódio que eu sentia por ela, a maioria das pessoas do colégio já sabia que nós estavamos brigados, notícia corre.
- Posso conversar com você depois da aula? - ela perguntou vendo que eu não estava a fim de papo naquele momento.
- Depende.
- Do que?
- Você vai me agarrar? Me beijar? Ou vai dizer merda? Se vai fazer alguma coisa dessas, não precisa nem perder seu tempo.
- Eu não vou fazer isso, só quero conversar.
- Ta bom, mas é rápido.
- Te vejo no fim da aula então.
O passeio naquela fazenda com o colégio acabou não rolando, o frio, a chuva que ameaçava todos os dias, não deu certo, que ótimo. Enfim, continuei caminhando até a porta da sala, o sinal já havia batido, e eu queria, pela primeira vez na vida, que a aula demorasse para passar. Mas é claro que isso não aconteceu. O sinal da saída tocou parecendo que tinha passado apenas cinco minutos. Ok, lá vou eu ouvir mais merda que aquela menina tem pra falar.
Todos já tinham ido embora, se não todos, pelo menos a maioria. Logo eu observei Giovana encostada em um muro, fui até ela para acabar logo com essa idiotice.
- Achei que não iria me esperar - ela disse chegando mais perto de mim.
- Eu fiz esse sacrifício, mas diz logo.
- Daniel, você acha mesmo que você tem futuro com aquela menina?
Eu não pude acreditar no que meus ouvidos tinham acabado de escutar, ela tinha me prometido que não falaria merda, respira.
- Giovana, quando você vai desistir dessa história?
- Até você se tocar de que ela não é perfeita para você.
- E como você sabe disso? Quem é perfeita para mim então? Você? - eu disse alterando um pouco a voz, mas mesmo assim tentando me controlar.
- Aquele dia na praia, eu percebi o jeito dela, e eu sei que não faz o seu tipo, nós eramos amigos, não se esqueça disso, eu sei muito sobre o que você gosta.
- Só que o problema é que eu mudei Giovana, eu estou bem com ela, e ela nunca me deu motivos para não confiar, se um dia isso acontecer, é claro que eu não vou ficar com ela.
- E quando isso acontecer? O que você vai fazer?
- O que você quer que eu faça? Venho correndo para os seus braços?
- Você sabe que mesmo você me odiando eu sempre vou te ter como um amigo Daniel, e sim, apesar dos seus erros, eu sempre vou estar de braços abertos para você.
- Ta Giovana, eu agradeço, vou embora agora.
- Espera um pouco, só mais uma coisa.
- O que foi?
Ela me puxou pelo braço e novamente me deu um beijo, não foi na boca, mas foi perto. Eu me controlei para não dar um tapa no rosto dela. Mas eu segurei com força em seu punho e disse:
- Para com isso Giovana, é a segunda vez, você sempre quer conversar, mas suas intenções são sempre outras né?
- Por favor, só deixa eu te dar um beijo.
- Não, é capaz de você me passar seu veneno.
- Não me ofende Daniel.
- Agora você é a ofendida aqui? Que bom para você gata, agora eu to indo.
- Pensa no que eu te falei, um dia você vai me entender.
- Eu nunca vou te entender Giovana, nunca mesmo.
- Vai sim, escreve o que eu estou te falando. Ela vai te decepcionar muito ainda.
- A única pessoa que me decepcionou nessa história toda foi você.
Eu soltei o pulso dela e vi a marca vermelha de meus dedos em seu pulso. Antes de virar as costas e ir embora, ela ainda retornou a falar:
- O que eu fiz para te decepcionar?
- É tudo o que você precisa saber? Porque se for, eu não me importo de sentar em algum lugar e te explicar tudo.
- Então é isso que a gente vai fazer.
- Ótimo.
Andei até um banco que ficava ali mesmo na frente do colégio, e vi Giovana me seguindo. Me sentei e ela se sentou do meu lado, eu não iria falar nada de mais, mas já que era explicações completas que ela queria, então eu iria falar. Comecei.
- Cara, você sabe que a um tempo atrás nós eramos amigos, muito amigos, mas você mudou Giovana, e foi bom tudo isso ter acontecido, porque eu acho que conheci como você é de verdade. Naquela época, eu nunca pensei em ficar com você ou algo do tipo, porque meu, eu tinha você como minha amiga de verdade.
- Eu nunca tive você como amigo Daniel, eu sempre gostei de você, eu me aproximei de você e sempre quis ficar com você, mas eu não tinha coragem de pedir. Toda vez que a gente saia juntos, você sempre ficava com alguma garota e eu nunca era uma delas.
- E porque tanta revolta hoje? Só por causa disso? Porque então você não falava mal das outras namoradas ou meninas? Porque é só da Carolina?
- Eu não gostei dela e acho que ela não te merece.
- Para, não fala assim, o fato de você não gostar dela não vai me fazer desgostar dela também.
- Eu sei Daniel, mas eu tento pensar que você vai esquecer ela.
- É infantil da sua parte fazer isso, ela tem um bem enorme por dentro, e eu conto tudo sobre essas nossas conversas para ela, e ela nunca abriu a boca para falar mal de você. Será que é dificil você odiar ela em silêncio?
- É, e eu vejo que você mudou muito, você não é como antes, você esqueceu seus amigos e me esqueceu também.
- Eu não esqueci meus amigos, e quanto à você, será que você merece ser lembrada?
- Talvez.
- Não Giovana, olha aqui, essa conversa não vai dar em nada, eu acho melhor você vir falar comigo quando você crescer.
Eu levantei do banco e ela me puxou pela camisa, e disse:
- Você não sai daqui enquanto não me der uma coisa.
- Um beijo? Eu perguntei voltando a me sentar.
- É.
O grau de nervosismo que dominava meu corpo e mente no momento, era de 100%. Eu me controlei de mais para não bater nela ou algo do tipo, mas eu tinha que descontar essa minha raiva em alguém, e ninguém mais justo do que nela. Eu virei meu corpo para o dela, e lentamente me aproximei de seu rosto. As mãos dela pousaram em meu ombro, sem dó eu já fiz questão de tira-las dali com um empurrão. Meu rosto ainda estava focado nela, bem perto. Eu peguei seu rosto com uma mão, devido ao braço quebrado, e encostei nossos lábios uns nos outros. Pude um ouvir um suspiro vindo dela, mas com a mesma rapidez que eu pretendia tirar minha boca dali, eu mordi seu lábio com força e me levantei. Ela deu um grito e levou as mãos até a boca, quando ela tirou, eu pude ver o sangue que saia de seu lábio inferior.
- Está feliz assim? - eu perguntei.
- Isso machucou.
- Jura? Desculpa, não era minha intenção - eu disse irônico.
- Sai daqui Daniel, de verdade, você não precisava ter feito isso.
- Eu finalmente te beijo, e sua reação é me mandar embora? Nossa Giovana, que estranha você. Mas não precisa me expulsar, eu já estou de saída, e bem aliviado por ter descontado minha raiva em quem realmente merecia.
Dei as costas e sai andando. Coloquei as mãos dentro do bolso do moletom e meus olhos se encheram de lágrimas. Era o ódio, o nervosismo, a fraqueza, o vento, o frio, o braço quebrado, era tudo, eu me sentia mal, de verdade. Apesar de todos os sentimentos me corroendo naquele momento, eu realmente me sentia aliviado. E eu esperava que de agora em diante, Giovana me deixasse em paz. Eu só tinha mas um problema pela frente: Carolina.
Eu estava a pé indo para a casa, mas sem cabeça nenhuma. Eu andei pela cidade inteira praticamente, e quando finalmente cansei, me sentei em um banco, no meio de uma praça. Meus olhos ardiam, devido ao vento que batia junto com as lágrimas que se formavam involuntariamente. Minhas mãos tremiam de frio e de ódio. E na minha cabeça, um turbilhão de problemas a rodeava. Em momentos assim, eu pensava muito no meu pai, como seria ter ele agora? Será que nós seriamos amigos? Será que ele me apoiaria como a minha mãe? Não que minha mãe não me ajudasse, mas ter um outro homem, que não seja seus amigos, que seja alguém mais maduro para poder conversar. Eu sentia falta.
Depois de um tempo sentado sem conseguir fazer nada, eu fui embora caminho de casa. Lá não teria ninguém, acho que não seria tão mal. Eu não seria covarde o suficiente para contar toda a história para Carolina pelo telefone. Por tanto, cheguei em casa e caí no chão da sala, tinha um tapete que me impedia de receber o frio do chão gelado. Lá eu fiquei por um bom tempo também, até eu acordar com fome, muita fome. Só então eu me lembrei que eu não havia almoçado e nem comido nada.
Fui para a cozinha e preparei qualquer coisa para mim e para a minha mãe que já deveria chegar. E exatamente quando eu terminei e sentei na mesa para jantar, eu ouvi a maçeta na porta girar.
- Boa noite filho - ela disse dando um beijo na minha cabeça.
- Oi mãe.
- Como foi seu dia? - ela perguntou colocando a bolsa em cima do balcão da cozinha e preparando seu prato.
- Aconteceu umas coisas aí, mas estou legal.
- Seus olhos estão especialmente azuis, me conta filho, o que aconteceu?
Eu larguei o garfo com comida que eu estava prestes a colocar na boca e abaixei minha cabeça, apoiando-a em uma mão. Puxei as mangas do moletom para passar no meu olho, que mas um vez, derramavam lágrimas totalmente contra a minha vontade. Minha mãe não falou nada, apenas sentou ao meu lado e me abraçou.
- Foi mal mãe, mas relaxa, eu estou bem.
- Me conta o que aconteceu agora? Ou depois? - ela disse fazendo eu levantar meu rosto e a encarar.
Comecei a contar tudo, desde a Giovana, até o fato de não ter meu pai perto de mim. Ela passava as mãos nos meus olhos a todo momento, tentando me acalmar. Eu juro que nunca tive um ataque de nervosismo como esse. Era péssimo, a fome que eu tanto tinha passou de repente. Minha mãe me encarava e finalmente ela conseguiu dizer alguma coisa.
- Filho, eu sou sua mãe, e quero o melhor para você. É claro que se o seu pai estivesse aqui seria muito bom para nós dois, mas temos que superar isso, e você sabe, eu me transformei em um pai para você também. Conta comigo pra tudo, não tenha medo de contar o que anda acontecendo na sua vida. Eu não vou te dar conselhos sobre o que você deve fazer, isso é você, é a sua vida e o que você quer pra ela, mas eu só te digo uma coisa, não vá pela cabeça dos outros, e não se esqueça do quanto Carolina faz bem para você.
- Valeu mãe, de verdade. Eu sei o que eu devo fazer, eu não vou excluir a Carol da minha vida, só porque uma patricinha mimada quer ficar comigo. E obrigado pela força, você é a melhor coisa que eu tenho.
- Vai tomar um banho e dormir, eu te amo Daniel.
- Eu te amo também mãe.
Subi para o meu quarto e me olhei no espelho. Meu nariz e meus olhos estavam totalmente vermelhos. Tomei um banho bem quente de mais ou menos quarenta minutos. Eu tinha que acabar com o estresse e com tudo. Saí do banho, me vesti e caí na cama. Parece que eu dormi por uns cinco anos, mas infelizmente, meus olhos abriram vendo que era o dia seguinte, e eu ainda não tinha resolvido meus problemas.
Quando levantei da cama, minha cabeça parecia estar pesando uns dez quilos. Uma dor imensa tomou conta dela. Eu não iria para o colégio, mas eu tinha coisas importantes, merda.
Cheguei no colégio de cabeça baixa, o moletom parecia que não era suficiente para me proteger do frio, minha mão estava gelada e os olhos ficavam ruins por causa do vento forte que batia no rosto. Cumprimentei meus amigos e me sentei com eles em um muro na frente do colégio, eu não estava muito a fim de conversar, e acho que não estava pronto para ver o que tinha acabado de passar na minha frente. Era Giovana. Meu estômago embrulhou ao ver a cara dela, tão falsa, e todos os acontecimentos do dia anterior passaram como um filme na minha cabeça. Ela parou em uma roda de meninos que estavam do nosso lado, e quando ela chegou um pouco mais perto, eu vi uma marca em seu lábio, parecia estar inchado, e claro que aquilo era o que eu tinha feito com ela no outro dia. Ela passou por nós e não parou, mas é claro que sempre tem o engraçadinho para te ajudar, só ouvi um dos meninos que estavam ali comigo gritar.
- Não param para cumprimentar mais não meninas?
Giovana e suas amigas sorriram e voltaram para nos cumprimentar. Elas davam um beijo no rosto tão com segunda intenções que me dava até um negócio ruim. Suas amigas me deram oi, e por surpresa, ela me cumprimentou também.
- Oi amor - ela disse se abaixando e me dando um beijo no rosto.
Eu não falei nada, apenas abaixei a cabeça em modos de cumprimento. Eu não acreditava que ela tinha me chamado de amor depois de tudo. Ok, acho que ela é abduzida de noite e os aliens fazem uma lavagem cerebral nela, só pode.
Fomos para a sala e depois de duas aulas que já haviam passado, eu lembrei que tinha deixado meu celular sem bateria por dois dias, era bom que Carol não tivesse me ligado. Intervalo, e eu tive a péssima idéia de ir até o bebedouro, sozinho.
- Eu tenho uma marca sua no meu corpo agora - ouvi a voz de Giovana atrás de mim, mostrando com o dedo o lábio machucado por mim.
- Você não está feliz com isso né?
- Feliz eu não sei, mas que beijo ontem Daniel do céu.
- Giovana, acho que só você não percebeu uma coisa aqui, aquilo ontem não foi um beijo.
- Encostar os lábios uns nos outros agora não é beijo?
- Não daquele jeito, aquilo foi pra te machucar.
Ela me olhou com uma cara idiota, argh. Veio para mais perto de mim e disse:
- E aí, já falou com a Carolzinha? Ou ainda não caiu a ficha de que ela é uma vadia?
Eu não falei nada, mantive o controle, apenas saí de perto dela e voltei para a mesa onde estavam meus amigos.
O fim da aula nunca foi tão bom para mim. Quando saí do colégio, a primeira coisa que eu pensei foi em ir até a casa da Carol e contar tudo para ela. Foi o que eu fiz.
- Entra - Carolina disse me dando passagem logo depois de abrir a porta da frente.
- Você ta bem amor? - eu perguntei dando um beijo nela.
- É, devo estar, e você?
- Não muito.
Ela me olhou assustada, e eu olhei assustado para ela também. Nenhum de nós estavamos bem, o motivo pelo qual ela não estava, eu espero muito que não tenha nada a ver com a Giovana.
- Diz o que aconteceu - eu pedi para ela.
- Vamos lá pro meu quarto, aí eu conto tudo.
Subimos as enormes escadas, e a cada passo que eu dava, meu coração batia mais forte, eu não sabia o que eu ouviria, mas eu sabia que não ia ser bom. Eu me sentei na cama dela, e ela começou a andar no quarto, me matando cada vez mais com o nervosismo dela.
- O que aconteceu amor? - eu perguntei com medo de ouvir uma resposta.
Ela não me respondeu, ela apenas continuou andando pelo quarto, dessa vez a procura de alguma coisa. Eu voltei a perguntar.
- Você está bem? Me diz o que está acontecendo.
Os olhos dela se encheram de lágrimas, ela abriu uma gaveta e pegou uns papéis. Eu fiquei sem entender, e então ela jogou os papéis na cama, ao meu lado e disse:
- Isso que aconteceu.
Eram passaportes. Minha cabeça ficou confusa, e então eu perguntei:
- O que é isso?
Ela se sentou ao meu lado e começou a chorar, muito. Eu a abracei e temi pelo pior. Depois de um tempo, ela se acalmou e disse:
- Oxford, eu vou pra Oxford com meus pais.
- Como assim? Aonde é isso?
- Fica na Inglaterra, uma parte da minha família mora lá, e nós vamos também daqui três semanas.
- E vão ficar quanto tempo?
- Eu não sei Daniel, pra sempre, talvez.
Eu entrei em estado de pânico eu acho, sério, não dava pra acreditar naquilo, morar fora, pra sempre talvez? Não, não podia ser verdade.
- Eu não quero Daniel - ela dizia ainda chorando.
Eu não sabia dar conselhos e eu não tinha o que falar. Ela me encarou e segurou as minhas mãos. Ficou encarando-as por um tempo e voltou a falar.
- Vai ser bom pra mim, é claro que vai, morar fora é uma oportunidade enorme, ainda mais na minha idade, mas eu não quero sair daqui, eu não quero largar minha escola, meus amigos, muito menos você.
Abaixei a cabeça, eu não queria mostrar para ela o quão fraco eu me sentia naquele momento, ela tinha que ser forte, e se eu pudesse transmitir força pra ela, com certeza já ajudaria. Consegui fazer uma pergunta, depois de tanta coisa passando pela minha cabeça.
- Você falou isso para os seus pais?
- Falei, eles entendem, minha mãe até conversou comigo ontem, mas ela fala que é realmente algo bom.
Eu não suportei, já não bastava todos os acontecimentos recentes, tudo que estava acontecendo, meus olhos voltaram a ser contra mim, e derramaram lágrimas cheias de ódio e raiva.
- Que caralho - eu falei sem pensar, fazendo Carolina chorar mais.
Eu pedi desculpas e abracei ela. Ela soluçava de tanto chorar, e eu não podia fazer nada para acalmar aquela situação. Mil coisas passaram pela minha cabeça, eu fui obrigado a pensar em um minuto sobre todas as coisas. Então eu disse:
- Você tem que ir.
Ela se afastou do meu abraço e enxugou as lágrimas com a manga do meletom. Me olhou com uma cara sem entender o que eu estava falando. E eu comecei a falar.
- Se você não estivesse namorando comigo, com certeza não existiria barreiras para você aceitar a viajem logo de cara. Eu, você, seus pais, todos sabemos o quanto isso é bom para você. Carol, não se preocupa, você tem que colocar você em primeiro na sua vida, e eu juro, que mesmo que sua escolha seja dolorosa para nós dois, vamos ter que superar. A gente já perdeu pessoas tão importantes, e o que a gente fez? Trouxemos elas de volta? Isso não tem como acontecer. Claro que a situação aqui é um pouco diferente, mas me promete que vai escolher o melhor PARA VOCÊ, e eu te prometo que vou te apoiar. Em tudo.
- Você não entende o bem que você me faz.
Eu levantei da cama e fui até a varanda do quarto dela, onde na frente havia uma pela paisagem. O vento balançava as cortinas e cortava no meu rosto. Apoiei os braços na grade, mesmo com dificuldade devido ao gesso, e continuei de cabeça baixa, eu tinha que pensar, acalmar. Senti os braços de Carolina envolverem meu corpo, ela me abraçou forte, e eu se quer pude me mexer. Me virei para ela, dessa vez a abrançando de frente. Seus olhos ainda estavam com lágrimas, a única coisa que eu pude dizer foi:
- Por favor, não chora.
- E se eu tomar a decisão mais difícil para nós? - ela perguntou com a voz falha.
- Vai ser mais difícil para nós, não para você.
- Mas e a saudade, e você?
- Eu não sei Carol, eu não sei de verdade. Mas eu quero que você pense, muito, e pense em você. De verdade, não quero atrapalhar em nada, e Carol, eu te amo, a distância é um obstáculo. Não sei, obviamente não vamos poder continuar juntos com você morando longe, ainda mais para sempre, é difícil.
- Eu estou perdida, de verdade Daniel, eu nem sei o que falar.
Eu a interrompi e a puxei para um beijo. Seu rosto molhado pelas lágrimas, se misturaram com as minhas. Eu sentia uma dor enorme dentro de mim, e eu só queria que tudo isso passasse. Eu a beijei como se fosse a última vez que isso acontecesse, eu tinha que me acostumar, caso ela tomasse alguma decisão que me faria viver isso de verdade. Depois de partir o beijo, eu sequei suas lágrimas com a manga do meu moletom e disse:
- Eu vou pra casa, vou deixar você sozinha, pensando, e por favor, não esquece de nada que eu te falei. Eu sou seu amigo acima de tudo, ta bom?
- Obrigada amor, de verdade, eu não sei o que seria de mim sem sua ajuda.
- Não agradece, eu só quero o melhor pra você.
Dei mais um beijo rápido nela e sai do quarto rapidamente, deixando-a parada na sacada, ela não me seguiu e nem me acompanhou até a porta, era o que eu queria. Na sala de sua casa, eu fui até onde ficavam as fotos de família, perguntei para Alice, a empregada, se eu poderia pegar uma das fotos de Carol quando era criança, ela me permitiu e eu peguei, guardando-a no bolso. Quando saí de sua casa, olhei para cima e a vi me encarando da sacada, ela ainda chorava, eu apenas apontei para minha boca, e sussurei:
- Eu te amo.
Cheguei na minha casa e fui direto para o meu quarto. Coloquei meu celular para carregar e quando ele ligou, tinha uma mensagem da Carol, do dia anterior, dizia: “Aonde quer que eu vá, vou te levar comigo”. Apesar de tudo eu consegui sorrir, coloquei o celular em cima do criado novamente e deitei, tudo que eu queria era parar o tempo, e que três semanas demorassem para passar.
Os dias, as horas, pareciam tão mais rápidos do que o normal, já havia se passado uma semana, na qual eu não tinha visto Carolina, apenas conversado por telefone. Eu não queria atrapalhar nada nos pensamentos dela, e eu sei que se eu a visse todos os dias, seria uma decisão mais complicada, não sei na verdade.
Na escola, eu não estava muito bem, mas era fim de ano, e eu já tinha passado em quase todas as matérias. Faltavam duas semanas para o meu aniversário de 18 anos, duas semanas para Carol ir embora (ou não), duas semanas para o fim das aulas e menos de duas semanas para eu tirar o gesso. E hoje faziam três meses que eu e Carol estavamos juntos. E nesse dia, eu decidi ir na casa dela, para finalmente ouvir a decisão. Era sábado a noite, e quem me atendeu na porta de sua casa, foi sua mãe, Verônica.
- Oi Daniel, como vai? - ela disse me cumprimentando com um abraço.
- Estou bem na medida do possível.
- A Carol está lá no quarto dela, mas antes de você subir, eu quero conversar com você.
Eu me assustei, mas tudo bem, fomos até a sala e sentamos no sofá, e então ela começou a falar.
- Eu não acreditava muito nesse namoro de vocês, mas essa semana eu pude ver o quanto Carol gosta de você, e o quanto você gosta dela também. O fato de você não ter vindo aqui e casa só para não complicar a decisão dela foi um gesto simples, mas significou muito para mim. Sei que pode ser difícil para vocês, mas acredite, vai acabar tudo bem.
- Pô, valeu. Eu fiquei realmente mal com tudo isso, mas eu quero o melhor para ela sabe? E como eu disse, ela tem que se colocar em primeiro na vida. Me desculpe tocar nesse assunto, mas ela me contou que a senhora perdeu uma filha quando elas eram pequenas ainda, mas eu sei que Carol tinha um sentimento enorme pela irmãzinha, e eu também perdi meu pai já, nós sabemos lidar com a perda, não é fácil, mas a gente tem que superar essas coisas.
- Sinto muito pelo seu pai, e realmente, não é fácil. Mas eu quero um abraço seu agora, você é uma menino muito bom, não queria que nada disso tivesse acontecendo, mas você ainda tem chances né? Não ouviu a decisão final de Carolina.
- Pois é, mas eu espero que a decisão seja boa, para ela.
Levantei do sofá depois de receber um sorriso triste da mãe ela, e a abracei. Ela era muito simpática. Pedi licença e subi as escadas, rumo ao quarto de Carol.
Bati na porta que está encostada e entrei. Ela estava deitada na cama, eu fui até ela e beijei sua testa.
- Como você tá minha gata? - eu perguntei se sentando ao lado dela.
- Não tenho uma resposta, e você, como está? - ela retornou a pergunta, segurando na minha mão.
- Estou bem, eu acho.
Ela sorriu e encolheu seu corpo puxando um edredom até o pescoço, me abraçou, deitada mesmo, e apertou minha mão com força. Encarei uma mala ao lado de seu guarda roupa, vazia, mas não perguntei nada. Ficamos daquela jeito por uns dez minutos, em silêncio, o vento que batia na janela era o único barulho que se escutava ali.
Carolina levantou seu corpo, ficando sentada na cama, ao meu lado. E depois de tanto tempo, algumas palavras finalmente foram faladas por ela.
- Que semana.
- Eu imagino.
Ela abaixou a cabeça e eu fui mais perto dela. Dei o primeiro beijo em seus lábios naquela noite. Era hora de ouvir o que, pra mim, já estava claro, se ela iria ou não viajar.
- E então, se decidiu?
Ela encarou nossas mãos que ainda permaneciam unidas, e falou com dificuldade.
- Sim.
- E então, você vai?
- Daniel, é tão difícil, é tão doloroso, hoje fazem três meses que nós estamos juntos, você tem noção do que é largar tudo isso?
- Tenho, mas fazer o que?
Ela levantou o rosto e me olhou nos olhos, eles estavam cheio de lágrimas, uma dor imensa tinha em seu olhar. Eu não poderia ajudar, e a uma altura dessa, eu já sabia a decisão. Eu seria forte, ou pelo menos tentaria.
- Eu vou para Oxford - ela disse com a voz falhada, ela soluçava por conta do choro.
Eu não tive reação por alguns segundos. Me peguei sem fala, sem solução. Soltei nossas mãos e a puxei para um abraço. Ela afundou seu rosto em meu pescoço e eu senti o cheiro do seu perfume, parecia que dessa vez, era mais forte do que tudo. O choro, o desespero e a vontade de ficar ali, juntos, para sempre. Ela afastou o seu corpo do meu, e eu pude ver seu rosto molhado, coberto por lágrimas. Eu consegui dizer algumas coisas.
- Vai ficar tudo bem. E você vai ver como essa decisão foi boa para você.
- Só para mim.
- E quem é mais importante da sua vida a não ser você mesma? Relaxa amor, tem vezes na vida que temos que fazer escolhas, e a maioria delas é difícil, e de um jeito ou de outro, vamos ter que abrir mão de algumas coisas, boas ou ruins.
- Falta tão pouco para o seu aniversário, eu queria estar aqui com você, eu queria continuar minha vida aqui.
- Você vai se adaptar a outro lugar, isso eu te garanto.
- E você, como vai ficar?
- Bem.
Ela se lavantou da cama e estendeu seu braço para eu pegar em sua mão. Me guiou até as escadas e logo depois para o fundo de sua casa, seu lugar preferido. Ficamos frente a frente e ela uniu nossas mãos. Eu a puxei, fazendo-a abraçar meu corpo, eu ergui seu rosto para mim com uma das mãos e a beijei. Foi um beijo profundo, com carinho, tudo que eu precisava para sobreviver aquela noite. Ela me abraçou e sem perceber, eu tirei meu celular do bolso, tirei uma foto daquele lugar, só para eu lembrar quando precisasse.
- Amor, eu vou embora.
- Já?
- Sim, eu quero descansar um pouco e tal.
- Ta bom.
Dei mais um beijo nela e fui para a sala, onde me despedi de sua mãe e agradeci pelas palavras. Carol me acompanhou até o portão e logo depois eu fui embora. Em casa eu me sentia triste, ali eu poderia fazer o que eu quisesse, eu não tinha que passar força para ninguém, uma fraqueza enorme tomou conta de mim. Merda.
Quase duas semanas haviam se passado, eu já estava sem gesso, graças a Deus o médico falou que eu poderia tirar um pouco antes. Faltavam três dias para o meu aniversário, e era hoje, o dia em que Carol iria embora para a Inglaterra.
Fui até o computador e revelei todas as fotos minhas e de Carol daquele dia na casa dela, as fotos que a empregada havia tirado. Guardei elas junto com uma foto minha de quando eu era pequeno e junto com a de Carol quando pequena. Peguei mais umas imagens da internet e guardei também. Meu celular tocou, e na bina eu li o nome de Carolina.
- Oi amor - eu ouvi a voz dela do outro lado da linha.
- Oi linda.
- Então, eu vou para o aeroporto as três horas da tarde, você vai lá?
- Claro que eu vou.
- Ta bom então, daqui uma hora a gente se vê.
- Pela última vez, né?
- Infelizmente.
- Eu te amo.
- Eu também Daniel.
Desliguei o telefone e deitei na minha cama. Encarei o teto por alguns minutos, mas saí de lá antes que qualquer dor tomasse conta de mim. Fui até o andar de baixo, e minha mãe estava sentada no sofá. Ela sabia de toda a história já, e lamentava muito por tudo, ela realmente gostava de Carolina. Dei um beijo nela e voltei para o meu quarto para tomar um banho e arrumar umas coisinhas aí.
Vesti minha melhor roupa, coloquei meu melhor perfume, peguei umas coisas que eu queria levar e desci novamente. Chamei minha mãe que iria me levar até o aeroporto, e depois iria trabalhar. Era quarta-feira de tarde, talvez um dos piores dias para o meu coração.
- Manda um beijo enorme para ela e para a familia, e pede desculpas por eu não poder me despedir direito dela - minha mãe disse quando chegamos ao aeroporto.
- Ta bom mãe, eu falo pra ela.
- Você vai ficar bem?
- Vou tentar, te prometo.
Minha mãe sorriu amarelo e apertou minha mão, logo depois me deu um beijo no rosto. Peguei minhas coisas e entrei no aeroporto a procura de Carol e sua familia. Estava cheio aquele lugar, e eu estava com o coração batendo cada vez mais rápido. De longe, eu vi uma menina linda, com uma calça apertada, um sapato fechado de salto alto e uma jaqueta. Os cabelos lisos e soltos e um jeito irreconhecível. Era Carolina, e ao lado estavam os seus pais. Cheguei mais perto vendo-a sorrir. Mesmo triste, o sorriso de poder ve-la, nem que fosse pela últma vez, insistia em sair. Dei um beijo rápido nela e logo depois cumprimentei seus pais.
- Que horas que o avião vai sair? - eu perguntei para eles.
- Mais ou menos daqui uns vinte minutos ou mais - a mãe dela respondeu.
Eu estava nervoso, embora eu não transmitisse isso, meu corpo estava tremendo, o frio não neutralizava o calor que sentia ao saber que ela iria morar tão longe de mim.
- Filha, eu e seu pai vamos lá na lanchonete comer algo antes de viajar, quer alguma coisa? - sua mãe perguntou querendo nos deixar mais a vontade para conversar.
- Não mãe, obriagada.
- Aceita algo Daniel? - ela ofereceu para mim.
- Não não, obrigado.
Eles sairam dali deixando eu e Carol juntos e sozinhos. Sentamos em um banco logo atrás de nós e começamos a conversar.
- Eu estou realmente mal - ela disse com a voz baixa e falha.
- Mas não deveria, você pode passar mal no avião e isso não é legal.
- Eu sei, mas não tem muita coisa para se fazer que possa me acalmar agora.
- Eu tenho uma coisa para você.
Ela não disse nada, apenas me encarou esperando alguma coisa. Eu peguei algo que tinha levado, uma espécie de pasta, livro, não sei ao certo. Ela continuava me encarando, e eu segurei esse livro nas minhas mãos por alguns segundos. Dentro daquilo, tinha duas vidas, dois mundos, uma simples união que havia se tornado a maior parte da minha vida. Sem segurar a vontade de saber o que era aquilo, Carolina me perguntou:
- O que é isso?
Eu respirei bem fundo. Olhei para ela por mais algum tempo e entreguei o livro em suas mãos. Sem olhar para ele, Carolina ainda encarava meus olhos com certa duvida, aflição. Eu tomei mais um pouco de ar para meus pulmões, em uma tentativa frustada de acalmar meu coração naquele momento. Mesmo nervoso, pude finalmente responder a sua pergunta:
- É o meu mundo, para você.
Sem ao menos ver o que era ainda, ela me abraçou e me deu um beijo nos lábios. Eu sentia de verdade que meu coração não aguentaria por tanto tempo. Mas ele foi forte, ainda bem. Ela caminhou o olhar até o livro, e o abriu. Na primeira página, tinha um foto nossa se beijando, e embaixo da foto, estava escrito: “Quando eu a vi, eu sabia que minha vida logo ia deixar de ser fácil”. Os seus olhos se encheram de lágrimas, não pela frase, mas ela ajudou na fraqueza dos sentimentos naquele minuto. Ela virou a página, e tinha uma foto minha em uma festa, com um copo de cerveja na mão. A foto estava riscada em forma de “X” com um canetão vermelho, e a frase embaixo da foto dizia: “Se vão os dias de todas minhas bebidas e farras”. Ela soltou uma gargalhada, junto com as lágrimas que caiam pesadas. Na outra página, nossa foto em sua casa, abraçados e a frase era: “Eu realizaria todos os seus desejos se você me pedisse...”. Os pontos de interrogação no fim da frase deixou Carolina com uma expressão de duvida, foi quando ela virou a página que ela gargalhou e entendeu, lendo a frase embaixo da foto em que ela pulava em cima de mim, que dizia: “Mas se você negasse um dos seus beijos, eu não sei o que eu faria”. Virando a folha, uma foto minha e uma dela de quando eramos crianças, a frase era: “Eu nasci para dizer que te amo”. Seus olhos mesmo cheios de lágrimas, viravam as folhas esperando outra frase para ler. E na próxima, era uma foto de um céu, estrelado, que lembrava do dia eu que deitamos em um gramado e ficamos observando as estrelas, a frase dizia: “Olhe para as estrelhas e lembre-se de mim, por que você é a minha garota estrela”. Nas últimas páginas, e mais uma foto de nós dois abraçados, que dizia: “Me abrace forte, é meu mundo para você...”. E na última folha, todas as fotos, tanto minhas, quanto dela, de nós dois juntos também. Tinha inclusive uma foto do parque Folha Branca, foto de skates, fotos de várias coisas com relação a nós dois. Embaixo da foto, uma simples frase: “É tudo sobre você”.
Ela fechou o livro e os olhos, deixando escapar várias lágrimas, meus olhos não aguentavam tanta dor, tantos sentimentos, e lágrimas insistiam em sair dos meus olhos também. Eu tirei o livro que estava em seu colo e a puxei com um pouco de brutalidade do banco, levando para as escadas do aeroporto. Segurei seu rosto com força com as mãos e a beijei. Logo depois empurrei para a parede, com delicadeza é claro, e com uma pouco mais de força, juntei meu corpo com o dela, deixando-a presa entre a parede e eu. Intensifiquei o beijo tirando todo o ar de seu pulmão, e acabando com o que restava do meu. Eu mordiscava seus lábios tirando suspiros dela. Era quente e tranquilizante ao mesmo tempo, era tudo que eu precisava para a última vez que eu sentiria seus lábios nos meus. Mesmo sem beija-la, eu continuei com meu corpo colado no dela. Seus braços envolviam meu corpo, e minha mão estava pousada sobre sua cabeça, acariciando seus cabelos. Ela ainda chorava, e meus olhos não negavam a tristeza de ter que deixar ela ir.
“Atenção passageiros...” era a frase que eu não queria ouvir tão rápido. Mas infelizmente, foi o que anunciou ali no aeroporto. Desuni meu corpo do dela, e dei mais um rápido beijo.
- Chegou a hora - ela disse.
- Infelizmente.
Ela voltou a me abraçar, e antes de voltarmos ao lugar onde estavamos, ela voltou a sua posição normal e me disse:
- Cuida bem dos meus olhos.
Eu me emocionei, lembrando do dia em que ela havia dito que meus olhos eram dela. Eu sorri e disse para ela:
- Cuida bem do meu coração.
Ela sorriu e me deu um beijo na boca. Logo depois mordeu meu lábio, e eu fiz o mesmo com ela. Demos as mãos e voltamos para o lugar onde estavamos, ali já estavam seus pais, segurando algumas bolsas. Fui até eles para me despedir.
- Fica com Deus moleque, e fica bem - disse seu pai me dando um abraço.
- Fica com Deus também, vou sentir falta das suas festas - eu disse tirando um sorriso dos três.
- Tchau meu lindo, fica bem e nunca se esqueça de nós - sua mãe disse me dando um beijo e um abraço bem apertado.
- Impossível esquecer vocês. E ah, minha mãe mandou um beijão para todos vocês, e pediu desculpas por não poder se despedir direito, mas ela trabalha e tal.
- Manda um beijo de todos nós para ela também - disse Verônica.
Ela sorriu e foi caminhando para a saída com seu marido. Carolina ainda ficou comigo, ela estava com meu livro em mãos. Antes de ir, ela colocou o livro no chão, segurou meu rosto com força e disse:
- Eu te amo Daniel, mais do que você imagina. Obrigada por tudo, você foi a melhor parte de mim, a melhor coisa que já me apareceu, meu anjo. Fica bem aqui, você merece sua felicidade.
Eu segurei com força na sua cintura e disse olhando-a de perto.
- Eu te amo também Carol, eu nunca vou te esquecer, eu é quem tenho que te agradecer, por tudo, e me desculpa qualquer coisa, eu te amo, acima de tudo. Se cuida lá, e espero que você encontre pessoas que realmente te mereçam, e não se esqueça, acho que você já ouviu essa frase, enquanto meus braços não são capazes de te alcançar, contento-me com a certeza de que estamos sob o mesmo céu, e com a chance de estarmos olhando para a mesma estrela. Porque nós dois somos um e nada mais vai ser tão especial quanto nós e as nossas decisões.
- Nada é tão especial quanto você. Tchau amor.
- Tchau minha linda.
Ela pegou o livro e mais uma bolsa e foi junto aos seus pais que a esperavam um pouco mais a frente. Acompanhei com o olhar, desde o momento em que ela saiu do aeroporto, até o momento em que o avião decolou. Eu queria saber o que passava na cabeça dela agora, mas eu ao menos sabia o que se passava na minha. Por um momento eu me esqueci de como se pensava. Eu esqueci de tudo, uma parte de mim tinha ido junto com Carolina naquele avião. Pra sempre.
Voltei ao banco do aeroporto e me sentei lá por alguns minutos. Abaixei minha cabeça e aprendi a pensar novamente. Mas eram tantas coisas para pensar, que eu simplesmente não conseguia pensar em nada. Me levantei dali e fui lá para fora. Várias pessoas estavam sorrindo ali, comemorando a chegada de amigos, familiares, e uma dor imensa de saber que isso não aconteceria tão cedo comigo tomou conta de mim. Antes que isso me matasse, liguei para minha ir me buscar e em questão de vinte minutos ela estava ali.
- E aí filho, tudo bem?
- Ah mãe, bem não né, mas sei lá, acho que da para superar.
- Vai ficar tudo bem.
Eu apenas observei todo o caminho até em casa passar pela janela do carro com rapidez. Eu não estava prestando muita atenção em nada, eu só queria dormir um pouco, sei lá. Cheguei em casa, minha mãe ainda tinha que voltar para o trabalho, então eu entrei em casa e tranquei a porta, a primeira coisa que eu pensei foi: cama. Eu realmente precisava dormir.
Abri a porta do meu quarto, tirei minha roupa, e mesmo no frio, fiquei só de bermuda, e antes que eu pudesse jogar meu corpo em cima da cama, eu vi uma caixa enorme do canto do quarto. Não entendi muito bem mas fui até ela para saber. Em cima da caixa, havia um papel, onde eu li: “Faltam três dias para o seu aniversário, mas como eu não vou estar aqui, eu resolvi te dar o presente hoje. Parabéns amor, espero que goste. Não se esqueça que eu te amo. Com amor, Carolina”. Sorri ao ler aquilo, e fiquei encarando a carta por um bom tempo, ela me parecia mais importante do que havia dentro da caixa. Fui até ela e com uma chave, eu rasguei a fita adesiva que a mantinha fechada, e ao abrir, o meu presente. Era um shape, aquela base do skate sabe? Era um que eu havia gostado, de uma loja que ficava quase em frente a casa da Carol. Eu tinha comentado com ela uma vez, logo nos primeiros dias que nós estavamos ficando, e ela muito fofa, tinha comprado um para mim. Depois de tanta felicidade com o presente, eu deitei na minha cama e dormi.
Quinta-feira de tarde eu acordei, eu estava muito mal, e sim, era pelo fato de Carolina não estar aqui. Eu não havia ido para o colégio, mas recebi uma ligação do Felipe.
- E aí cara, você ta bem? - ele perguntou do outro lado da linha.
- Ah velho, na medida do possível né.
- Eu acho que te entendo, muito foda a mina ir morar longe e tal.
- Pois é, mas diz aí, o que você quer?
- Então cara, amanhã é sexta, e é seu aniversário, vai rolar aquela balada?
- Nossa, eu nem me lembrava disso. Então, não sei cara, tem que ver com o pessoal, não sei se eu estou com cabeça também.
- Sei, eu e os moleques podemos passar aí para gente resolver isso já? To precisando dar uns beijos irmão.
Eu dei risada quando ouvi o Felipe falar isso, aposto que ele estava a vinte e quatro horas no máximo sem pegar uma menina.
- Ta bom, passa aí sim - eu disse.
- Firmeza, já a gente cola aí.
Me vesti e fui para a sala esperar os meninos. Em menos de meia hora estavam eles lá, Vinicius, Gustavo e Felipe. Meus gatos. Agora aguenta, a Carol não está aqui, então eu vou voltar com minhas quedas por esses três delícias. Brincadeira, argh, senti náuseas depois que eu falei isso. Enfim.
- E então, vai ter balada amanhã? - Vinicius perguntou animado.
- Sei lá cara, não sei mesmo, de verdade - eu respondi.
- Pô Daniel, se anima cara.
- É irmão, você está solteiro agora - disse Felipe dando um tapa no meu ombro.
- Não Felipe, essa não foi boa - Vinicius disse tirando um gargalhada de todos, inclusive de mim.
- Falando sério agora, vamo sim meu, não vai te matar - Felipe disse tentando concertar a fala anterior.
- Ta bom então, a gente vai.
- Ae, esse é meu garoto.
Confesso que eu me animei um pouco para ir. Embora eu estivesse MUITO mal. Mas era meu aniversário e eu não queria passar sozinho em casa. Meus amigos foram embora logo depois de comermos um lanche ali em casa mesmo.
Sexta-feira logo chegou, e é bom que vocês saibam que hoje é meu aniversário, tenho 18 anos e oficialmente dono da minha própria vida. A noite tinha uma balada com os meninos, eles chamaram mais umas pessoas, que ao ao menos sabia quem eram, mas enfim, eu precisava de algo para esfriar minha cabeça, tentar esquecer a Carol, que fosse por uma noite, ou que fosse por cinco minutos. Eu não conseguia parar de pensar no que ela estava fazendo aquele momento, isso estava me domindo ao ponto de me fazer mal, me deixar completamente aéreo da vida.
Tomei um banho e quando fui me vestir, decidi não colocar qualquer tipo de roupa de frio. Pode ter certeza amigos, não existia frio naquela balada. Era muito cheio. Felipe chegou de carro com os meninos para me pegar. Junto com ele estava Vinicius, Gustavo e o Rick. Fomos para a balada curtir um pouco.
Entramos e o lugar estava cheio. O DJ que estava lá era muito bom, acho que dava para me distrair um pouco. Vi uma galera do colégio lá e mais uns amigos. Todos lembraram do meu aniversário e tal, fiquei feliz. Ficamos juntos ali no meio da pista dançando um pouco e blá blá blá, depois o Felipe foi comprar umas bebidas, aí que ficou melhor. Bebi uns copos de umas bebidas lá que eu nem sabia o nome direito. Um calor repentido tomou conta do meu corpo, não sei se era calor humano ou efeito da bebida, mas eu estava com muito calor, muito mesmo. Comecei a dançar lá bem de boa.
De longe, eu avistei uma menina vindo em minha direção, quando ela estava mais perto de mim, eu pude ver quem era, era Giovana. Ela se aproximou de mim com um copo de bebida na mão e falou no meu ouvido:
- Parabéns.
- Opa, valeu Gi.
Bem, esta parte da história, eu não lembro direito, quem me contou foi Gustavo.
Fiquei dançando com Giovana por um tempo, ela colava o corpo dela no meu e dançava conforme a música. Ela pegou seu copo de bebida e deu para mim, em questão de segundos eu virei o copo dela.
Era mais ou menos três da manhã, e eu me sentia bem.
- Espera um pouco Giovana, vou pegar um coisa - eu disse eu próximo do ouvido dela.
- Ok.
Fui até o bar e comprei mais uma garrafinha de bebida. Voltei para a pista e achei Giovana. Eu comecei a dançar com ela novamente. Ela passava a mão na minha barriga e dançava bem perto de mim. E eu ameaçava beija-la a todo momento. Comecei a passar o olhar em toda a balada, e vi que Gustavo não tirava os olhos de mim. Não dei muita importância e continuei na minha. Giovana apareceu lá com outro copo de bebida, ela pediu para eu abaixar um pouco o corpo, e logo depois que eu fiz isso, ela virou o copo inteiro na minha boca, me fazendo até derramar um pouco na camisa. Eu voltei a posição normal e segurei na cintura dela, trazendo-a bem perto do meu corpo. Ela me encarava com uma cara malandra, com quem queria outras intenções. Eu comecei a dançar, ainda segurando com força na cintura dela, me aproximei do rosto dela, mas antes que eu pudesse beija-la, Gustavo a tirou dos meus braços e a puxou para um beijo. Comecei a rir vendo a cena. Ele beijava ela com força, mas logo largou ela e pegou no meu braço, tirando-me de dentro da balada.
Ele me jogou no banco do carona no carro do Felipe, e depois assumiu o volante.
- O que você está fazendo? - eu perguntei a voz mole, sem saber o que eu mesmo estava fazendo.
- Vou te levar para casa - ele me respondeu sério.
Gustavo estava furioso, mas eu não me lembrava disso, eu fiquei cantando no caminho inteiro de casa. É, eu estava completamente bêbado.
Chegamos em casa e eu não saí do carro, eu estava sem forças. Gustavo abriu a porta e me tirou de lá. Eu fui me arrastando com a ajuda dele até em casa. Ele tirou as chaves da porta da frente do meu bolso e continuou me levando para dentro. Na porta havia um pequeno degrau, no qual eu não fui capaz de levantar os pés para passar. Quando eu senti que iria cair, eu segurei na camisa do Gustavo, rasguei a camisa dele e caí no chão. Ainda sem forças para levantar, meu amigo me ajudou novamente, conseguindo me levar até o quarto.
- Você beijou a Giovana cara - eu falava gargalhando.
- Antes que você fizesse isso né - ele disse furioso e sério.
Eu comecei a falar umas coisas sem noção, Gustavo ficou completamente nervoso, e me empurrou no chão. Eu caí e comecei a rir. Ele chegou mais perto de mim e deu um tapa na minha cara. Minha expressão mudou completamente, eu chutei a canela do Gustavo depois disso. Ele abaixou até mim e começou a gritar na minha cara.
- O que você está fazendo Daniel? Isso não é você.
- Quem se importa? Vai mudar sua vida isso? - eu o respondia sem freio na língua.
- Você está irritado, e está fazendo uma merda para tentar se acalmar.
- Que se foda.
Gustavo voltou a dar um tapa na minha cara, dessa vez um pouco mais leve. Eu levantei a voz com ele e então ele disse.
- Isso não vai trazer a Carol de volta.
Minha expressou mudou novamente. O nome dela recuperou minha conciência por segundos.
- Entende que ela foi embora, pra bem longe, e talvez para sempre. Beber, beijar meninas que você odeia não vai traze-la para cá novamente. Para de ser idiota cara. Agora entra naquele banheiro, toma um banho e vai dormir. Eu vou tomar um banho também no outro banheiro.
Sem conseguir responde-lo, eu o obedeci. Entrei no banheiro e tirei minha roupa com um pouco de dificuldade. Com muita dificuldade na verdade. Liguei o chuveiro e fiquei em baixo dele por um tempo. Sem me mexer, apenas sentindo a água gelada caindo nas minhas costas. Apesar do frio, um banho gelado me deixaria melhor.
Saí do banho e o Gustavo já tinha terminado, ele estava usando uma roupa minha e tinha colocado umas cobertas no chão, ao lado da minha cama.
- Agora dorme e vê se quando acordar amanhã você se lembra de quem você é de verdade.
Novamente eu o obedeci sem responde-lo. Deitei na minha cama, e ele se deitou nas cobertas ali no chão, completamente nervoso.
O sol invadiu o quarto e me impediu de abrir os olhos. Desisti de levantar depois que senti o peso da minha cabeça. E a dor nas costas também me fazia imóvel naquela manhã. Não me lembrava de nada da noite anterior, algo veio na minha memória depois que vi as cobertas no chão, mas mesmo assim eu estava perdido. Mesmo achando impossível, eu levantei e desci as escadas lentamente, chegando na cozinha, vi o Gustavo preparando algo para comer.
- Boa dia Gustavo - eu disse praticamente sem voz.
- Oi - ele respondeu seco sem olhar para mim.
Me sentei na mesa da cozinha e abaixei um pouco a cabeça. E mesmo com a voz totalmente falha, eu comecei a conversar com Gustavo.
- O que aconteceu ontem?
Ele não me respondeu. Acho que isso já me esclareceu alguma coisa, ele estava realmente bravo.
- Gustavo, fala alguma...
- Olha Daniel, eu te perdoo cara, mas só por que você estava bêbado e frustado com algumas coisas que aconteceram na quarta-feira - ele disse sem deixar eu terminar minha fala.
Minha cabeça voltou a doer, e dessa vez um pouco mais forte. Antes de falar algo, Gustavo praticamente jogou um prato na minha frente, com panqueca. Eu puxei o prato para mais perto de mim e comecei a comer. Logo depois ele se sentou na mesa também e comeu junto comigo.
- Desculpa Gustavo.
- Não tem que pedir desculpas meu, você sabe que é como um irmão para mim, mas você foi ridículo ontem.
- Me diz o que eu fiz.
Gustavo começou a me contar toda a história. Eu fiquei bravo comigo mesmo ao ouvir certas coisas. Principalmente sobre a Giovana.
- Você beijou a Giovana mesmo? - eu perguntei com dúvida sobre esse detalhe.
- Se eu não fizesse isso, com certeza você iria beija-la.
- Eu sou um idiota do caralho.
- Pois é.
Abaixei a cabeça novamente e comecei a pensar no trabalho que eu dei ao meu melhor amigo, e por tudo que ele fez por mim. Tudo que eu consegui dizer para ele foi:
- Valeu cara, de verdade.
- Melhor amigo é para essas coisas.
- Mas eu peguei pesado, não vai acontecer de novo.
- Eu só quero que você supere todos esses problemas, a Carol vai te fazer falta, assim como você sentiu falta do seu pai quando ele faleceu. Mas vai passar cara, não sofre assim não.
Fiquei sem resposta depois do que o Gustavo falou, mas era a verdade, e eu sabia que era exatamente assim.
- Eu vou pra minha casa, qualquer coisa me liga - ele disse se levantando da mesa e me dando um soco no ombro.
- Pô cara, valeu de novo.
- Relaxa, só pensa no que eu te falei.
Ele foi embora e eu caí no sofá. Acho que dormi por mais umas cinco horas. Eu estava cansado, arrependido, com dores e com saudade. Acordei somente com minha mãe me chamando.
- Olá velhinho, acorda.
- Oi mãe - eu respondi ainda sonolento.
- Parabéns atrasado filho - ela disse me parabenizando atrasado por ter trabalhado durante todo o meu aniversário.
- Obrigado mãe.
Fui na cozinha com ela e comemos um bolo que ela tinha feito, toda bonitinha e tal.
- Tenho um presente para você filho - ela disse se levantando da mesa.
- Para com isso mãe, você é o meu presente.
- Não, vem aqui, vou te mostrar.
- Ai mãe.
Ela me puxou pelos braços, eu não tinha idéia do presente. Ela me deixou parado olhando para a rua e disse:
- Procura.
- Ah mãe, você tá brincando né?
- Não, está bem fácil.
Comecei a olhar mas não tinha nada de diferente ali.
- Me fala o que é mãe, eu consigo ver ele daqui?
- Consegue, bem nítido ainda.
Continuei olhando mas continuei sem ver nada de diferente.
- Me fala logo mãe.
- Ta bom então, você desiste?
- Desisto.
Minha mãe sorriu para mim e me levou até o outro lado da rua, na frente da casa do meu vizinho da frente, claro. Eu fiquei sem entender, então ela abriu minha mão e colocou algo nela, quando eu olhei, era uma chave, e ela disse:
- Esse carro é seu Daniel.
Eu olhei para frente e não estava acreditando que minha mãe tinha me dado um carro. Sério, eu pirei. Dei um abraço nela e um beijo bem forte.
- Mãe, é sério? Obrigado meu, nossa, você não tem noção do quanto isso é bom.
- Você merece meu filho, isso não é nada ainda.
- Isso é tudo mãe, de verdade, eu te amo, obrigado!
Eu não estava acreditando ainda, minha mãe era um anjo cara.
- Filho, isso na verdade é um presente mais do seu pai do que meu - ela falou me deixando com certa dúvida.
- Como assim?
- Vamos entrar, eu quero te mostrar uma coisa.
Voltamos para dentro de casa, eu me sentei no sofá, ainda de samba-canção, e ela foi até o quarto pegar alguma coisa. Ela voltou para sala com uma carta nas mãos.
- Leia isso daqui.
Eu peguei a carta e comecei a ler. Ela dizia o seguinte: “Eu nunca precisei de nada na minha vida. Eu tenho a melhor mulher do mundo, que me deu de presente, o melhor filho. Daniel é minha luz, é meu anjo, é meu amigo, é quem eu quero ter do meu lado para sempre. Eu quero ver ele crescer, eu quero ver ele ter a primeira namorada, eu quero ser pai, presente, quero ser pai em todos os momentos possíveis. Quando esse menino nasceu, eu ganhei vida, e o que mais eu poderia querer? Eu tinha um filho, e independente de qualquer coisa, ele era perfeito aos meus olhos. Sandra, é a mulher da minha vida. Quem cuidaria melhor de mim se não ela? Eu me confundo as vezes, eu penso que eu sou a mulher da nossa relação, pois ela é tão guerreira, tão batalhadora, tão mãe, tão pai. Nada material me faz feliz, não enquanto eu tiver esses dois anjos na minha vida. Se um dia eu tiver que abandona-los, será da pior maneira possível, por que por livre e espontanea vontade, eu nunca faria isso. Mas se caso acontecer, quero que saiba Sandra, que essa casa é sua. Caso isso acontecer Daniel, pegue esse dinheiro e compre um carro. Eu quero ver você tão homem dirigindo, mesmo que não tenha sido eu a te ensinar a dirigir. Eu vou estar sempre ao lado de vocês, meus anjos”.
Eu comecei a chorar, e minha mãe também. Ela nunca havia me mostrado isso, e a carta, ele havia escrito quando eu tinha apenas seis meses. Minha mãe disse que tinha dinheiro enrolado por um elastico no meio da carta, ela nunca havia mexido no dinheiro, ela usou justamente para o que meu pai queria, que era me dar um carro. Eu me emocionei muito, abracei minha mãe e agradeci meu pai mentalmente. Que saudade dele.
Voltei lá para fora com a minha mãe, e fui testar o carro. Dei umas voltas com ela na rua e cara, que carro foda, sério. Eu estava realizado, mas eu tinha que contar os problemas da noite passada com minha mãe, eu não gostava de esconder esses tipos de coisa. Contei tudo e ela compreendeu, e última frase dela foi:
- Achei que meu filho de 18 anos nunca me traria problemas de alcolismo.
- Isso é bom?
- Talvez.
Nós gargalhamos e eu decidi ir em uma loja de skatista ali por perto. Aquela que ficava em frente da casa da Carol. Fui lá comprar uma coisinha e depois fui para a casa do Gustavo.
- E aí, ta melhor desgraça? - Gustavo perguntou me fazendo sorrir amarelo.
- Estou bem cara, valeu.
- Entra aí.
- Está sozinho?
- Sim.
Entramos e ficamos na sala um pouco, ele estava jogando video game. Quando ele decidiu para um pouco para dar atenção ao macho dele, ele percebeu que eu tinha algo nas mãos e perguntou:
- O que é isso?
- Então, é um presente pra você cara.
- Pra mim? Pô, valeu.
Ele pegou o pacote que eu segurava e antes de abrir, ele voltou a jogar um pouco.
- Calma velho, se não eu vou morrer - ele disse com os olhos vidrados na televisão.
Quando ele decidiu abrir, ele se deparou com uma camiseta nova, que ele estava a fim de comprar fazia uns dias.
- Nossa, não acredito. Valeu Daniel. Não precisava.
- Claro que precisava, acho que eu rasguei uma camiseta sua ontem.
- Verdade.
Fiquei ali na casa dele por mais um tempo, mas logo decidi ir embora. Fui dormir e esperar por mais um dia naquele colégio, eu já até imaginava o que me esperava. Mas tudo bem, eram os últimos três dias de aula naquela escola, ou inferno, como preferirem.
Cheguei no colégio e meus amigos estavam lá, como sempre, me esperando. O sinal logo bateu devido ao meu pequeno atraso. Mas antes de entrar na sala, pude ver um olhar de Giovana em mim. Como sempre, a aula passou voando, tudo contra mim, tudo para me ver conversando com a puta da Giovana, que com certeza, iria me encher o saco sobre a festa daquela sexta.
- Oi Dan - ela disse chegando próximo de mim.
- Meu nome é Daniel.
- Nossa, ignorante.
- Olha Giovana, não estou muito a fim de conversa com você. Mas como eu sei que você vai me encher o saco, fala logo o que você quer.
- Vamos sentar ali um pouco, para conversar.
Segui ela até um banco que ficava atrás do ginásio, ninguém ficava por ali, então achei bom. Me sentei com ela e logo começou as falas totalmente desnecessárias.
- Seu amigo Gustavo beija muito bem.
- Sério? Bom saber disso, estou a fim de pegar ele mesmo. Por favor Giovana, conversa séria, pelo amor de Deus.
- Calma, está com ciúmes?
- Giovana, ele te beijou porque ele é meu amigo, acredite nisso.
- Tudo bem, o beijo dele é bom, mas aposto que o seu é melhor ainda - ela disse se aproximando de mim e passando a mão no meu rosto.
- Me solta.
- Bem, você está meio estressado hoje, mas eu só queria te convidar para uma festa que eu vou fazer em casa, sexta-feira.
- Ta bom, eu vou - eu disse sem paciência, me levantando do banco.
- Sério?
- Sim.
Ela sorriu e começou a me seguir, eu parei na frente dela e disse:
- Já pode seguir seu caminho, que é com certeza o contrário do meu.
Giovana não respondeu, apenas se virou e foi para longe, ainda bem. Sim, eu realmente queria ir nessa festa. Eu não tinha nada para fazer, e uma festa era sempre legal, ainda mais com toda a galera do colégio. O sinal bateu e as aulas chatas continuaram, mas nada me animava tanto, sabendo que daqui dois dias, eu estaria de férias.
A semana logo passou, era sexta feira e eu não tinha mais aulas pelos dois meses seguintes, nada melhor. Hoje tinha uma festa para ir, e eu estava realmente animado, a única coisa que estragava essa parte, é que a dona da festa era Giovana. Mas tudo bem, meus amigos iriam comigo e o resto da galera se encontrariam lá.
Quando deu mais ou menos nove horas da noite, eu fui tomar banho. Quando saí, coloquei uma calça jeans, uma camiseta branca e tênis. Meu cabelo de qualquer jeito, como sempre. Esperei os meninos chegarem de carro para me levar, eu tinha meu carro mas não tinha carteira ainda, bem chato isso. Por isso que eu amo ter o Felipe como amigo, não que seja só por interesse ou algo do tipo.
Paramos em frente a casa da Giovana e aquilo estava o inferno. Tinha muita gente, conhecida, desconhecida, tinha tudo, menos responsáveis. O som estava alto, e a festa era dentro da casa. Entramos e a amiga de Giovana que nos atendeu, comecei a olhar ao redor de mim e ver que a festa era realmente boa, sempre agitada as festas que Giovana dava, pelo algo de bom ela sabia fazer. Continuei caminhando para dentro da casa até que me deparo com a escada. Giovana estava descendo. Eu nunca a descrevi fisicamente né? Bem, ela tinha um e sessenta e cinco de altura mais ou menos, um corpo bonito, cabelos pretos bem lisos e olhos pretos também, tinha um sorriso bonito. Era o tipo de menina que qualquer garoto olharia e dizia: “Que gostosa, pego fácil”. E eu concordo, ela era realmente bonita, mas o interior dela não ajudava muito. Bem, na festa ela estava com um salto alto, um vestido bem curto preto brilhante, que se fechava com um zíper de cima até embaixo. Ela nem queria chamar a atenção não, bobagem.
Quando ela terminou de descer as escadas, ela me viu e me cumprimentou, e ainda disse perto do meu ouvido devido ao som alto:
- Que bom que você veio.
- Vim pela festa que me parece boa.
Ela sorriu maliciosa para mim e foi para o meio da festa. Fiquei com meus amigos ali, curtindo o som, as pessoas e tudo mais. Bebendo aquela cervejinha, que mesmo com um pouco de frio, descia gelada e boa, muito boa. Mas eu estava bebendo moderado, eu não queria trazer problemas para meu amigo Gustavo novamente.
Eu continuava com meus amigos na festa, uma menina do primeiro ano do colégio me chamou e eu fui atrás dela até um lugar menos barulhento.
- Oi - ela disse.
- Oi.
- Você é o Daniel do terceiro ano não é?
- Sou sim, por que?
- Nada, só pra saber.
Eu não conhecia ela, acho que já tinha visto no colégio, mas nunca conversado. Não entendi muito bem o fato dela ter me chamado, até ela soltar o objetivo de uma vez.
- Uma amiga minha quer ficar com você.
- Pô gata, não vai dar - eu disse sem graça.
- Ah, você tem namorada? - ela perguntou com um sorriso amarelo.
- Tenho sim - eu respondi mentindo.
- Então ta bom.
Ela saiu meio que correndo e com vergonha, tudo bem, eu supero. Peguei mais uma latinha de cerveja e voltei para a roda dos meus amigos.
- Lembrou que você é meu e não aceitou ficar com ela? - Gustavo perguntou nos fazendo gargalhar.
- Era a amiga.
- Ah sim, sempre é a amiga, incrível.
Eu apenas ri e dei uma golada na bebida. Continuei de boa, no meu canto, apenas observando a agitação, que parecia aumentar cada vez mais.
Eram quatro da manhã e a festa ainda estava rolando, cheia de gente, música e bêbados. Meus amigos estavam enroscados em garotas bonitas e eu continuava ali, sem fazer nada e sem causar nenhum problema. Uma amiga de Giovana chegou por trás de mim e me cutucou no ombro, olhei para ela e ela disse no meu ouvido:
- A Giovana pediu para você ir lá em cima pegar a chave da dispensa, ela quer pegar mais cerveja.
- Porque você não faz isso? - eu perguntei vendo que tinha sido um pouco ignorante.
- Eu vou sair comprar mais bebida, vai lá fazendo favor.
- Ta bom, onde que está essa chave?
- Não sei, acho que na mesa da sala ou no balcão do quarto dela, pode subir tranquilo, ela que pediu.
- Ta legal.
Fui em direção as escadas e as subi com dificuldade e com um pouco de tontura. As luzes lá de cima estava apagadas, a casa dela era enorme também, e eu fui até a sala pegar as chaves. Procurei em cima da mesa e não achei, então fui até a porta do lado, onde era o quarto dela, e fui caminhando até o balcão. Não encontrei nada também, então eu me virei para a porta e fui sair. Eu FUI sair, mas Giovana me impediu de fazer isso. Sim, era uma armadilha, e eu tinha acabado de cair. Ela fechou a porta atrás dela e depois trancou com uma chave, me encarou com malicia. Estavamos sozinhos no quarto, então eu disse com um pouco de raiva:
- Abre essa porta Giovana.
- Não.
- Por favor, abre.
- Se quiser a chave, vai ter que pegar - ela disse colocando a chave no decote do vestido.
Ela era realmente insuportável e insistente. E fui caminhando até ela e pedi novamente.
- Abre Giovana, se não eu vou chutar e quebrar.
- Calma, não se estressa por pouca coisa - ela dizia calma como se nada estivesse acontecendo.
- Eu estou bem calmo, agora para de ser ridícula e me dá essa chave.
- Eu já disse que se você quiser, vai ter que pegar.
Eu me virei de costas para ela e encarei a porta. Eu sabia que ela não me deixaria sair dali. Fiquei por um bom tempo quieto, até ela perguntar:
- Até quando você vai resistir?
- Eu não sei - eu respondi me virando para ela.
Giovana sorriu e eu cheguei mais perto, cada vez mais perto. Ela mordeu o lábio e me encarou nos olhos. Quando eu estava bem perto dela, eu perguntei:
- O que você quer de mim?
- Tudo - ela respondeu me abraçando e passando a mão na minha barriga, por de baixo da camiseta.
Eu voltei a me afastar dela e ela ficou parada, sorrindo.
- Eu sei que você não vai aguentar Daniel - ela dizia rindo.
- É - eu respondi seco.
Ouvi os passos do seu salto alto caminharem para perto de mim. Eu permaneci de costas para ela, então ela me abraçou por trás e começou a acariciar minhas costas, levantando minha camiseta para cima. Eu me manti parado, até ela deslizar suas mãos para minha barriga. Ela ficou assim por um tempo. Ela disse:
- Vai dizer que isso não é bom?
Ela ao menos terminou direito a frase e eu me virei para ela com rapidez. Segurei com muita força seus cabelos com minhas duas mãos, e a puxei para um beijo. Ela voltou suas mãos em minhas costas e eu segurava ela com muita força, e a beijava com três vezes mais força. Ainda com nossos lábios juntos, eu comecei a empurra-la para trás, até encontrar o balcão. Segurei sua cintura com uma das mãos e a juntei bem perto do meu corpo. Logo depois eu a levantei, deixando-a sentada em cima do balcão, onde alguns porta-retratos foram derrubados. Eu a beijava com força, e fazia movimentos rápidos com a boca. Giovana envolveu meu corpo com suas pernas, e eu segurei na sua coxa com força, ainda com os lábios unidos. Ela escorregou suas mãos até a barra da minha camiseta e a puxou para cima, interrompemos o beijo por alguns segudos somente para a passagem da camiseta pela cabeça. Giovana a jogou para longe depois de tira-la, e eu continuava apertando sua perna e a beijando com força e agilidade. Ainda com suas pernas em torno da minha cintura, eu a segurei no colo e a tirei de cima do balcão, ainda beijando-a, deitei-a em sua cama e pousei meu corpo sobre o dela. Nossas linguas brincavam e eu fazia movimetos cada vez mais fortes, tirando suspiros dela. Ela voltou a envolver meu corpo com suas pernas, fazendo seu vestido levantar um pouco. Depois de alguns segundos assim, eu afastei um pouco meu rosto do dela e a vi sorri, olhei para seu corpo e com uma das mãos, caminhei até o zíper de seu vestido para abri-lo. Abaixei o zíper até a linha da sua cintura, ela sorriu mais um vez para mim, mas eu voltei a beija-la na mesma intensidade de antes. Interrompi um pouco o beijo e começei a morder sua orelha, ela passava a mão nas minhas costas e respirava com dificuldade, depois de alguns segundos, eu passei a lingua em seus lábios e voltei a beija-la, segurando com uma mão em seu pulso. Com a outra mão, fui até o lado de seu corpo, onde a chave do quarto havia caído. Sem fazer barulho, eu segurei a chave firme, fechando o punho, e continuei a beija-la. Depois de que eu estava certo de que a chave estava em minhas mãos, eu me levantei de cima dela e caminhei até onde minha camiseta estava. Joguei-a em cima do ombro e caminhei até a porta, a expressão de Giovana mudou de um sorriso, para uma expressão de duvida. Abri a porta com a chave e vesti a camiseta, ela ainda permanecia deitada na cama, com o vestido aberto, me encarando sem expressão dessa vez. Eu estava cheio de raiva, peguei a chave e joguei com força em cima do balcão que ficava do outro lado do quarto, derrubando um retrado no chão. Antes de sair eu cuspi no chão e olhei para ela, que estava assustada, e então eu disse:
- Boa sorte sendo assim Giovana.
Fechei a porta com força e fui até o banheiro. Joguei uma água no rosto e arrumei um pouco o cabelo. Respirei fundo em uma tentativa frustrada de recuperar o folego e desci novamente, a festa já estava um pouco parada, e a maioria das pessoas já estavam lá fora. Fui até o jardim da casa, onde me encontrei com os meninos, logo Vinicius me abordou e perguntou:
- Onde você estava cara? Estamos atrás de você.
- Desculpa, eu passei mal e fui lá em cima respirar um pouco - eu respondi mentindo.
- Vamo embora cara, rolou uma briga aqui com o Gustavo - Felipe disse praticamente nos puxando até o carro.
Eu olhei assustado para eles e perguntei:
- Com o Gustavo? Como assim? Cadê ele?
- Ele ta bem, eu já levei ele embora, vamos agora.
Entrei no carro e eu estava morrendo de preocupação com meu amigo, então eu pedi para que Felipe me deixasse na casa dele.
Era tarde, mas mesmo assim eu o chamei. Ele saiu da sua casa e foi até o portão me atender.
- Entra, vamos lá em cima - ele disse me dando passagem para entrar.
Eu subi as escadas de sua casa e fui até seu quarto, ele se deitou com um pouco de dificuldade, e eu percebi que seu olho estava inchado.
- Cara, o que aconteceu? - eu perguntei muito assustado ao ve-lo naquele situação.
- Ah velho, relaxa, eu estou bem.
- Me conta o que aconteceu Gustavo.
- Eu fiquei com uma menina lá na festa, e um cara chegou me empurrando dizendo que ela era namorada dele e tal.
- Filho da puta, quem é ele?
- Não se estressa Daniel, é o Fernando lá do colégio.
- Eu nunca fui com a cara desse pau no cu.
- Ninguém vai com a cara dele.
Eu abaixei a cabeça e me senti mal, meu amigo tinha se metido em uma encrenca e eu ao menos estava lá para ajuda-lo. Me senti no dever se protege-lo, então eu disse:
- Ele vai ter o troco, relaxa.
- Não Daniel, ele não vai, você não vai fazer nada, eu não quero que você faça nada entendeu? Já passou.
- Mas olha para você.
- Eu já disse que passou.
- Desculpa cara, quando você precisa dos seus amigos...
- Para Daniel, você sempre foi meu amigo, e não era seu dever estar ali naquele momento para me proteger.
- Você já me ajudou tanto, eu sou como um irmão pra você cara, vacilei.
- Relaxa vai, dorme aqui em casa.
Eu fui até o armário dele e peguei um colchão, me deitei ali no chão e dormi. A cada uma hora eu acordava com um pesadelo diferente, foi a pior noite da minha vida. Vários pensamentos e sentimentos passavam como um filme na minha cabeça, e eu não conseguia esquecer Carolina. Do dia que ela havia ido embora, eu não tinha ligado para ela ou algo do tipo, eu preferia evitar, antes que uma saudade maior, ou uma dor maior tomasse conta de mim. Eu queria deixa-la em paz para viver bem lá onde ela estava, mas eu confesso, estava cada dia mais difícil não pensar nela.
O dia amanheceu e eu acordei com Gustavo me chamando. Fomos até a cozinha onde estava sua mãe, comemos uns lanches e tomamos um pouco de café para aliviar o estresse do dia anterior.
- Você ta bem Gustavo? - eu perguntei vendo que o olho dele parecia mais inchado do que ontem de noite.
- Minha cabeça dói um pouco, mas to legal.
- Toma um remédio velho.
Eu levantei e fui até a gaveta onde ele guardava uns remédios. Preparei um copo com água e dei para ele tomar.
- Deita um pouco lá no sofá, daqui a pouco passa - eu disse levando-o até a sala.
Ele se deitou no sofá grande e eu me acomodei no menor. Fiquei assistindo um progama idiota na televisão enquanto ele descansava, quando ele finalmente voltou a dormir, eu fui para a minha casa.
Tranquei a porta e subi para o meu quarto. Sentei na cama e comecei a pensar novamente, sobre tudo. Ao lado da minha cama, me deparei com o presente que Carolina tinha me dado, sorri sozinho, mas logo voltei a vida real. Fui até o banheiro e me assustei quando me vi no espelho. Meus olhos estavam vermelhos, e minha boca estava seca. Tirei a blusa e a joguei em um canto, voltei a me olhar no espelho e vi uma marca, um arranhado na minha barriga. Era a marca das unhas da Giovana. Minha cabeça pesou e eu fui tomar um banho gelado, eu precisava esquecer de tudo, eu precisava pensar no que seria melhor para mim agora, no que eu deveria fazer em relação a tudo.
A água gelada que caiu na arranhado me machucou, mas nada era maior que a dor que eu sentia. A cada gota que escorria ali, me fazia pensar na dor que eu senti quando vi Carol indo embora. Era a pior sensação do mundo, eu tinha vontade de me matar, de gritar. Eu nunca pensei que isso aconteceria comigo, era tudo tão diferente quando o assunto era Carol, eu estava disposto a deixar muita coisa por ela. Talvez ela não enxergasse isso, não sei se eu não dava confiança o suficiente pra faze-la acreditar em mim. Antes de ve-la eu morava em um mundo onde eu costuma chamar de ‘meu’. Mas depois eu a conheci, eu estava completamente preparado pra me mudar para um outro mundo, onde passaria a chama-lo de ‘nosso’. Mas eu me lembrei que ela estava a quilometros de distância de mim, e o ‘nosso’ mundo, voltou a ser ‘meu’. Não porque eu queria, não porque ela não existia mais na minha vida, mas sim porque tinha um oceano, impedindo de nós vivermos o que queriamos. Destino ou não, eu estava sofrendo do mesmo jeito.
Saí do banho e vesti uma samba-canção e uma camiseta. Deitei na cama e algo não me deixava fechar os olhos. O celular tocou, era uma mensagem do Gustavo, estava escrito: “Não se esqueça que eu sou seu irmão, e pode soar gay, mas eu te amo”. Eu ri e fiquei em dúvida quanto a mensagem, mas do mesmo jeito fechei os olhos e tentei dormir mais uma vez. Em menos de cinco minutos eu abri os olhos e olhei para a minha barriga, tinha uma marca de sangue, era o arranhado. Fui até o banheiro, tirei a camisa e joguei ela com força no chão, minha mão bateu sem querer no canto da pia e me cortou, começou a sair sangue também, e eu estava completamente estressado. Enfaixei minha mão com uns curativos e coloquei outros em cima do machucado da barriga, voltei no quarto e quando sentei na cama, meu celular tocou novamente. O número era estranho, mas mesmo assim eu atendi:
- Oi.
- Oi, quem é? - a voz do outro lado da linha perguntou.
- É o Daniel, quem está falando?
- Sou eu.
Meu coração parou, minha voz sumiu e meu mundo começou a cair. Era a voz de Carolina, nada me confortou tanto e nada me fez tão mal do que aquela ligação.
- Carol? - eu perguntei com a voz falha.
- Oi Dan.
- Está tudo bem?
- Mais ou menos.
A voz dela era triste, e a minha garganta estava com um nó enorme, eu ao menos podia falar direito. Mas eu consegui perguntar.
- O que aconteceu?
- Você sabe.
- Não, eu não sei, me conta.
- Daniel, a gente não se falou desde o dia em que eu fui embora, eu realmente achei melhor assim, mas desde quando eu viajei, eu converso com o Gustavo por telefone todos os dias.
- Com quem? O Gustavo? Meu melhor amigo?
- É.
- Porque? Me explica, eu não estou entendendo.
- Eu não me importava com essa viajem desde que ela só fizesse mal para mim. Mas ela te afetou também, eu já sei de tudo e você não precisa explicar, eu sou capaz de entender. Eu não vou ficar bem enquanto você não estiver Daniel.
- Não se preocupa, eu estou legal.
- Não, você não está.
- Carol, eu achei que eu era capaz de viver sem você, mas eu não sou. Eu perdi minha cabeça quando você entrou naquela merda de avião e foi pra longe de mim. É como se meu consciente estivesse ido com você, é como se ele estivesse em suas mãos agora.
- E porque você não me disse isso?
Carol estava chorando, conhecia pela voz. Eu abaxei a cabeça e comecei a chorar também, era tudo, era o limite.
- Porque eu não queria acabar com a sua vida. Estar aí onde está agora é a sua chance, é a sua aportunidade, você tinha que pensar em você, nos seus problemas.
- A questão é que desde o dia em que eu passei a te amar, os seus problemas são meus também. Eu não quero brigar com você por querer me ajudar, mas Daniel, entende que eu não quero acabar com a sua vida, e se você continuar assim, ela vai acabar rápido.
- Eu queria ter você aqui do meu lado agora, mas não tenho. E aí, o que a gente pode fazer? Nada Carol, infelizmente nada. Eu só preciso que você esteja bem.
- E eu que você esteja bem.
- Eu estou.
- Não está.
- Eu te amo Carol.
Finalizei a ligação e desliguei o celular. Meus olhos estavam cheios de água, eu apenas joguei o celular no criado, eu tinha entendido o que a mensagem do Gustavo queria dizer. Eles conversavam todos os dias, ela sabia de tudo, eu só queria não deixa-la preocupada com nada, mas foi tudo em vão. Deitei novamente na minha cama, dessa vez, acordando somente no dia seguinte.
Senti alguém me chamar, balançando meu ombro para frente e para trás.
- Filho, acorda - eu ouvia minha mãe dizer.
Eu revirei meu corpo e ela ainda me chamava.
- Daniel filho, acorda, o que aconteceu na sua mão?
- Nada mãe.
- Daniel, acorda!
Me sentei na cama e senti meus olhos inchados. Minha mãe se sentou ao meu lado de pegou na minha mão.
- O que aconteceu aqui? - ela perguntou preocupada.
- Nada mãe, eu cortei sem querer na pia ontem e não parava de sangrar.
- Você está bem?
- Sim.
- Vem tomar café comigo então.
Levantei da cama e fui até o balcão alcançar meu chinelo. Minha mãe veio por trás de mim e levantou minha camisa, eu a puxei para cima para ficar sem, e fui até a porta para descer até a cozinha, minha mãe veio atrás de mim. Chegando na cozinha, eu me lembrei do machucado que estava com curativos. Ok, não tinha mais como esconder.
- Meu Deus Daniel, o que você fez ontem a noite? Quis se matar?
- Não mãe, relaxa.
- O que aconteceu na sua barriga?
- Nada, deixa pra lá.
- Ah não, pode me contar.
Terminei de pegar uma caneca do armário e me sentei com ela na mesa.
- Eu fui em uma festa sexta, aconteceu umas coisas e tal.
- Que coisas Daniel? - ela perguntou sem me deixar terminar direito.
- A Giovana mãe.
- O que tem ela? - ela novamente perguntou com um tom um pouco mais estressado.
- Ela queria transar, sei lá o que ela queria mãe.
- E o que você fez Daniel? Pelo amor de Deus.
- Nada, eu dei um corte nela, não se preocupa.
- Mas ela que fez isso na sua barriga? Como ela fez isso sendo que não aconteceu nada?
- Foi ela, é que eu fui até o quarto dela e ela começou a passar a mão na minha barriga ué, as unhas estavam grandes e acabou me machucando.
- Você não está mentindo né?
- Claro que não mãe.
Contei mais algumas coisas para ela, inclusive a briga do Gustavo, só não contei da ligação da Carol. Depois de comermos, eu fui até a sala e fiquei vendo um pouco de tv. A conversa com Carol no dia anterior não saia da minha cabeça. Ouvi alguém me chamar lá fora e fui até a janela ver. Era Gustavo, meu amor não conseguia viver longe de mim. Ta bom, já parei.
- Entra - eu disse abrindo a porta para ele.
- Me seduziu só de samba-canção amor - ele disse me fazendo rir e não se esquecendo do bom humor.
- Oi minha rainha - ele disse cumprimentando minha mãe que ainda estava na cozinha.
Logo depois ele foi para a sala comigo e nós começamos a conversar.
- Então, acho que você entendeu minha mensagem ontem, né? - ele perguntou me fazendo lembrar do que eu não tinha esquecido.
- Entendi sim.
- Está de cara comigo?
- Claro que não velho, mas sei lá, eu só não mantive contato com a Carol justamente para ela não se preocupar com o que eu estava fazendo aqui.
- Eu sei, mas antes dela viajar ela insistiu muito para eu falar tudo que acontesse com você para ela. E desde quando ela foi viajar, ela me liga todos os dias.
- Sério? - eu perguntei com um sorriso que fez questão de sumir em menos de meio segundo.
- Sério cara, a Carol gosta muito de você.
- Eu gosto dela também.
Um silêncio permaneceu por alguns segundos na sala, mas logo Gustavo voltou a conversar.
- Ela se importa muito com você. Ela nunca deixou de me ligar nenhum dia.
- E você contou tudo? Sobre a Giovana e tal?
- Contei Daniel.
Eu me senti um pouco mal, sei lá, era estranho. Gustavo olhou para minha barriga e levantou uma sobrancelha.
- O que aconteceu aí cara?
- Ah meu, longa história - eu disse me virando para o outro lado do sofá.
- Ainda bem que tenho o dia livre, pode me contar.
- Você parece minha mãe Gustavo.
- Eu sou, sabia? - ele disse brincando com a minha cara.
- Sério? Que legal mamãe - falei entrando no humor dele.
- Vai filho, conta logo.
Contei toda a história para o Gustavo, ele não acreditava na cara de pau da Giovana de fazer essas coisas comigo, nem eu acreditava na verdade. Ele ficou surpreso e falou:
- Você ainda se sentiu culpado por não ter me ajudado na briga com o Fernando? Você também estava em apuros cara.
- Eu sei, mas era diferente, eu realmente tinha que te ajudar.
- Ta bom, chega dessa história, topa um Starbucks?
- Demorou.
Fui para meu quarto por uma roupa e Gustavo foi para a cozinha conversar com a rainha dele, mais conhecida como minha mãe. Depois que terminei, desci e fomos para nosso lugar preferido, que estava meio abandonado por nós.
Sentamos no nosso lugar preferido e pedimos um latte de baunilha. Ficamos conversando e rindo de algumas coisas que estavamos lembrando, mas no fundo eu continuava mal. Bem, do nada, umas menininhas de uns doze ou treze anos passaram por nós rindo e olhando. Depois de uns cinco minutos elas passaram de novo. Eu e o Gustavo resolvemos chama-las, só para destrair o ambiente.
- Oi moças - eu disse quando elas se aproximaram.
- Oi - elas responderam “tímidas”.
- Vocês não querem se sentar aqui com a gente? - Gustavo perguntou tirando um sorriso delas.
Elas se sentaram e ficaram rindo, eu e Gustavo apenas trocavamos olhares, rindo também.
- E aí, o que vocês estão fazendo por aqui? - eu perguntei.
- Nada, só passeando - uma delas respondeu.
Perguntamos os nomes delas e a idade, eram realmente meninas de doze e treze anos. Super novinhas, mas eram fofas.
- A gente achou vocês bonitos - uma delas falou fazendo eu e o Gustavo rir.
- Sério? Vocês que são lindas - Gustavo disse.
- Vocês têm namoradas?
- Não, e vocês não acham que são muito novas pra falarem disso? - eu perguntei tirando outro sorriso delas.
- Eu já tive namorado.
- Nossa, dessa idade? Minha primeira namorada foi com 15 anos só.
Elas começaram a rir e conversar entre si.
- As namoradas de vocês eram da sua idade? - uma menina perguntou.
- Sim sim, no máximo um ano mais nova.
- Vocês não namoram meninas bem mais novas?
- Ah não, é meio estranho.
- Porque? - elas insistiam no assunto.
- É diferente, mas vamos falar de outra coisa, quando minha filha tiver treze anos eu quero ela falando de boneca ainda, não de namorado - eu disse tentando fugir desse papo.
- Nossa.
Nós começamos a rir da situação, mas chega de brincadeira, nós tinhamos que ir embora. Nos despedimos das meninas e eu fui para casa, antes deixei Gustavo na dele.
Ao chegar na minha rua, vi uma menina parada em frente te casa, não sabia quem era, não até chegar um pouco mais perto e ver. Era Giovana, o que ela estava fazendo ali, eu juro que eu não sei.
- Está procurando alguma coisa Giovana? - eu perguntei quando cheguei atrás dela.
- Estou sim, você.
- O que você quer dessa vez?
- Posso entrar? - ela perguntou.
Eu pensei bem, nós poderiamos muito bem conversar ali fora, mas eu precisava sentar, e nem liguei em chamar ela para entrar. O único problema era minha mãe. Abri a porta de casa e dei passagem para ela entrar. Minha mãe estava no escritório, então eu chamei Giovana para subir comigo. Eu tinha um sério medo de leva-la até meu quarto, mas era o melhor lugar naquele momento.
- Fala - eu disse seco.
- Daniel, você pode me explicar o que você fez comigo sexta, na festa?
- Explicar o que EU fiz com você? Como assim Giovana?
- Você me beija daquele jeito, praticamente tira minha roupa e depois sai correndo como se eu fosse um animal, sei lá.
- Você é um animal, venenoso ainda.
- Cala boca.
- Não.
Ela percebeu que não seria fácil ganhar de mim. Ela se sentou na minha cama e eu me levantei. Tirei a camisa e o tênis, apontei para o machucado que ela havia feito em mim e falei:
- Você ainda me machucou.
- Você me machucou, você tem noção de como eu fiquei depois daquela noite?
- Tenho. Você é tão acostumada a vencer né? É tão fácil para você conseguir garotos que transem com você a noite inteira, é tão fácil ser bonita e conseguir qualquer coisa né Giovana?
- Para de me ofender.
- Ofender? Acorda meu, você já deu para metade do colégio, se eu dormisse com você aquela noite eu tenho certeza que acordaria sozinho na cama, e quando eu pergutasse por você, as pessoas me responderiam que você já estava na cama de outro.
- Isso não é verdade, eu te amo Daniel.
- Você sabe amar? Você sabe o que é amor?
- Eu aprendi com você.
- Fica quieta, você não tem noção do que isso significa. Você não é capaz de amar ninguém.
Ela abaixou a cabeça em tom de derrota. Mas ela insistia na conversa.
- Nunca mais faça isso comigo.
- Você me prende no quarto, praticamente me obriga a transar com você, e eu é quem tenho que parar? Cresce Giovana.
- Fica comigo.
- Não.
- Sua namorada foi embora, para sempre, você acha que ela pensa em você ainda? Ela deve estar dando para outro bonitinho lá na Inglaterra, e você aí, achando que ela está triste e sofrendo por você. Cresce Daniel.
- Acontece que você acha que todos são iguais a você, e não é bem assim.
- Ah não? O que ela tem de diferente? O que ela tem que me falta?
- Noção, um coração, humildade e uma beleza interior enorme.
- Ta bom Daniel.
- Você desiste?
- Dessa conversa sim, de você, nunca.
Ela se levantou e foi embora, eu continuei no quarto. Eu não havia me estressado com essa conversa, mas ela realmente me irritava.
Caminhei até o balcão onde meu celular continuava jogado e desligado, desde quando Carol havia me ligado. Apertei o botão verde e na tela algumas ligações desnecessárias perdidas, e no canto, um envelope, indicando mensagem não lida. Sem muita vontade de ler, eu a abri, e na mensagem estava escrito: “Eu te amo também”. Era da Carol, e eu me lembrei que no telefone eu havia dito que a amava e logo depois desligado. Sorri meio bobo mas logo voltei a realidade que eu estava vivendo. Ela não estava mais a seis quarteirões da minha casa para eu poder ir correndo lá e abraça-la. A realidade estava me matando, eu não pensei que ela se tornaria tudo isso, eu só acho que esquece-la, seria um dos maiores desafios da minha vida.
Eu não estava afim de ficar em casa, fui para uma praça ali perto mesmo, respirar um pouco e tentar não pensar em outras pessoas, tentar pensar em mim, que fosse por meio segundo. Eu estava sentado em um banco, sozinho, e ouvi alguém me chamar. Quando me virei para trás para ver quem era, me deparei com Fernando, o menino que havia brigado com Gustavo. Ele se aproximou de mim e falou:
- Olha só, o amiguinho do Gustavo.
- O que você quer aqui?
- Calma, eu só quero te fazer uma pergunta.
Eu não falei nada, apenas fiz sinal para que ele pudesse falar de uma vez, e foi o que ele fez.
- Você é quem está atormentando a Giovana?
- O que? - eu perguntei surpreso.
- Ela veio reclamar para mim, fiquei sabendo que você forçou ela a fazer coisas com você na festa. Quem você pensa que é Daniel?
- Ela quem me forçou a fazer coisas.
Ele deu uma gargalhada de deboche, não acreditando em mim, claro.
- Olha aqui cara, eu já vou com a cara do seu amiguinho Gustavo, tive que dar uma porrada nele pra ele nunca mais mexer com a mina dos outros, e agora vem você mexer com a Giovana, acho que vocês estão muito folgados.
- Vai embora cara, você não sabe o que ta falando - eu disse me levantando e com o tom um pouco mais alto.
- Não enquanto eu não acabar com você.
Ele veio na minha direção com o punho fechado, não demorou para ele lançar a mão na direção do meu rosto. Eu me desviei mas mesmo assim pegou no meu maxilar. Fechei o punho também e dei um soco no rosto dele, que felizmente, pegou em cheio, ele cambaleou para os lados e voltou na minha direção, ele segurou meu ombro e me empurrou para trás e uma briga feia entre nós dois começou ali. Fomos interrompidos por um policial que nos acertou com um soco no peito, ele perguntou nosso nome e pediu o telefone. Caralho, iriam ligar para a minha mãe, certeza. Antes de Fernando ir embora eu gritei apontando o dedo para ele:
- Não mexe mais com o Gustavo.
Ele apenas me encarou com uma cara de mal e foi ao lado oposto do meu. Sentei em um outro banco na mesma praça e fiquei sentado, encarando meus próprios pés. Um gosto horrível de sangue surgiu na minha boca, fui até um bar comprar água para tentar limpar. E depois de uns cinco minutos, meu celular tocou, era Gustavo.
- Cara, aonde você está? - ele perguntou sem ao menos me dar oi.
- Eu estou bem.
- Me fala aonde você está Daniel, eu já fiquei sabendo.
- Relaxa Gustavo, eu estou bem.
- Porque você fez isso? Você é alto, forte mas o Fernando é três vezes mais, tinha que ter ficado quieto no seu canto.
- E deixar o soco que ele te deu passar em branco? Não mesmo.
- Daniel, algum tempo atrás você jamais faria isso.
Um nó se formou na minha garganta, eu estava sujo por dentro, eu estava me sentindo péssimo. Gustavo continuou falando:
- Você é outra pessoa sem a Carol aqui, e você sabe. Cara, esquece tudo isso, não fica sofrendo, a gente se conhece a tanto tempo e você sabe que desde quando você perdeu seu pai, eu tento ser um para você. E vendo você nessa situação eu realmente me sinto como um pai, que odeia ver seu filho derrotado, triste. Eu lembro quando eu ia na sua casa para a gente sair, seu pai sempre virava para mim e dizia para eu cuidar de você, ele dizia que confiava em mim mais do que em você, você se lembra? Desde que ele se foi eu só penso em cuidar de você, não que eu me sinta obrigado, mas sim porque foi o que seu pai me deixou como presente. Eu quero seu bem velho, não faz isso comigo. Acredite ou não, as pessoas que mais estão sofrendo com essa sua derrota, são eu e Carolina. Se você precisar pode vir aqui em casa, sei lá, mas não fica na rua não, vai para casa.
Eu estava com os olhos encharcados. Gustavo desligou o celular sem que eu pudesse dizer uma palavra. As palavras dele sobre meu pai, Carolina e sobre ele mesmo me fizeram pensar no que eu estava fazendo. Enxuguei as lágrimas que se formavam de repente nos meus olhos e fui para casa, obedecendo o que meu amigo, pai, irmão havia pedido.
Chegando em casa, minha mãe estava sentada no sofá. Eu desfarcei um pouco a cara de choro e fui até mais perto dela.
- O que você aprontou Daniel? - ela perguntou sem ao menos me cumprimentar.
- Eles te ligaram?
- A policia? Sim.
- Eu briguei com um menino lá na praça, eu estava de cabeça quente.
- Brigou porque?
- Ele tinha batido no Gustavo na festa e ele veio falar umas coisas sem noção para mim, e foi mais por defesa mãe, ele que veio para cima de mim.
- Daniel, eu não aguento mais.
- Não vai acontecer de novo mãe.
- Eu acho bom.
Ela se levantou e foi para o quarto dela, eu nunca tinha visto minha mãe tão furiosa comigo, foi péssimo ver aquilo. Fui até a cozinha e peguei um copo de água, voltei para o sofá e fiquei lá até anoitecer.
Acordei com o telefone de casa tocando, era a diretora do colégio falando sobre a formatura do terceiro ano. Minha formatura no caso. Iria acontecer daqui a quatro semanas, ninguém era obrigado a ir, mas era uma festa bem legal, e eu com certeza iria. Bem, voltei a me deitar ali no sofá mesmo, dormi assistindo tv e pensando, em tudo.
Se passou um mês. Um mês no qual eu não havia falando com Giovana, nem com Carolina, mas Carolina continuava ligando para o Gustavo todos os dias. Era noite de formatura, estavamos todos felizes e animados com a festa. Os meninos estavam em casa, todos parecendo gente e homens, de smoking e sapato, um luxo. Quem estava para levar a galera aquela noite era eu mesmo, com o meu carro, confesso que eu estava empolgado com isso. Não, eu não tinha carteira ainda, mas nem ligo, minha mãe tinha me liberado, então ta firmeza.
- Todos prontos? - eu perguntei rindo ao ver três pinguins no meu quarto, se arrumando.
- Calma velho, cade minha gravata? - Vinicius perguntou desesperando tirando uma gargalhada de todos nós ali.
- O Felipe colocou sua gravata dentro do sapato dele.
- Filho de uma puta.
- Não xinga minha mãe seu vagabundo.
Esse era o clima ali em casa, bem tenso. Depois de mais uns dez minutos, finalmente estavam todos prontos. O perfume que permanecia no quarto era insuportável de tão forte. Descemos e todos os meninos fizeram praticamente um montinho em cima da minha mãe, que não ia na festa da formatura.
- Boa festa meus filhos.
- Valeu tia Sandra, a gente ama você.
Fomos até o carro, eu fui dirigindo, obviamente, e Felipe foi do meu lado me explicando o caminho que só ele sabia. A festa seria em um salão enorme. Chegando mais perto do local, já se podia ver várias meninas de vestido e meninos de smoking. Estacionei o carro e saímos. Ao entrarmos no salão, sentimos vários olhares sob nós, me senti meio mal, mas superei.
- Os meninos mais bonitos do colégio vieram sem companhia? - uma professora perguntou ao entrarmos.
- Somos feios professora - nós falamos gargalhando.
- Feios aonde? - ouvimos uma voz dizer de algum canto, não identificado.
- O negócio é arrumar companhia aqui dentro professora - Felipe disse tirando uma gargalhada do professora mais bonita do colégio.
Continuamos andando sem rumo, até chegarmos ao centro do salão, onde todos dançavam sozinhos com a música agitada que o DJ estava tocando. As meninas estavam todas bonitas, inclusive Giovana, claro. Entramos na dança também, literalmente.
Era bonito ver pelo menos uma vez na vida todos do colégio se dando bem, sorrindo, felizes, a não ser Fernando que insistiam em ficar com sua cara de bulldog mal comido. Giovana chegou na nossa roda, ela estava realmente linda, nos cumprimentou educadamente e discretamente, discrição que permaneceu por uma boa parte da noite, o que me deixou confuso e sem entender o bom comportamento dela.
Eram uma e meia da manhã. Eu e Vinicius estavamos juntos ainda “dançando”. Felipe e Gustavo estava com duas meninas gatas do segundo ano, e Giovana, bem, lembra da discrição toda dela? Tinha acabado, ela estava aos beijos com Fernando, sim, aquele Fernando. Eles praticamente estavam se comendo no meio do salão. Achei legal, foram feitos um para o outro, casal perfeito da noite.
- Vinicius, vou ali tomar alguma coisa - eu disse saindo de perto dele.
- Beleza.
Fui até a bancada de bebidas e peguei qualquer coisa com alcool para tomar. Me sentei na mesa que era reservada para nós e fiquei ali, só observando toda aquela festa. Comecei a pensar em Carol, e no quanto eu queria que ela estivesse ali comigo.
- Oi, está me escutando? - eu ouvi uma voz ao meu lado falar.
- Oi, desculpa, eu estava pensando aqui.
- É, eu percebi, posso me sentar?
- Claro.
Era uma menina do outro terceiro ano, loira, tinha os olhos verdes e um sorriso bonito.
- Daniel o seu nome não é? - ela perguntou se sentando ao meu lado.
- Sim, e o seu? Me desculpe, eu não gravo muito bem o nome do pessoal do colégio.
- Tudo bem, meu nome é Jenifer.
Eu era muito doente cara, mas tudo bem. Ela era gata e eu estava sozinho mesmo, uma companhia não seria nada mal.
- O que você está fazendo aqui sozinho? - ela perguntou.
- Ah, eu estava com meus amigos, mas eu cansei de ficar em pé e vim descansar um pouco.
- Entendi.
- E você linda, está sozinha aqui?
- Estou com minhas amigas, mas elas estão dançando! Cansei também.
- Essa juventude, se deixar dançam até o sol atravessar aquela porta - eu disse tirando uma gargalhada dela.
- Verdade.
Eu comecei a observar melhor e me lembrei dela lá no colégio, era era realmente bonita, de vestido, maquiagem e salto alta ficava mais ainda. Ela ficou meio tímida, mas mesmo assim perguntou:
- Você não tem namorada?
- Eu não, e você?
- Não também, estou a procura de alguém, mas está difícil.
- Porra, você gata desse jeito não arruma namorado, eu estou fodido então.
- Ah nossa, é que você é muito feio - ela disse em um tom sarcástico, me fazendo rir.
- Eu sou feioso.
- Mas porque não namora? E não ver dizer que é falta de beleza.
- Na verdade eu namorava uma menina, mas não deu certo por umas coisas aí, e pra falar a verdade eu não esqueci dela ainda sabe?
- Eu entendo.
- Então. Mas sei lá, uma hora eu vou ter que tocar a vida e arrumar uma outra esposa não é?
- Ta certo - ela disse rindo do “esposa”.
Ficamos em silêncio um pouco. Eu não tinha mais assunto, até eu olhar para frente. A mais ou menos uns sete metros de mim, Vinicius dançava sozinho, acho que um pouco bêbado, sei lá. Olhei para Jenifer e tive a idéia do século. Ta, menos.
- Você conhece o Vinicius? - eu perguntei para ela vendo-a sorrir.
- O seu amigo?
- Sim, aquele ali na frente.
- Nunca falei com ele, mas conheço de vista também. As meninas da minha sala morrem por ele. Não só por ele né, por todos vocês.
- Nossa, leva elas pro hospital, ou pro oftalmologista. - eu disse tirando uma gargalhada dela - mas então, cara bonito, esperto, solteiro. O que acha?
- O que? Eu?
- Claro gata, quem sabe? Vou lá falar com ele, pode?
- Ai Daniel - ela disse tímida, eu entendi aquilo como um sim.
Me levantei da mesa deixando-a sozinha ali. Fui até Vinicius que estava meio louco já, e chamei ele para um canto menos barulhento.
- Pô cara, arrumei uma gata pra você, ta afim? - eu disse vendo-o sorrir.
- Lógico que to afim meu irmão, quem é a sortuda? - ele disse com a voz um pouco alterada.
- Menos Vinicius. Então, é aquela sentada na nossa mesa, Jenifer, do outro terceiro ano.
- Nossa, estou indo lá irmão, ela é gata pra caralho.
Eu olhei meio assustado o vendo sair de perto de mim e indo em direção a ela. Fiquei com medo mesmo, acho bom ele não dar uma de bêbado na frente dela. Fiquei observando os dois conversando, e em menos de, deixa eu ver, uns cinco minutos, eles estavam aos beijos. Eu fiquei assustado com aquele beijo também, parecia que um queria engolir o outro. Ok, chega. Depois de um beijo bem dado, eles se levantaram e foram pra pistar dançar, e eu voltei a me sentar na mesa.
Peguei meu celular e fiquei girando ele em cima da mesa, embora algumas músicas animadas estivessem tocando, eu realmente estava entendiado. Não preciso dizer o que eu mais queria naquele momento né? Que bom, porque eu não estou a fim de tocar nesse assunto de novo. Voltei o olhar para frente e vi como o salão tinha enchido, era um pouco tarde já para ver tanta animação daquela galera do colégio.
Eu estava ficando louco já. Eu havia passado o olhar pela entrada enorme do salão e havia jurado ter visto alguém conhecido ali. Era isso mesmo? Uma lata de redbull e copo de whisky não iria me fazer delirar ao ponto de ver ela ali na porta. Voltei a olhar e vi de longe uma menina com uma calça jeans cinza, uma blusa preta e um sapato preto, fechado e de salto alto. Observei melhor, pela última vez, e agora sim eu tinha certeza, era Carolina, ali, na festa de formatura, a menos de vinte metros de mim.
Me levantei e ainda pude ve-la parada na porta da frente, os cabelos lisos e soltos estavam voando devido ao vento que fazia. Chegando um pouco mais perto, ela se virou de costas e ficou um pouco mais longe da porta. Mas era ela mesmo, o que ela estava fazendo ali? Eu não tinha cabeça o suficiente para pensar. O perfume dela, de longe entrou nos meus pulmões me fazendo ficar completamente intoxicado, e se ainda sobrava algum tipo de pensamento na minha mente debilitada, era ela a dona do pensamento. Conforme eu andava, meus passos se misturavam com o som das batidas do meu coração. Coração que parecia querer sair do peito, de tão forte que batia. Um leve onda de calor percorreu todo o meu corpo, me exigindo respirar mais rápido e forte, tudo isso causado por ela, que ainda permanecia de costas. Quando ela se virou, seus olhos cansados encararam os meus, e tudo o que já havia acontecido comigo em um minuto, se repitiu, só que dessa vez, em menos de cinco segundos.
- Carol? - eu perguntei com a voz falha e assustada.
- Oi Daniel - ela disse com a voz baixa e fraca.
- Você, o que você está fazendo...
- Eu voltei - ela disse me interrompendo e abaixando a cabeça.
Eu não acreditava naquilo, eu pensava a todo momento acordar de um coma alcólico e ver que tudo aquilo não passava de um fruto da minha fértil imaginação bêbada. Ok, não era imaginação, era realidade.
- Carol, desculpa, eu fiquei confuso agora. Não cai a ficha.
- Eu sei, eu também estou assim.
- Mas então, cadê seus pais? Você veio passear?
- Vamos conversar depois, vai curtir sua formatura.
- Não, eu estava entediado ali, vamos no carro conversar, pode ser? - eu sugeri desesperado para saber o motivo dela estar ali, parada na minha frente.
- Você que sabe - ela me respondeu com a voz ainda baixa.
Tirei a chave do bolso do smoking e fui caminhando ao lado de Carol, balançando as chaves na mão, em gesto de nervosismo e ansiedade. Nenhuma palavra foi dita até chegarmos ao carro, que estava no estacionamento no salão. Desliguei o alarme e abri a porta do carona, dando sinal para Carol entrar, dei a volta no carro, respirei fundo e entrei do outro lado, no banco do motorista. Ela estava sentada com a cabeça baixa e os olhos fechados, parecia triste ou algo do tipo. Acendi a luz no carro pelo fato da escuridão que fazia naquele estacionamento, e falei:
- E então, vai me explicar tudo?
Ela abriu os olhos, respirou fundo e mesmo sem me encarar, ela começou a falar.
- Eu não sei Daniel, eu não me adaptei na cidade, no país, foi tudo muito diferente. Não era o que eu queria, e eu falava isso todos os dias para a minha mãe, até ela decidir me mandar de volta.
- Só você voltou?
- Sim. Meus pais ficaram lá, e acredite, isso me fez mal.
- Eles não entenderam sua vontade de voltar?
- Sei lá, mas ela não queria voltar, e disse que se eu continuasse em um lugar onde eu não queria, não iria dar certo.
- E como você está?
- Passou um pouco o nervoso, mas não sei. Odeio quando meus pais não me entendem.
Eu não disse nada, e vi Carol me olhar nos olhos pela primeira vez ali no carro. Ela estava com cara de cansada e parecia triste, eu não queria ficar tocando no assunto, mas estavamos ali para conversar, certo?
- E aonde você irá morar?
- É claro que meus pais vão me ajudar financeiramente, eu aluguei um apartemento perto da casa onde a gente morava e vou ficar lá.
- Vai morar sozinha?
- Vou.
- E você pode já?
- Não.
- Os bombeiros vão fazer plantão na porta então? - eu disse sem pensar, e incrivelmente, tirando um sorriso idiota dela.
- Besta.
Eu sorri idiota também pelo tal feito conseguido. Acho que ninguém do mundo, inclusive eu, saberia descrever o que eu sentia vendo-a sorrir daquele jeito. Ficamos em silêncio por um tempo, eu queria falar tantas coisas, mas não sei, eu não conseguia.
- De quem é esse caro que estamos? - ela perguntou depois de ter percebido isso horas depois.
- Eu ganhei.
- Sério? Que legal. Da mamãe?
- É, e do meu pai também.
- E você pode dirigir já?
- Não.
Ela sorriu novamente, dessa vez um pouco mais tímida. Outra parada silênciosa predominou naquele carro por uns dois minutos. Isso me deixava nervoso, mas juro que não saía uma palavra da minha boca. Ela virou o corpo para mim, apoiando a perna no banco, e finalmente disse alguma coisa para quebrar o silêncio.
- E você, está tudo bem?
- Acho que sim - eu respondi sem conseguir dizer muita coisa.
- Acha?
- Ah Carol, aconteceu muitas coisas nesses últimos três meses. Eu meio que me perdi sabe? E confesso que nem sei o porquê.
- Coisas tipo aquelas que o Gustavo me contava todos os dias?
- Talvez.
O clima ficou meio pesado, mas logo eu voltei a falar.
- Eu queria mudar algumas coisas. Se eu soubesse que você não iria gostar da Inglaterra eu nem te deixava ir.
- Mesmo?
- Sim.
- Eu também. Eu queria ter certeza de que lá não era o que eu queria e precisava, aí eu teria ficado e evitado algumas coisas.
- Evitado algumas coisas?
- É.
Eu não perguntei nada, apenas a vi voltar seu olhar e seu corpo para frente. Eu fiz o mesmo, e logo depois eu senti necessidade em perguntar uma coisa, totalmente de repente, e totalmente desnecessário.
- Você ficou com alguém lá?
- O que?
- Lá em Oxford, ficou com algum menino?
- Não - ela respondeu parecendo um pouco irritada.
- Ah sim - eu disse dando espaço para mais alguns minutos sem diálogo.
- E você, tem ficado com alguém a não ser Giovana? - ela perguntou me deixando surpreso.
- O quê? Para meu, se você realmente conversou com o Gustavo você sabe muito bem que eu não fiquei com Giovana, a única coisa que ela fez esse tempo que você foi embora, foi se aproveitar ao máximo de mim. Eu quero distância dessa menina.
- Seu olho fica especialmente azul quando fica nervoso.
Ela disse sorrindo e logo depois me fazendo sorrir também. De verdade? Ela quase me matou fazendo essa pergunta.
- Falando nisso, você cuidou bem dele para mim? - Carol perguntou me fazendo lembrar de que meus olhos eram dela, e que eu deveria cuidar deles enquanto ela estivesse fora.
- Cuidei sim, e meu coração, como está?
- No momento ele está bem acelerado.
- Nossa, cuidado com ele.
Mas um sorriso surgiu nos nossos lábios espontâneamente. Enquanto encaravamos à frente do carro, uma música começou a tocar lá dentro do salão, nós eramos capazes de ouvir ali de dentro, e a música era Wonderwall, do Oasis.
- Essa música me lembra da praia - eu disse me lembrando de quando havia tocado para ela aquela vez.
- Me lembra também.
Ficamos ouvindo, e Carol cantarolava baixinho com a cabeça encostada no banco.
- Volta lá para a formatura Daniel, eu só queria conversar - ela disse séria enquanto eu ainda permanecia intacto no banco.
- Não sem você - eu disse tirando um olhar assustado dela para mim.
- O que?
- Vamos lá.
- Jamais, as meninas estão de vestido curto e salto alto e eu aqui, de jeans. Sem chance Daniel.
- Vai, só nessa música.
- Não Daniel.
Eu olhei malicioso para ela e ela ainda estava com a cara assustada com o meu convite.
- Você não vai me fazer te levar lá a força não é?
- Não, e eu não vou, de verdade, para com essas idéias.
Eu abri a porta do carro e me levantei. Ela permaneceu sentada, e eu dei a volta no carro até o banco do carona. Abri a porta e ela se encolheu no banco parecendo um bicho se escondendo. Eu segurei em seu braço e a puxei para fora, ela resmungava e ria, mas eu fingia nem estar ouvindo, muito menos ligando para o que ela queria ou não. Consegui tira-la do carro, segurei firme em seu braço e fechei a porta, logo depois trancando-as. Guiei ela até a entrada do salão e enquanto entravamos, um mar de olhares de voltou para nós dois. Todos estavam dançando em pares. Ela segurou minha mão, estava fria, se escondeu atrás de mim e foi me seguindo até o meio do salão. Virei ela para mim e coloquei minha mão na sua cintura, timidamente ela pousou suas mãos no meu ombro.
- Para de tremer Carolina - eu disse sentindo suas mãos tremendo no meu ombro.
- Essa música não ajuda.
Ainda tocava Wonderwall, e realmente, aquela música era tensa, me dava saudade daqueles dias.
O salão estava lindo, todos aos pares, inclusive meus amigos, dançando. Sorri meio bobo ao ver Vinicius junto com a Jenifer, ficava um casal realmente bonito, mas aposto que durava só aquela noite. Ou não, vai saber, o clima era romântico ali.
Apertei de leve a cintura de Carol, e puxei para mais perto de mim, fazendo-a encostar de leve seu rosto do meu peito. Nós balançavamos o corpo de um lado para o outro, e eu estava ficando drogado com o perfume dela, e com ela também. Saudade, sabe o que é isso? Então. Continuamos juntos e dançando, abaixei um pouco a minha cabeça até chegar em sua orelha, onde falei qualquer coisa sem sentido, e logo depois dei um beijo de leve. Dei um sequência de beijos da orelha até o rosto dela, ela permaneceu virada, sem me olhar, e sem me corresponder também.
- Olha pra mim - eu soprei novamente perto de sua orelha.
Ela desencostou o rosto do meu corpo e me encarou, me deixando completamente bêbado com a beleza dela. Ela continuava com as mãos trêmulas no meu ombro, e eu com as minhas mãos em sua cintura.
- Saudade feiosa - eu disse tirando um sorriso dela.
- Saudade também feio - ela me respondeu abaixando um pouco o olhar.
Fiquei olhando para ela por um tempo, e logo depois aproximei meu rosto do dela, para beija-la. Ela virou o rosto levemente para o lado, me fazendo beijar sua bochecha. Aproveitei da situação para junta-la ao meu corpo novamente, apertando um pouco mais forte dessa vez. Insisti em beija-la e mais uma vez dei um beijo, no canto da sua boca. Ela me olhou de perto nos olhos, lentamente se aproximou de mim, unindo o meu nariz com o dela. Carol fechou os olhos e eu continuava encarando-a, me aproveitei mais um vez da situação para dar um beijo, de verdade dessa vez.
Um pouco mais de três meses que nossos lábios não se encontravam, e melhor que da primeira vez que nos beijamos, foi naquela noite que eu percebi o quanto precisava daquilo, e o quanto aquilo era bom, para mim e para o meu coração. As mãos dela continuavam tremendo, e dessa vez um pouco mais. Eu brincava com os lábios dela e ela fazia o mesmo, dei leves mordiscadas em sua boca, fazendo-a sorrir enquanto nos beijavamos.
- Insuportável - ela disse desunindo nossos lábios por um segundo e logo depois unindo-os novamente.
- Ridícula - eu disse fazendo o mesmo com ela.
Ela sorriu e eu também, e continuamos no nosso mundo. Onde qualquer salão de festa de formatura ficava completamente vazio em nossa mente. Onde eu encontrava o meu melhor, e ela correspondia as minhas vontades. Onde eu só conhecia uma paz, e esta tinha o nome de Carolina. Dois mundos, unificados pelo amor.
Depois de longos minutos com os lábios unidos, nós nos separamos por conta da luz que havia acendido, e pelas músicas tranquilas que haviam acabado. Eram cinco horas da manhã, e qualquer sinal de sono havia sumido completamente. Dei a mão para ela que ainda estava tímida no meio da festa, Gustavo se aproximou de nós tirando um sorriso enorme de Carol, que não demorou muito para ir de encontro dele e abraça-lo.
- Não acredito que você veio - eu ouvi Gustavo dizer para ela.
- Nem eu - ela respondeu ainda abraçada nele.
- Então, já chega né? - eu disse se intrometendo no abraço dos dois e os separando-o.
Eles sorriram e se encararam por algum tempo, mas eu fiz questão de acabar com aquele momento melhores amigos, tanto Gustavo quanto Carol eram meus, só meus. A festa continuava rolando, e para a minha surpresa, ainda tinha bastante gente no salão, algumas meninas descalças, os meninos bêbados tentando se mostrar para as meninas, uma coisa linda, sabe? Gustavo saiu de perto de nós e foi com os outros meninos, e quando eu olhei, só Vinicius estava com a garota da noite ainda, ainda.
Fui para mais perto de Carol que estava um pouco longe de mim. Coloquei meu braço no ombro dela e fiquei olhando para o mesmo lugar que ela olhava.
- Acho que sua amiga arrumou um namorado - ela disse vendo Giovana aos beijos com Fernando.
- Para de falar que isso é minha amiga.
Ela me olhou com cara de tédio e eu fui logo tratando de abraça-la, apenas a girei de frente para mim e coloquei meu outro braço no seu outro ombro, deixando a cabeça dela praticamente esmagada. Depois de alguns segundo assim, eu me afastei dela e segurei seu rosto com as duas mãos, dei um selinho rápido nela e perguntei:
- O que você tem?
- Nada, porque?
- Ta bom senhorita Carolina. Ficamos longe um tempo mas eu ainda te conheço bem.
- Ah Daniel, eu estou legal, só estou tentando me acostumar com essa minha idéia.
- Que idéia?
- De ter voltado, morar sozinha etc.
- Vai ficar tudo bem - eu disse vendo-a encostar seu rosto no meu peito.
- A propósito, o senhor está muito elegante de smoking.
- Sério? Eu me achei com cara de pinguim.
Mesmo sem poder ver seu rosto, pude senti-la sorrir. Eu não sabia mais aonde que eu estava, se era sonho, realidade, se iria ficar tudo bem, mas de qualquer forma, eu só queria aproveitar esse presente, esse tempo que eu estava com ela. Peguei ela nas mãos e comecei a andar em direção a porta do salão, ela não perguntou nada, apenas me seguiu em silêncio. Depois de sair do salão, eu a encostei em uma parede ali fora, onde não havia ninguém, e comecei a beija-la, um pouco mais sério dessa vez. Toda a vontade e saudade que eu estava dela, saiu naquele beijo. Todo o ar que eu tinha nos meus pulmões acabaram, mas mesmo assim eu não tinha coragem de largar ela, nossos lábios brincavam um com o outro, suas mãos envolviam o meu corpo, e eu segurava a minha mão na dela, que tremiam e permaneciam frias. Eu mordi de leve seu lábio inferior e o puxei lentamente para frente, e em questão de segundos separados, eu fiz o favor de unir nossa boca novamente. Tudo era perfeito quando eu estava com ela, incrível. Enquanto permaneciamos unidos, um leve gosto de água salgada se misturou ao nosso beijo, e mesmo sem parar de beija-la, levei as mãos até os olhos de Carol e enxuguei as lágrimas que escorriam deles. Depois de mais algum tempo eu separei nossos lábios, e o nariz e a boca dela estavam completamente vermelhos, e dos olhos, algum sinal de lágrimas pesadas ainda insistiam em partir.
- Não chora Carolzinha – eu disse segurando suas duas mãos e balançando-as de um lado para o outro.
- Eu estou tentando, mas é difícil - ela disse soltando uma das mãos e enxugando as lágrimas.
- O que está acontecendo?
- Quando eu fui embora, você me disse que nós sabiamos lidar com a perda. Eu perdi você indo embora, mas eu voltei, e agora perdi meus pais.
- Você só está longe deles, mas eu tenho certeza que eles te amam Carol, não fica pensando nisso. E outra, se eles deixaram você voltar, é porque eles querem o seu bem.
- Tudo que eu ficava sabendo de você enquanto eu estava fora, era que você estava mal, praticamente acabando com a sua vida, eu não entendo porque você me prometou que ficaria bem.
- Eu disse isso pra você ficar bem. Eu menti mesmo, mas como eu diria à você que não ficaria bem? Não te faria mal? Eu tiraria de você a oportunidade de pelo menos conhecer um novo lugar onde você poderia ter uma vida bem melhor, se você não gostasse e voltasse não importa, pelo menos você estava lá para garantir que não era aquilo que você queria. Agora se eu falasse que ficaria mal sem você aqui, você iria querer ir embora?
- E deixar você mal do jeito que ficou? Jamais.
- O seu sacríficio por mim seria bem maior do que o meu por você.
Embora as lágrimas ainda escorriam pelo seu rosto, ela sorriu e me deu um abraço, seguido de um beijo profundo, no qual eu me perdi vendo-a mais uma vez, tão perto de mim.
Felipe chegou gritando no meio do nosso momento.
- Vamos embora cambada, a festa acabou.
Meu amigo é o cara mais animado para balada, estava bêbado e chamando nós para irmos embora. Ótimo. Gustavo, Vinicius e Felipe já foram pro estacionamente se apossar do meu carro. Carol estava junto comigo ainda, rindo da animação dos meninos.
- Posso te levar para casinha nova? - eu perguntei para ela que sorriu para mim.
- Nossa, estou até com medo, só vi por foto.
- É apartamento imobiliado já?
- Sim sim.
- Mas então, posso leva-la?
- Vai ter espaço no carro para mim? – ela perguntou olhando torto para os meninos montados no carro.
- Claro que sim.
Segurei na mão dela e fomos em direção ao carro. Felipe e Vinicius estavam caídos no banco de trás, Gustavo se apossava do banco do carona, mas eu fiz questão de tira-lo dali.
- Vai para trás Guh, a Carol vai na frente comigo.
- Nossa, mal voltou e já tomou meu lugar de novo? – ele falou tirando uma gargalhada de todos.
- Não Gustavo, pode ficar, eu vou aqui atrás – ela disse tentando ser educada, e como sempre, sem querer causar problemas.
- Com dois bêbados loucos? Jamais.
Ela começou a rir e Gustavo com uma cara de tédio, cedeu o lugar da frente para Carol. Foi uma bagunça enorme, é claro, liguei o som e o Felipe cantava igual um retardado lá trás.
- E aí meninos, muitas gatinhas na festa? – Carol perguntou tirando um grito bem gay do Felipe.
- Nossa Carolzinha, perdi as contas de quantas eu peguei – Felipe resmungou lá no fundo, completamente bêbado.
- Cala boca cara, você já ta bem louco aí – eu gritei para ele, fazendo ele mesmo rir da própria situação.
- A verdade, é que eu não vivo sem essas belezinhas sabe? São minha vida, não posso fazer nada se elas são gostosas e beijam bem.
Ok, meu amigo fala muita merda as vezes, ainda mais com uns copos no currículo. Carol olhou completamente assustada para o banco de trás, rindo junto com todo mundo.
- Então é isso que os meninos pensam quando ficam com uma garota?
- Não, só alguns idiota, tipo o Felipe – Gustavo disse tentando fazer ela acreditar que a maioria dos meninos se lembram de quem eles ficaram em cada balada.
Depois de um tempo só rindo dentro daquele carro, eu parei em frente a casa de Vinicius, que foi o primeiro a ser entregue, em seguida Felipe e depois Gustavo. Pedi para Carol me falar aonde ficava o apartamento novo dela, e então chegamos lá em pouco tempo.
- Acho que é aqui bonitinha – eu disse avistando um prédio super chique, novidade.
- É, também acho. Obrigada Dan.
- Promete me ligar caso você ache um rato, ou coloque fogo em alguma coisa?
- Ai besta.
- Promete?
- Prometo.
Dei um sorriso e caminhei meu corpo para mais perto dela. Beijei seu rosto e logo depois os seus lábios, acariciei seus cabelos com uma das mãos, e ela segurou meu rosto com a dela.
- Obrigada de novo – ela disse me dando um selinho logo em seguida.
- Não precisa agradecer.
Nos beijamos mais um vez, antes dela sair do carro, eu dei um beijo no ombro dela, ganhando de recompensa, aquele sorriso, que iria me matar qualquer dia desses. Ela saiu do carro e fechou a porta, eu abri o vidro para acompanha-la até a entrada, mas antes, ela me olhou da janela e disse:
- Vou dormir com os seus olhos hoje.
- E eu com o seu coração.
- Eu te amo Daniel.
- Eu te amo também Carolina.
Nossa, pausa para o meu coração naquele momento. Uma onda de calafrios percorreu pelo meu corpo, sabe a sensação do primeiro beijo? Então, dez vezes pior. Esperei ela entrar no apartamento para eu finalmente ir embora pra a minha casa. Dormir? não, obrigado.
Eu mal sabia que dia era. Não imaginava se era de manhã ou de tarde, se eu estava em casa ou não, se a noite passada era um sonho ou realidade. Depois de uns cinco minutos que eu já havia aberto os olhos que eu me dei conta de tudo. Era um dia após o melhor de toda a minha vida, eram duas horas da tarde, eu estava em casa, e a noite passada era realidade. Me espreguicei, alonguei um pouco os músculos e quando levantei, caí novamente na cama. Eu não havia dormido muito bem, só algumas horinhas, mas o sono estava me matando naquele momento. Tomei coragem para levantar e fui até lá em baixo, onde minha mãe já estava almoçando.
- Bom dia mãe.
- Bom dia filho, dormiu bem?
- Dormi pouco, mas muito bem – eu disse tirando uma expressão de dúvida do rosto dela.
- E posso saber porque dormiu tão bem?
- A Carol mãe, ela voltou.
Ela estava tomando o café, e quase cuspiu na minha cara do susto que ela havia levado.
- Como assim Daniel? A Carol? – ela perguntou sem acreditar no que eu acabara de falar.
- É mãe, ela voltou da Inglaterra.
Minha mãe fez mil perguntas sobre o assunto, e eu respondi tudo como ela queria, contei da formatura etc.
- E se a senhora não se importa, eu estou indo ver ela – disse me levantando da mesa.
- E aonde a senhora Carolina está morando?
- Em um apartamento, perto da casa onde moravam, sozinha.
Nem esperei minha mãe falar muita coisa e já fui para meu quarto pegar o skate. Não, eu não iria de carro, eu precisava de ar e um pouco de aventura. Nossa, que aventura Daniel. Enfim. Troquei de roupa, peguei o meu skate e parti. Conforme eu andava nas ruas, o apartamento dela parecia estar cada vez mais longe, mas nem que fosse na Inglaterra, eu iria. Se bem que é meio impossível ir de skate até a Inglaterra, ok. Continuei andando, sentindo a brisa, bem tranquilo, até um filho da puta de um cachorro cruzar o meu caminho. Eu caí ridiculamente feio, meu skate foi longe e eu bati as costas no meio fio. Olhei para os lados e graças a Deus aquela rua era deserta, tinha apenas uma senhora que perguntou se eu estava bem e logo seguiu seu caminho. Minhas costas estava doendo, mas eu continuei, estava perto da Carol já.
O hall do apartamento era uma das coisas mais elegantes que eu já havia visto em toda a minha vida. O porteiro me indicou o andar e eu subi. Quanto ao elevador, eu prefiro nem comentar que ele parecia a minha casa inteira. A porta do apartamento da Carol então, bem, deixa pra lá.
- Oi bonitinha – disse abaixando meu corpo em forma de cumprimentos ao ve-la abrir a porta.
- Oi Dan, entra.
Entrei em sua “casa” que não era enorme, enorme, mas era muito linda. Móveis pouco sofisticados e tudo perfeito, chegava a dar nojo. Mentira.
- Como você está? – Carol perguntou se aproximando de mim.
- Tirando uma coisa que aconteceu vindo para cá, eu estou bem, e você? – retribui a pergunta segurando-a na cintura.
- Estou legal, confesso que assustada pela primeira noite aqui, mas acho que hoje vai ser melhor, mas, o que aconteceu com você?
Comecei a rir imaginando a cena dela com medo dormindo sozinha pela primeira vez na casa nova. Puxei ela para mais perto e dei um beijo em seus lábios, logo depois uma sequência de beijos no rosto e pescoço dela.
- Você viu meu meio de locomoção? – eu disse indo em direção a porta, onde havia deixado meu skate.
- Não, o que tem ele?
Peguei o skate novo que ela havia me dado antes de ir embora e mostrei a ela, que sorriu e foi mais perto para ficar admirando a beleza daquela coisinha maravilhosa.
- Confesso que comprei porque te vi babando nela aquele dia, não tinha reparado no quanto era bonito, esse, shape?
- Shape, isso.
- Eu já disse que tive um ótimo professor de skate né? – ela disse mordendo o lábio.
- Disse, mas é legal ouvir – confirmei indo em direção a ela e a beijando novamente.
- Para Daniel, o que aconteceu com você vindo para cá? – Carol perguntou me empurrando para trás.
- Então, eu caí de skate e bati minhas costas no meio fio, nada de mais.
- Como assim nada de mais?
Ela ficou desesperada e logo me virou de costas em uma tentativa de ver se eu estava bem, confesso que me assustei com o grito que ela deu depois de ver.
- Daniel, está sangrando, calma, vou pegar uns curativos – ela disse saindo correndo para algum lugar.
Ela voltou com praticamente um hospital em mãos.
- Vem aqui – ordenou ela me puxando pela mão.
Ela subiu no sofá e me colocou em sua frente para poder ver melhor o machucado, fiquei rindo por isso, e olha, ela nem é baixinha, juro. Ela puxou minha camiseta para cima e começou a espirrar uns sprays em minhas costas, aquilo ardeu pra caralho, mas tudo bem. Logo depois ela colocou uns curativos e eu estava novo, ou quase.
- Acho que vai ficar melhor – ela disse descendo do sofá com minha camiseta em mãos.
- Eu espero, você é uma boa enfermeira.
Ela foi até um cômodo e jogou minha camiseta lá dentro, e quando ela voltou eu a abracei e comecei a beija-la. Depois de um bom tempo mordendo a lingua dela, nós nos separamos e ela olhou para a minha barriga. Merda.
- O que é isso? – ela perguntou apontando para a cicatriz que Giovana havia deixado por ali.
- Isso é um arranhado.
- Isso eu sei Daniel, mas quem fez?
- Ah Carolzinha, é uma longa história.
- Pode começar – ela disse se sentando em uma poltrona e cruzando os braços.
Expliquei toda a história para ela, algumas caras que ela fazia realmente me assustavam, mas depois de um breve silêncio, ela me entendeu.
- Vou fingir que nós não estávamos juntos quando isso aconteceu – Carol disse olhando para qualquer lugar e fazendo bico.
- E nós estávamos por acaso?
- Não.
Eu ri da fala dela, e logo depois ela não aguentou e caiu na risada também. Voei para cima dela naquela poltrona e a beijei e abracei bem forte. Fiquei um tempo sentado no colo dela e em um momento ela fixou os olhos no arranhado da minha barriga.
- Para de ver isso, é um recordação triste – eu disse pousando a mão sobre o machucado.
- Não estou olhando para o arranhado, estou admirando sua barriga sarada – ela me encarou mordendo o lábio e eu logo fiz questão de ir dar uma mordida nela.
Ficamos mais um tempo ali e depois ela decidiu me mostrar o apartamento. Uma cozinha toda elegante, a sala com sofás e poltronas enormes, e um televisão de 42”, um escritório (desnecessário), uma suíte com uma cama de casal enorme também, um closet, e uma varanda maravilhosa. Era pequeno, mas muito confortável e bonito pra caramba. O preço para morar ali eu preferia nem saber.
- Carolzinha, vou embora.
- Mas já? Está cedo ainda.
- Sim, mas eu marquei uma hora pra corta o cabelo, é bom de vez em quando né?
- Ah sim, embora eu te ache bonito de qualquer jeito. Eu e o resto do mundo.
- Besta, odeio quando você fala que eu sou bonito, isso me ilude.
- Ok Daniel feioso de um metro e oitenta de cinco de altura, cabelos claros, olhos azuis, corpo bonito, sorriso perfeito – Carol disse me fazendo rir.
- Ta bom então, Carolina ridícula de um metro de setenta, cabelos castanhos lisos com as pontas um pouco loiras, de olhos castanhos sedutores, do corpo perfeito, sorriso encantador e voz de anjo – eu repeti sua idéia destacando suas principais qualidades, todas no caso.
- Corpo perfeito foi ótimo Daniel.
- Corpo perfeito sim. Você não é do tipo gostosa, das pernas grossas e peitos explodindo para fora da blusa, é perfeito, sem mais.
- Fico feliz em saber que você fica observando meus peitos.
Eu sorri tímido e acho que fiquei meio vermelho na hora. Não posso mentir, todos os meninos fazem isso, e as meninas também fazem entre ela, porra, é a natureza.
Carol me levou até a porta e nos despedimos por ali mesmo, antes de sair eu precisava dizer uma coisa muito séria, que ela sorriu ao ouvir, e eu também sorri ao falar.
- Eu te amo amor.
- Eu também meu anjo.
Peguei o skate e dei as costas em direção ao elevador. Eu estava lá dentro, mas ainda podia ve-la na porta, ouvi um ‘psiu’ e olhei, era ela.
- Eu estava com saudade de ouvir você me chamar de amor.
Quando ela terminou a frase, o elevador estava fechando, mas eu impedi que isso acontecesse colocando a ponta do skate na porta, fazendo-a abrir novamente. Deixei o skate do lado do elevador e fui correndo até a porta do apartamento dela, tirando uma expressão assustada e um sorriso maravilhoso. Abracei ela pela cintura dando uma leve abaixada no seu corpo e comecei a dar selinhos nela.
- Sério amor? – perguntei e logo depois dei outro selinho.
- Sério – ela respondeu em uma das pausas de beijos.
- Que bom amor, fico feliz amor, eu te amo muito amor, vou ficar com saudades amor – eu dizia entre o espaço de um selinho e outro, fazendo-me beijar mais os seus dentes lindos do que os lábios, de tanta risada que ela dava.
O último foi um selinho mais profundo e antes que ela pudesse recuperar o folego e falar algo, eu já estava dentro do elevador, com meu skate, indo embora.
Passei no lugar onde eu cortava meu cabelo e tirei um pouco o excesso, cansei de ser Edward Cullen, eu estava mais para David Beckham, quando tinha seu cabelo arrepiado. Ok, minhas comparações são ótimas né? Eu sei, obrigado. Depois do cabelo, voltei para casa e lá fiquei, até minha mãe chegar. Depois dormir, e esperar mais um dia de verão e férias.
Sabe aquela rotina de acordar com a linda da minha mãe me chamando para levantar? Então, aquele dia não foi diferente.
- Ah mãe, estou com preguiça.
- Filho, acorda, eu quero conversar com você.
Tudo bem, ela me deixou assustado com a seriedade que ela falou essa frase. Meu cabelo super amassado, minha barriga marcada (típico de quem dorme agarrado em um travesseiro) e a samba-canção lá no joelho praticamente. Levantei o corpo, ficando sentado na cama, minha mãe se sentou ao meu lado e colocou a mão da minha barriga, e ficou fazendo carinho. Ta, parei de contar esses detalhes desnecessários.
- Fala mãe – disse com a voz ainda rouca devido ao sono.
- Filho, é uma coisa que vem acontecendo por uns dois meses. Eu nunca te contei porque eu não sabia o melhor jeito, e porque não era nada sério no momento, mas agora ficou sério e eu preciso de contar.
- Ta bom mãe, você está me deixando nervoso, conta logo.
- Eu conheci uma pessoa – ela disse me deixando assustado com o tal assunto.
- Como assim mãe?
- No trabalho, eu acabei conhecendo uma pessoa, a gente saiu algumas vezes e acabamos nos conhecendo melhor.
- Um namorado mãe, é isso? – eu perguntei alterando um pouco a voz.
- Talvez.
- Um namorado? Você está brincando comigo né? – perguntei sem acreditar no que estava escutando.
- Ele é uma pessoa ótima Daniel.
- Meu pai era uma pessoa ótima mãe.
- Filho, me escuta. Eu sabia que a primeira coisa que você iria falar era sobre o seu pai. Não tem nada a ver uma coisa com a outra Daniel, eu amei seu pai e ainda amo, mas o que eu posso fazer? Chorar pelo resto da vida por ele não estar mais aqui? Eu preciso de alguém para ficar do meu lado, e a primeira pessoa que eu me interessei desde a morte do seu pai foi essa cara filho, me entende.
- Mãe, de verdade, isso não dá para mim. Você tem a mim, para ficar com você todos os dias, você pode me chamar para jantar com você sempre que quiser, eu vou com você, não é necessário outro cara. Para com isso mãe, eu não vou olhar para um cara que deveria ser o meu pai.
- Daniel, eu tenho que ter a chance de tentar, eu não posso ser feliz um pouco na vida?
- Sua felicidade está só em mim e no meu pai. Ele sempre me falava de você e no quanto você era importante. Se meu pai deixou uma missão para mim, eu tenho certeza que esta é cuidar de você.
- Mas filho, cuidar não é me proibir de viver.
- Não mãe, não dá, sério. Eu não quero te ver saindo com alguém enquanto... – as palavras faltaram quando lembrei do quanto queria meu pai ali naquele momento.
- Ta bom Daniel – minha mãe disse se levantando e saindo do quarto.
Olhei para a foto do meu pai do lado da minha cama e lágrimas novamente insistiram em escorrer pelo meu rosto. Uma dor enorme tomou conta de mim, eu não sabia o que fazer, e nem imaginava que o assunto da minha mãe seria esse.
Meu celular tocou, era Carolina.
- Amor, aconteceu alguma coisa? Sua voz está diferente.
- Não Carol, está tudo bem.
- Ta bom, e eu não te conheço.
- Minha mãe Carol, ela inventou de substituir o meu pai – eu disse ainda com a voz falha.
- O que? Como assim?
- Ela me acordou hoje e veio com um papo de ter conhecido alguém que ela esta saindo a algum tempo já.
- Um namorado?
- É.
- E o que você falou para ela? – Carol perguntou com certa preocupação na voz.
- O que eu sentia. Ela não pode Carol, e como eu vou olhar para um homem que sai com a minha mãe, sem este ser o meu pai? Não tem como, não mesmo.
- Você falou isso para ela?
- Claro que falei. E outra, eu tenho que proteger ela, cuidar dela, eu não vou deixar qualquer pessoa se aproximar dela desse jeito.
- Daniel, me escuta. Você já pensou no que você deve ter causando nela? Os sentimentos dela ao ouvir o próprio filho não aprovar uma escolha que ela fez? Ela é adulta, tem o direito de gostar, ficar, amar quem ela quiser, e o máximo que você pode fazer é apoia-la.
- Não Carol, e o meu pai?
- Ela o ama, mas ele não está aqui, vamos encarar a verdade. Olha o tempo que ela demorou até decidir levar a frente a vida sem ele. O amor dela por seu pai vai ser pra sempre Daniel, mas isso não a impede de amar outras pessoas. A felicidade está nas mãos dela, e ela tem o direito de entregar para quem ela quiser.
- Eu não sei.
- Claro que sabe. Você se sente na obrigação de cuidar, mas isso não é cuidar amor. Deixa ela viver um pouco, ela sabe o que está fazendo. E tem outra Daniel, coloque-se no lugar dela, se você chega para ela e conta que estamos namorando, ela te tira a felicidade dizendo que não é para você fazer isso, e aí? Você não iria ficar mal, triste por sua mãe não te apoiar? É claro que ficaria.
- Mas eu não fui casado, e minha esposa não faleceu.
- E é por isso que ela precisa de mais força e apoio ainda. Por favor Daniel, vá falar com ela, pede desculpas, aceita isso.
- É difícil Carol.
- Mas não é impossível. O máximo que você pode sentir vendo-a com outro homem é ciúmes, mas e ela? O que vai sentir sem ninguém pro resto da vida?
- Ela tem a mim.
- É diferente meu anjo. Todo mundo precisa de um amor para viver, de carinho de alguém que está gostando. Por favor, ela faz tanta coisa por você, faz isso por ela.
- Eu vou falar com ela.
- Isso, pede desculpas, por favor.
- Obrigado amor, de verdade meu, eu não existiria sem você.
- Eu te amo.
- Eu também.
Desliguei o celular e as palavras da Carol realmente haviam me aberto os olhos. Eu não poderia magoar alguém que me apoiou a vida inteira, que foi minha vida, minha segurança, minha mãe, meu pai e meu tudo. Eu iria me desculpar.
Desci as escadas e antes de terminar, já pude ve-la no sofá, com os pés em cima da mesa de centro. Me aproximei um pouco mais e ela estava com as mãos no rosto e os olhos fechados.
- Mãe? – chamei cuidadosamente para não assusta-la.
- Oi filho – ela disse enxugando levemente algumas lágrimas e se sentando normalmente no sofá.
- Mãe, me desculpa – pedi vendo-a chorar um pouco mais.
Aquilo me machucou tanto, eu me sentia um monstro ridículo por ter feito aquilo com ela. Me sentei perto dela e a abracei forte, sentindo-a soluçar. A dor que eu sentia era tão grande dentro de mim, que saiu em forma de lágrimas.
- Olha para mim mãe – eu pedi segurando na mão dela – Me desculpa.
- Não existe isso Daniel, um filho não pede desculpas para a mãe, independente de qualquer coisa, você não conseguer me deixar com raiva de você ou algo do tipo, não se desculpa, você não fez nada.
- Claro que fiz mãe, olha o jeito que eu tratei você lá no quarto.
- Tudo bem, já passou.
- Para de ser assim mãe, não passou. Eu não deveria ter falado aquilo para você, você tem que ter a chance de tentar, como você mesma disse, eu não sou ninguém para de impedir de ser feliz.
- Talvez você tenha razão.
- Não mãe, eu não tenho razão. Faça o que você quiser desde seja bom para você, não pense no que eu vou achar. E quanto a um namorado, eu vou achar ótimo, por favor, esquece o que eu te falei, eu fiquei com a cabeça quente na hora.
- Sério?
- Sério mãe. A minha felicidade, a felicidade do meu pai é em primeiro lugar a sua felicidade. Você tem o direito de fazer suas escolhas e amar quem quiser.
- Filho, quanto ao seu pai, eu amo ele, de verdade, e você sabe disso. Você não sabe o quão difícil foi para mim acreditar e gostar de alguém depois dele, mas aconteceu, e eu estou pronta para ter a opotunidade de ser feliz com alguém. Eu posso me decepcionar, mas não custa tentar.
- Minha linda, faça o que você quiser, eu fui um idiota.
- Não foi idiota Daniel, para de falar isso.
- Eu fui sim mãe. Eu não acredito que falei tudo aquilo para você depois de tanta coisa que você já me fez, eu fui um monstro.
- Já passou, agora vem aqui me dar um abraço.
Fui para mais perto da minha mãe e abracei ela por um bom tempo. Eu realmente estava errado, confesso que foi um pouco de ciúmes também, mas é que eu tinha a péssima mania de querer protege-la sempre, em tudo, e isso me fazia errar de vez em quando.
- Só espero que ele seja legal com você e que seja legal comigo também – falei antes de ir para o meu quarto tomar um banho.
Depois de arrumado e cheirosinho (ok, desnecessário) eu peguei meu celular para ligar para Carol. Contei para ela que havia pedido desculpas para a minha mãe e ela ficou feliz e agradeceu. Pedi desculpas também por ela ter ligado aquela hora e eu já ir mandando meus problemas, sem saber o motivo dela ter me ligado.
- Amor, ficar nessa casa sozinha é realmente triste e sem graça – ela disse com a voz manhosa.
- Awn linda, faça um amigo imaginário.
- Eu estava pensando nisso ontem sabia? Acho que vou fazer um namorado imaginário, ele será meu amante, ok?
- Ta bom – assenti com a voz triste, de brincadeira é claro.
- Agora falando sério Daniel, eu vou terminar com você e casar com o meu microondas.
- É? Eu posso saber o motivo por ser trocado por um eletrodoméstico? – perguntei fazendo-a gargalhar do outro lado da linha.
- Ele me salva quando eu preciso, não sei o que seria da minha fome sem ele.
- Se eu me vestir de branco e ir fazer seu almoço e janta todos os dias, promete que fica comigo e não com o microondas?
- Prometo.
Nós começamos a rir quando percebemos o tipo de conversa que estavamos tendo, mas tudo bem, o tédio é uma coisa linda que domina o meu coração. Não, não mesmo.
Faltava pouco para o começo de um novo ano. Era ano novo e a felicidade estava ali, com todo mundo. Gustavo, Felipe e Vinicius estavam em casa, como sempre, se arrumando para a virada de ano que iriamos passar em algum lugar da cidade. Desci as escadas de casa apenas com uma samba-canção para pegar o ferro de passar roupa, sou um menino prendado ok?
- Boa noite Carlos – disse cumprimentando o namorado da minha mãe.
- Oi Daniel.
- Juízo com a minha mãe nessa viajem ok? – pedi para ele que iria partir aquela noite para viajar com ela enquanto durasse as férias.
Passei pela cozinha e minha mãe estava lá tomando um copo de água, ela estava linda, nunca tinha a visto daquele jeito. Ela me parou e segurou nas minhas mãos, e começou aquele discurso de mãe, básico né?
- Por favor Daniel, não vá beber, você está dirigindo e levando todos os seus amigos. Curta bastando o ano novo, sei que você não vai dormir em casa, e eu quero te falar uma coisa muito importante agora filho.
- Não vou aceitar bala de estranhos mãe.
- Para de ser bobo, é o seguinte, se você dormir na casa da Carol, por favor filho, respeita ela, você tem dezoito anos, eu sei, mas ela é mais nova e nessa idade a menina ainda quer respeito do namorado, você entende?
- Mãe, eu não vou fazer nada, relaxa.
- Feliz ano novo então meu bebezão.
- Feliz ano novo também mãe, fica com Deus, eu te amo muito.
- Eu também te amo Daniel, muito.
Minha mãe saiu de casa com o namorado Carlos e foi para a viajem, a casa virou uma zona com aquelas moleques folgados, procurando as roupas que iriam usar até embaixo do sofá. Passei minha roupa e eu estava pronto, só faltava esperar os gays dos meus amigos terminaram de se embelezar. Liguei para Carol e ela estava pronta também, passaria no apartamento dela para pega-la depois. Eu estava satisfeito com a roupa nova que havia comprado para passar o ano novo. Era uma calça jeans escura reta de cima até embaixo, um tênis skatista, uma camiseta branca lisa com uma camisa xadrez azul por cima.
Depois de uma hora mais ou menos que meus amigos ficaram prontos, pior que mulher. Fomos para o carro e partimos sem rumo, curtir a virada do ano. Passei no apartamento de Carol e nem pude ve-la direito, ela entrou no banco de trás junto de Felipe e Vinicius que ficaram me zoando, falando que iria roubar ela.
- Nossa amor, vou trocar você por esses dois – brincava ela me deixando com um pouquinho de ciúmes.
- Vai lá, eu troco você pelo Gustavo – eu disse tirando uma gargalhada de todos.
Dei umas voltas de carro pela cidade e finalmente achamos o lugar mais cheio, bem cheio na verdade, acho que todo mundo havia decidido passar a virada ali. Era um bar butique bem legal no centro da cidade, e estava bem bonito, com todos de branco e uma paisagem bonita na frente.
Desci do carro e finalmente pude ver Carol, ela estava perfeita, especialmente perfeita. Seus cabelos lisos jogados para o lado, um vestido todo branco tomara que caia à cima do joelho que deixava sua cintura bem definida, uma sandália complexa, amarela, bem chamativa, de salto bem alto, linda, linda, linda, sem mais.
Dei a mão para ela e fomos caminhando até onde o pessoal estava. Achamos várias amigos, pessoas conhecidas e alguns colegas do colégio. Carol cumprimentou umas duzentas pessoas, nunca vi igual. Fomos até o bar comprar qualquer tipo de bebida, eu nunca tinha visto Carol beber, mas ela tomou umas coisinhas lá, moderadamente, relaxa. Eu também fui moderado né, eu estava dirigindo então tive que me conter um pouco. Eu estava sentado em um tipo de banco alto, perto do balcão do bar, e Carol apoiada na minha perna, meus braços envolviam a sua cintura e a cada instante eu fazia questão de olhar para ela. Em um dos momentos em que meu olhar se voltava para frente, pude ver um rosto conhecido no meio da multidão de gente que havia ali. Sim, era ela, Giovana. Ela também estava completamente bonita, com seus vestidos justos, um pouvo vulgares mas sua beleza também era absurda, confesso. Puxei Carol pelo braço abaixando seu rosto para mais perto do meu, falei um pouco alto devido ao barulho que fazia ali.
- Olha quem está ali – apontei para Giovana, tirando um riso de Carol.
- Nossa, ela está linda, porque ela se estraga desse jeito?
- Eu não sei também.
Continuamos olhando e demos uma gargalhada enorme depois de ver que ela ainda estava com Fernando, que apareceu ao lado dela dando um beijo em sua boca. Ok, aquele namoro deveria ser uma traição enorme, um mais chifrudo que o outro. Ta, parei de falar mal. Continuei admirando a festa e comecei a encontrar mais pessoas conhecidas ainda, ou pessoas que faziam um grande tempo que eu não via. Giovana voltou o olhar para mim e deu um sorriso, mas logo virou o corpo para o outro lado e foi em direção ao Fernando, aquilo me deixou muito feliz, sinal de que ela havia me esquecido.
- Vem casal, vai começar a contagem daqui a pouco – chamou Gustavo para irmos lá para frente do bar, onde iria ter uma queima de fogos.
A multidão que já parecia grande, ficou maior ainda com aquela aglomeração na frente do bar, vários carros com som alto parados em frente também fazia parte. Um telão que também estava exposto ali, contava os minutos restantes para o ano que logo seria velho.
Cinco, quarto, três, dois, um!
- Feliz ano novo amor.
Segurei Carol forte pela cintura e a beijei como nunca antes, de verdade, eu queria que aquele ano fosse completo com ela na minha vida. Nossos lábios pareciam mais necessitados um do outro do que qualquer outro dia, todo o ar que havia dentro de mim e dela, acabaram. Mordi seu lábio inferior e dei um sequêcia de selinhos nela, beijei seu pescoço e seu ombro, logo depois dando um abraço bem forte nela. Gustavo, Felipe e Vinicius fizeram uma roda em nossa volta e começaram a gritar, como todos faziam naquele momento. Abracei meus amigos e agradeci cada um por serem daquele jeito, perfeitos amigos para mim.
Estava uma festa realmente bonita, todos felizes. Os fogos clareavam o céu e anunciavam a chegada o novo ano. Vinicius estava com Jenifer, eles estavam ficando, nada muito sério, por enquanto. Felipe estava com duas meninas penduradas no pescoço, e nem preciso dizer que ele estava completamente bêbado. Gustavo estava tranquilo, como sempre. Deixei Carol de lado um pouco e fui até ele, que estava encarando o céu cheio de fogos.
- Gustavo – chamei vendo-o me encarar com um sorriso enorme no rosto.
- Fala meu querido.
Abracei ele e fiquei sem palavras por um tempo.
- Pô cara, você não sabe o que foi para mim esse ano. Como você mesmo disse, meu pai. Eu quero sua força esse ano novo, e quero você cuidando de mim como sempre beleza? Valeu mesmo cara, te considero pra caralho.
- Sem agradecimentos cara, você sabe que eu te amo. Feliz ano novo filho, cuida bem dessa menina que você tem do seu lado, ela é maravilhosa. E relaxa que eu já falei a mesma coisa para ela.
- Te amo velho.
Dei um tapa no peito dele e quando voltei para Carol, ela estava sorrindo vendo nosso momento melhores amigos, pai e filho, não sei ao certo o que o Gustavo é para mim.
O sorriso que eu via em todas as pessoas conhecidas ali, era relmente bonito. Giovana se aproximou de mim e me desejou feliz ano novo, e para a minha surpresa, desejou para Carol também, e confesso que aquela foi a primeira vez que vi um olhar e um sorriso sincero dela. Abracei Carol e enquanto eu a segurava forte em meus braços, falei com a voz baixa, somente para eu ouvir: “Feliz ano novo pai”. Um sentimento bom dominou meu corpo, como se meu pai tivesse me respondido, beijei Carol e falei que tinha uma surpresa para ela.
Caminhamos até o lado do bar onde eu havia estacionado o carro, entramos e eu fui até a minha casa. Ela me perguntou durante o caminho todo o que eu iria fazer, mas era surpresa. Chegamos na minha casa e pedi para que ela esperasse dentro do carro.
- O que você vai fazer? – ela perguntou curiosa enquanto eu caminhava até a porta.
- Espera ansiedade humana, eu já volto.
Entrei em casa e fui até o quintal, onde havia deixado a surpresa. Peguei a tal coisa e tranquei a casa, voltando para o carro e já observando a expressão de Carol.
- O que é isso Daniel? – perguntou ela vendo uma caixa de papelão que eu tinha em minhas mãos.
- É um amigo, para você não se sentir mais sozinha em casa.
Dei a caixa para ela que abriu lentamente, sua expressão foi linda, ela sorriu e deu um gritinho de felicidade muito bonitinho e fofo. Ela me abraçou e agradeceu pelo filhote de yorkshire que eu havia comprado.
- Eu comprei dessa raça porque é pequena, é melhor para você que mora em apartamento.
- É perfeita amor, obrigada, obrigada meu anjo, não sabe o quanto vai me fazer bem.
- E como vai ser o nome dela?
- Eu não sei, vamos pensar.
Ela ficou acariciando a cachorrinha que não parava de pular dentro do carro, ela era lindinha mesmo, mas a surpresa ainda não estava terminada totalmente, tinha algo que Carol não tinha reparado.
- Amor, não é só isso a surpresa – eu disse um pouco tímido.
- Como assim?
- Digamos que sua nova amiga tem uma pergunta pra te fazer.
- É? Como faz para ela perguntar então?
- Olha a coleira dela.
Carol ergueu a cachorrinha, segurando em sua barriga, e quando segurou na coleira em volta de seu pescoço, começou a sorrir e foi até mim, me deu um beijo muito foda e um abraço. Bem, na coleira, eu havia pendurado duas alianças, só me restava perguntar um pouco mais, formalmente.
- Então Carolina, namora comigo?
Ela sorriu novamente e segurou na minha mão.
- É claro que sim Daniel.
Tirei a cachorrinha do seu colo e dei um beijo nela. Sim, de certa forma ela tinha facilitado o processo pra mim. Carol apenas sorria enquanto me via tirar as alianças da coleira. Depois de tal feito conseguido, segurei na mão de Carol e coloquei o anel em seu dedo, logo depois, ela fez o mesmo, e nós nos beijamos mais um vez, e como se fosse comemorando aquele momento, um fogo de artifício enorme e prateado, estourou bem na frente do carro, no céu que nos deu de presente, uma chuva de prata.
- E aí, quer ir para algum lugar? – perguntei depois de um tempo ali no carro.
- Está tarde.
Eram examente cinco horas da manhã, minha cabeça estava pesada, e eu realmente precisava dormir.
- Vamos lá para casa, você dorme lá – Carol disse me convidando.
- Não vai te atrapalhar?
- Claro que não.
- Ta bom, não quer passar mais em nenhum lugar mesmo?
- Não amor, podemos ir.
Liguei o carro e fui em direção ao seu prédio. Antes, passei mais uma vez em um dos lugares com a vista mais bonita da cidade, em frente do bar onde estavamos, onde ainda se encontrava uma aglomeração enorme de pessoas, inclusive meus amigos e Giovana, que estava feliz com Fernando ao seu lado. Abri o vidro do carro e antes que eu pudesse buzinar para eles, Gustavo gritou algo do tipo: “Feliz ano novo”, formando um coral com todas as pessoas que eu conhecia dali, foi bonito.
Entramos no apartamente de mãos dadas, e a cachorrinha que ainda estava sem nome, nos braços de Carol, elas haviam gostado uma da outra. Subimos pelo elevador e Carol abriu a porta do apartamento, me dando passagem para entrar, ela soltou a cadelinha lá dentro, onde logo achou um lugar quentinho na poltrona para ficar. Carolina jogou sua bolsa em cima do sofá e eu fui até ela. Segurei em suas mãos e a rodopiei, logo dando espaço para ela se encaixar no meu abraço.
- E como foi sua virada bonitinha? Gostou? – perguntei tirando um sorriso enorme dela.
- Eu amei, e amei mais ainda o ano que passou, embora algumas coisas desnecessárias tenham acontecido, ele não poderia ter sido melhor com você do meu lado.
- O mesmo para você.
Ela me deu um selinho e logo depois tirou a camisa xadrez que eu estava usando.
- Eu vou pro meu quarto tomar banho, se você quiser pode usar o outro banheiro.
- Pode deixar.
Ela foi até seu quarto e eu fui para o outro banheiro tomar um banho também, acho que eu estava encharcado de bebida que os outros haviam jogado em mim lá no bar.
Tomei um banho um pouco longo, era como se eu quisesse tirar todos os males, para começar o ano com o pé direito, eu queria mais que tudo que o ano que estava chegando fosse perfeito, com minha vida completa, com Carol ao meu lado, me ajudando e me acompanhando em todos os momentos bons. Felipe e Vinicius para me fazerem rir quando eu precisasse, ou para achar um balada legal na cidade em um dia de tédio. Gustavo para cuidar de mim e continuar sendo meu melhor amigo, meu irmão, meu pai. Minha mãe Sandra para me alegrar e para me mimar, para ser a melhor mãe do mundo enquanto ela tenta ser melhor em tudo o que faz. E meu pai, para continuar comigo em pensamentos, para me alertar do mal caminho, para cuidar de mim lá de cima, para ser o que ele sempre foi, mesmo depois que não estava mais aqui, o meu pai, meu irmão, meu amigo, o melhor deles.
Depois de sair no banho, eu estava apenas de samba-canção, fui para o quarto de Carol, ela estava secando o cabelo com um pijama cor de rosa, abracei ela e ela desligou o secador, me encarando nos olhos, eu tinha tanta coisa para dizer vendo os olhos inocentes e sinceros dela me olhando tão profundo, mas tudo o que eu conseguir dizer foi:
- Eu te amo.
Ela me abraçou e eu a abracei três vezes mais forte. Empurrei ela até ela cair em cima da cama, eu pousei meu corpo lentamente em cima dela e a beijei profundamente, delicadamente, sem mal algum. Mordi seu lábio como sempre faziamos, voltei a beijar sua boca e logo depois seu pescoço, eu realmente poderia dormir bem agora, e acordar só no outro ano, com ela no meu lado.
Puxamos a coberta até o pescoço, fui para mais perto dela e envolvi seu corpo com meus braços, e ela fez o mesmo, colocando levemente sua perna em cima da minha. Uni a ponta do nosso nariz e fechamos os olhos, embora eu não estivesse com sono. Pude ve-la dormir no seu sono mais profundo.
Levantei da cama e andei um pouco sem objetivo nenhum. Sentei em uma cadeira confortável perto de uma mesa pequena que ficava ali no quarto mesmo, comecei a sorrir ao ver o quão bonita ela era dormindo. Fiquei encarando os detalhes do quarto sem sono algum, até meus olhos se voltarem para a mesa e ali ver, um papel e uma caneta.
Eu comecei a fazer uma lista, sobre tudo o que ela tinha feito da minha vida.
“Você me fez achar algo que nunca procurei ao certo
Me fez encontrar um amor que só existia nos sonhos dos outros
Você me fez amar incondicionalmente alguém
Me fez querer viver com você as vinte e quatro horas do meu dia
Você me fez ver o mundo com outros olhos
Me fez ter olhos só para você
Você me faz feliz
Me fez pensar em você a todo o momento
E você, pensa em mim?”
Deixei aquilo em cima da mesa, minha letra estava meio torta pelo sono que começava a chegar. Voltei para a cama e me deitei, dessa vez, encontrando o meu sono profundo.
Acordei de manhã com o celular de Carol tocando, uma música do bonita, essa daqui, fiquem escutando: http://www.youtube.com/watch?v=mcmirFseM_E . Meus olhos não conseguiram abrir devido a uma luz que entrava no quarto, Carol estava dormindo ainda, com a mão sobre a minha barriga. Ainda sem abrir os olhos, eu virei meu corpo para o lado, e com os olhos cobertos de lágrimas devido ao sono, eu pude ver um papel, não consegui ler direito pela vista embaçada, mais uma última frase dizia: “Eu penso em você todos os dias”. Sorri fraco e voltei a dormir, puxando a coberta para a cabeça, ainda sem ver sinal algum de Carol acordando.
Aquela noite eu tive um sonho. Eu estava em um parque, onde na frente, se encontrava o mar. A grama se transformou em areia, e lá estavamos nós: Eu, Carolina, Gustavo, Felipe, Vinicius e minha mãe. Estavamos correndo na areia, em direção ao mar, onde se encontrava outra pessoa nadando. Apenas quando nossos pés molharam, eu pude ver meu pai se jogando em cima das ondas. Fui correndo até ele e o abracei, ouvi ele dizer que estava com saudade de mim, e eu disse o mesmo para ele. Todos estavam parados na beira do mar, vendo eu e meu pai juntos. Conversamos sobre tudo, ele me falou sobre cada pessoa que estava ali, nos vendo ser pai e filho pela última vez, todos sorrindo e felizes. Um barco de pescadores se aproximou de nós dois, e chamou meu pai para ir com eles, embora eu tivesse ficado um pouco ruim por ele ter que partir, eu deixei ele ir, dando de último gesto, um abraço bem forte, a última coisa que eu pude ouvi-lo dizer já partindo para o meio do oceano, foi algo como:
- Confie nesses que estão com você, a sua vida está neles. O amor unifica várias vidas, unifica pessoas diferentes, ele é capaz de nos unir mesmo que estejamos muito longe, é como eu e você agora, vamos nos separar, mas eu sempre estarei no seu lado, porque o amor vai nos ajudar, ele vai estar presente, ele é capaz de tudo, o amor é capaz de unificar vários mundos.
Acordei do sonho, e uma onde tranquilizante dominou o meu corpo. Eu estava certo de que não existiram males naquele novo ano, talvez alguma coisa, incapaz de me abalar. Enquanto eu tivesse as melhores pessoas do mundo ao meu lado, nada importaria. Depois de um tempo lembrando de todo o sonho, lembrei de quando havia sonhado com Carol, sem ao menos conhece-la, e depois de um tempo, o sonho havia acontecido, destino ou não, foi uma coisa interessante que tinha acontecido na minha vida. Pensei em como seria encontrar meu pai novamente, impossível mas nada que eu não pudesse sonhar. Peguei meu celular que estava ao lado da cama para ver as horas, e me assustei vendo que tinha sonhado com aquilo em apenas cinco minutos. Antes de voltar a dormir, vi várias mensagens não lidas, uma era da minha mãe, uma do Gustavo, do Felipe e outra do Vinicius, eles tinham combinado algo sem a minha presença, e sorri ao ler igualmente em todas as mensagens, um convite.
- Vamos à praia?